“Célia”
Era uma vez... Em uma fazenda...
Uma história quase real.
Era uma casinha pequena.
Pintada de branco e cheia de flores em volta. Dois quartos. Eu dormia em um com
meu marido. Os quatro meninos em outro. Uma salinha de nadinha com uma poltrona
e mais nada. Uma cozinha estreita. Mané Vaqueiro e Tonhão construíram um
puxadinho atrás. Ali fizeram um fogão de barro, um forno de barro e o piso de
terra batida. Na frente uma diminuta varanda. Uma cadeira de balanço e um banco
de madeira. Muitos jarros de plantas. Eu amava tudo aquilo. Na varanda dava
para ver a minha horta, pujante, verduras, frutas nascendo sem parar. Tomates,
couve, cebolinha, batata doce, alface, pés de mamão, goiaba, taioba que meu
marido adorava e muito mais. Nos fundos um chiqueirinho. Limpo, sem cheiro
sempre com dois ou três capados no ponto. Mais a frente o galinheiro. Centenas
delas. Dava para colher umas três dúzias por dia.
Como a gente era feliz.
Sem preocupações das grandes cidades. Durante o dia o passear dos avestruzes,
das galinhas d’angola, um ou outro veadinho que passavam correndo, passarinhada
que escureciam o céu. Na época certa as cigarras faziam a festa. À noite então!
Coisa linda! Quando se aninhava em frente a minha casa os vagalumes aos milhares
eu apagava o lampião. Não precisava, pois eles davam conta. Um espetáculo digno
de ser ver. Nos fins de semana ele me levava para passear de barco no Rio das
Velhas até o grotão onde uma pequena cachoeira embeleza o rio cheio de
esplendor. Depois a gente descia até à foz do São Francisco. Gente, minha mente
mexe comigo ao lembrar. – Marido vamos comer um peixe? – Um pequeno, pois a
geladeira a gás está cheia. Carne de porco de vaca até de tatu e capivara
tinha. Sempre um cavalo arriado na porta. Sem pestanejar Ele montava e em pouco
tempo voltava com um pintado ou um dourado.
Vovó Lavínia era
uma grande amiga. Tinha o apelido de Vovó, mas era da minha idade. Uma Akelá de
um grupo Escoteiro da Capital. Nunca se esqueceu da gente. Foi fazer uma visita
de uma semana. Ficou lá um mês. Risos. Não sabia que ela conversava com a
natureza. Uma tarde fiquei estupefata quando ela acariciava o pelo de um
pequeno veado. Um animal arisco e nem sei como ela conseguia. Um dia a vi
conversando com dois avestruzes. Velozes não deixavam a gente chegar. Nunca
tinha visto nada igual. Mas Vovó Lavínia conseguia. Levei o maior susto quando
vi uma cobra enorme atrás dela. Gritei para ela correr, ela parou olhou para a
cobra que se enrolou toda. Vai dar o bote pensei. Impossível, Vovó Lavínia
ficou agachada e parece que falou com a cobra por instantes e ela foi embora.
Desculpem é verdade. Uma noite sentados na varanda, filharada dormindo ela pôs
os dedos na boca como a pedir silêncio. – Escutem falou baixinho. As estrelas
estão cantando no céu. Gente, na fazenda havia o mais belo céu que tinha visto.
Bilhões e bilhões de estrelas. Uma via láctea que marcava qualquer um. Fizemos
silencio. Olhávamos para o céu. Um som calmo e refrescante. Se for o cantar das
estrelas não sei, mas que era lindo era.
Quando ela foi embora sentimos uma tristeza enorme.
Um vazio grande. Tentei várias vezes ouvir as estrelas cantarem. Se ela ainda
estive ali me diria: - Amai para entendê-las, pois só quem ama pode ter ouvidos
capaz de ouvir e entender as estrelas! O tempo se foi, eu daria tudo para
voltar no tempo. Mas o tempo não para.
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