domingo, 8 de maio de 2016

O misterioso caso do Chefe Estrada.


Lendas Escoteiras.
O misterioso caso do Chefe Estrada.

                         A noite estava fresca e a brisa começou a cair. Passava das onze da noite e a fogueira estava quase apagando. Cansado do corre-corre dos escoteiros durante o dia pensei em dormir logo. O programa do dia seguinte seria um grande jogo e eu sabia que iria dar um trabalhão. Olhei as estrelas no céu e noite uma mais brilhante quem sabe me trazendo alguma mensagem. Tudo no campo Escoteiro é possível e pelo sim pelo não olhei novamente. Ali estavam anotadas muitas histórias que ouvi e contei nos últimos 20 anos. Lembrei-me de um fogo igual a este em um acampamento no Chile com dois grupos escoteiros amigos. Eu não tirava os olhos do Chefe Leopardo. Em volta do fogo da fogueira eu e mais oito chefes cantavam e contavam causos. Ele se levantou e perguntou se alguém já tinha ouvido falar no Chefe Estrada. Ninguem conhecia. – Ele está aqui no campo, eu o encontrei depois de anos e anos desaparecido. Fiquei intrigado. Quem seria o Chefe Estrada?

                   - Eu o encontrei um dia em um acampamento regional, na cantina do campo – continuou o Chefe Leopardo. Quando o vi ele sorriu e me abraçou. Nem sei por que, pois não éramos tão amigos assim. Fui logo pergunto a ele porque desapareceu do Curso da Insígnia da Madeira que fizemos juntos. Nunca esqueci. Ele sumiu no terceiro dia. Quase cancelamos o curso por causa dele. Durante um dia inteiro fizemos uma busca completa e até na delegacia fomos fazer um boletim de ocorrência. No sexto dia ele retornou. Disse ao Diretor do Curso que iria embora. Não seria honesto continuar. Pelo sim pelo não foi convidado a ficar, mas sem receber o certificado. Não quis comentar com ninguém o que aconteceu, e isto me encucou demais. Agora mais de vinte anos depois ali estava ele. Não iria perder a oportunidade. Conversa vai conversa vem, me contou o que fez nos últimos vinte anos. Trabalhou em uma multinacional Alemã, e como engenheiro de minas passou uma temporada no Amazonas fazendo um levantamento Topográfico nas margens do Rio Xingu. Procurava algum veio de minério muito procurado ultimamente.
 
                        - Olhe Chefe foi divertido – disse ele. Vinte dias na floresta sequestrado por uma tribo de índios Caiapós, próximo a fronteira do Pará com o Mato Grosso. Estava acampado com mais dois funcionários próximo ao rio Xingu. Havia uma grande jazida de bauxita e eu mapeava tudo. Levaram-nos para sua aldeia que não era longe. Em uma oca nos apresentou ao “Benadióro” uma espécie de cacique. Bom sujeito. – Disse em mau português que ficaríamos ali até o homem branco da estrada de ferro fosse conversar com ele. Eles queriam uma paga pela invasão do seu território pela ferrovia. Disse a ele que não era funcionário deles. Não adiantou. Quando a FUNAI apareceu, resolvi ficar. Valeu a pena. Aprendi com eles a caçar, pescar com armadilhas e fizemos grandes jornadas na selva. O escotismo me deu uma bagagem enorme e eu me divertia com isto. A meninada da tribo era divertida. Aproveitei para fazer patrulhas e nos aventurarmos na selva. Mas eles nem aí com formaturas só queriam se divertir.

                   Fiz uma grande amizade com o cacique Babitonga, gente fina. Cheguei a casar com a Índia Guaraci. Adorável! Um dia tive que partir. Queria levá-la comigo, mas ela irredutível não quis ir.  Disse-me que os homens brancos não se conhecem, são estranhos e ela não se sentia bem com eles. O Chefe Estrada se levantou para ir embora. Levantei também. – Chefe – Não pode ir embora sem me contar o que houve do seu desaparecimento do curso. Até hoje isto não me saiu da cabeça. Ele sentou novamente. Sorriu para mim. Vou contar a você o que nunca contei a ninguém. Se duvidar paciência. Contarei a verdade só a verdade e o Escoteiro tem uma só palavra. – Prestei a máxima atenção. Até pedi uns salgados acompanhado de um vitamina que faziam na hora. – Ele começou: - Tudo iniciou quando fui ao banheiro após a sessão do Chefe Nonato, ao pegar a trilha vi um brilho intenso. Fui elevado no ar e perdi o sentido.

                          Acordei deitado em uma espécie de prato de aço, brilhante e ao meu redor pessoas estranhas, pareciam formigas gigantes com duas pernas. – Encarei o Chefe Estrada, mas não sorri. Verdade ou não precisava ouvir sua versão. – Ele continuou – Eu tinha sido abduzido. Já tinha lido sobre isto, mas acreditar? Nunca. Vi que era uma grande nave que fazia um zumbido constante. Onde estava? No espaço? Os estranhos me olhavam e vi que tinha agulhas por todo o corpo. Eu os ouvia falando, mas suas bocas não mexiam. Parecia que os ouvia com o cérebro. Enviavam-me mensagens telepáticas me tranquilizando dizendo que em breve voltaria. Contaram-me que moravam em um planeta distante mais de vinte milhões de anos luz, e que suas tecnologias faziam com que cruzassem o espaço em velocidades que a mente não pode medir. Disseram-me que estavam há mais de um mês no espaço, mas na terra significava poucos dias.

                 - Eu olhava para o chefe Estrada e não sorria. Poderia ser verdade. – Ele continuou: - Levaram-me até um local envidraçado. Um espetáculo. A nave parecia estar parada e milhões de estrelas passavam como um raio, uma profusão de luzes brilhantes e cintilantes, em um panorama incrível. Ver tudo aquilo compensava todas minhas pequenas dores que ainda sentia pelo corpo. Fui até um salão, sem móveis, se despediram e disseram que não me preocupasse que iriam apagar tudo da memória e eu não ia lembrar-me de nada. Pedi que não fizessem aquilo. Não podia esquecer. Eles não tinham esse direito. Entreolharam-se e balançaram a cabeça concordando. Minha mente ficou nevoada. Desmaiei. Acordei no mesmo local. Daí para frente você sabe o fim da historia. Não podia contar a ninguém. Tinha prometido isso a eles.

    - A historia do chefe Estrada foi emblemática. Tinha ouvido historias assim, mas não acreditava. Agora não. Ele era um Escoteiro desde criança. E o escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale mais que sua própria vida. Ele se calou. – O Chefe Leopardo se calou. – Abruptamente me olhou e disse – Olhe depois disso ele sumiu.  Procurei e nada. Não sei onde anda, se está vivo, ou se voltou para sua amada Guaraci. Se ele voltou deve estar lá se divertindo, fazendo o seu escotismo que ama junto a índios amigos. Olhe, eu o invejo. Hoje estou aqui, sem respirar o ar puro da mata, sem ver a força de um rio caudaloso, sem poder ver o sol nascer atrás de uma montanha. Daria minha vida para mudar tudo isso.


                  - Voltei novamente ao presente. Um silêncio inquietante. Eram mais de onze da noite. Preparei-me para ir dormir. Tudo que acontece tem um motivo, o porquê abduziram o Chefe Estrada eu não sei. Entrei em minha barraca de duas lonas e dormi como se estivesse em viagem pelas estrelas abduzido por um povo de uma estrela distante que queriam fazer em seu planeta um Grupo Escoteiro! Quem sabe eu poderia ajudar?

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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