terça-feira, 21 de junho de 2016

Os contos dos Bosques de Viena.


Lendas Escoteiras.
Os contos dos Bosques de Viena.

                      - BJ, está na hora de mudar. Não fiques assim tão nostálgico, deixe seus caminhos longos e desconhecidos passear por lugares nunca vistos. Pise no chão que é sua terra. Afinal ache outra maneira de viver. O General já se foi, eu sei que deixou um legado e que comprou a ideia de ser mais um seguidor. Mas você tem de pensar em si, está fazendo dezesseis anos, tens uma vida pela frente. Breve será um universitário a para fazer seu caminho e o seu destino. – Eu amava o meu pai e sabia que ele estava certo. Era um homem bom, educado e muito meu amigo. Eu sabia que ele tinha razão. Escotismo é bom, mas não é tudo. Sempre me entreguei em demasia e esqueci que existe outro mundo além da filosofia escoteira. – Mudei de assunto: - Pai, há meses ouço uma orquestra tocando uma valsa. Não sei qual é, Tem uma jovem linda, cabelos louros cacheados e nós dois passeamos abraçados dançando pelo salão. Um salão enorme, dos tempos antigos, e lá só eu e ela a valsarmos. – Assoviei para ele a valsa – Ele sorriu. – BJ é de Strauss, trata-se dos Contos dos Bosques de Viena. Johann Strauss II foi um grande compositor.

                  - Pai, porque não ouço outra valsa e só esta? E onde está à bela menina moça que sendo tão atraente se dispôs a dançar comigo? – Meu pai não sorriu. Olhou nos meus olhos e disse: - BJ, hoje é só um sonho, amanhã se pode tornar real, dê tempo ao tempo tudo tem sua hora e seu lugar. Quando as coisas não fizerem mais sentido e nada mais prender você, não tenha medo de trocar o roteiro. Você só descobre novos caminhos quando muda de direção. Tentei entender o meu pai, mas não consegui. A hora chegava e tinha de partir para minha reunião escoteira. Eu sempre amei o escotismo. Quando estava com meus amigos escoteiros eu esquecia de tudo e de todos. Desde Lobinho que adorava os dias de reunião, das atividades ao ar livre e os acampamentos que me faziam ser tudo que um dia sonhei. Mas mesmo lá no campo as noites na barraca eu sonhava com a mesma menina escoteira, nós dois de uniforme a dançar a Valsa que era sempre a mesma: - Os contos dos Bosques de Viena.

                   Antes do término da reunião, o Chefe Jafé pediu um tempo para nos apresentar duas jovens Escoteiras. Quase caí de costas. Uma delas era a menina escoteira dos meus sonhos. Incrível, impossível, era ela mesmo? Me belisquei para ver se estava acordado e não sonhando. Ela chegou a minha frente, aquele mesmo sorriso encantador, jogou para o lado seus cabelos loiros cacheados. – Prazer! Sou Justine, escoteira em Cidade Alegre. Estamos eu e a Isa passando férias aqui. Pedimos ao Chefe Jafé se nas férias podíamos frequentar as reuniões! Eu não sabia o que dizer. Engasgado disse um Sempre Alerta abobado. Era linda demais. Nunca me apaixonei. Nunca namorei e pensava que se fosse acontecer seria quando crescesse mais em idade e pensamento. Ela me cumprimentou com a esquerda como se estivesse cumprimentando alguém importante. Que mão deliciosa, tentei segurar, mas ela puxou o braço. Sem perceber senti seu perfume. Minha mão agora estava perfumada. – Posso ficar na sua patrulha? Ela disse. Claro que sim, falei com dificuldade. Se quiser para sempre! Ela riu de novo. Um sorriso de uma deusa vinda diretamente do Olimpo.

                      No final da tarde ela se foi, prometendo voltar na próxima reunião. Tanto tempo assim? – Olhe podemos conversar na semana? Ela sorriu e disse que não. Sua tia era exigente e só aceitou ficarmos com ela se prometêssemos não nos comprometer com ninguém. Mesmo assim pedi seu endereço. Foi uma semana saudosa, cheia de valsas, eu na esquina a olhar sua janela, sua porta esperando vê-la pelo menos de relance. O acampamento se aproximava. Será que ela ia embora antes? Uma bomba explodiu quando ela disse que iria também acampar. Amava acampamentos, amava o escotismo e era sua única maneira de viver. Deus meu! Sentir seu perfume no campo de patrulha? Não ia deixá-la cozinhar e nem cortar madeira. Aquelas mãos de seda não podia abandonar a maciez que existia em seus braços, em seu corpo.

                       Como fui feliz. Nunca pensava que podia haver tanta felicidade fora do escotismo. Mas o fim chegava, eu sabia que após o acampamento ela ia partir. Eu sabia que  dificilmente poderia ir a sua cidade. Sênior sem dinheiro, sem trabalho não podia sequer pensar em tal hipótese. Na ultima noite, no Fogo do Conselho eu só tinha olhos para ela. Sinceramente não sabia se era correspondido. Pedi ao Chefe para cantar uma canção, uma que gostava demais: - “Em meus sonhos volto sempre a Gilwell”. Quando iniciei ela se levantou e ao meu lado me acompanhou. Não sei quantas estrelas caíram do céu. Não sei quantos cometas cruzaram o espaço sideral. Sua voz era linda demais. Mas tudo que é bom dura pouco. O fogo acabou hora de recolher. Todos se foram e ali naquela clareira com a fogueira já se extinguindo, eu perguntei a ela se dançaria comigo. Ela quase desmaiou de susto. Não sabia explicar.

                        Prometi a ela que seria um cavalheiro, arrumei meu uniforme, coloquei o chapéu em um gramado, olhei para ela, fiz o gesto que um dia vi em um filme de amor. Me curvei e disse: - Linda Justine, aceite dançar comigo? – Ela riu e me deu a mão. Ouvindo a musica que não tinha som, nem sabia se havia luar, a tirei para dançar. – Cantarolava baixinho os “Contos dos Bosques de Viena”, ela espantada me acompanhou. Sabia também da musica da valsa. Rodopiamos calmamente na floresta enluarada ela sorrindo e meu coração explodindo. Ela parou! – BJ, eu também danço esta valsa em meus sonhos de amor. É você? – Deus meu! Obrigado, era um sonho de dois e não de um só. Uma palma escoteira repicou na floresta. Todos os seniores e os chefes ali estavam a nos espiar escondidos entre as árvores.


                         Foi à última vez que estivemos juntos. Foi a ultima valsa ou quem sabe a primeira. Nunca mais a vi, mas nunca desisti de sonhar. Os Contos dos Bosques de Viena ficaram na minha mente para sempre. Justine tinha vida e morada na mente do Escoteiro que se apaixonou e nunca mais deu seu coração a ninguém. Quem sabe um dia vamos nos encontrar? Todas as noites em ouço a valsa. Eu sabia que havia uma lenda que Strauss leu e compôs: - Uma certa noite um músico sonhou com criaturas fantásticas que existiam em uma floresta. Ele não sabia se era um fauno sedutor, se era o fantasma da Ninfa e uma criança que viravam um Cisne. O mito conta que estes seres mágicos pediam sempre ao maestro que fizesse uma música em homenagens a eles. E foi assim que surgiu os Contos, ou melhor, as Lendas dos Bosques de Viena!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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