terça-feira, 6 de setembro de 2016

Um monitor a beira de um ataque dos nervos.


Conversa ao pé do fogo.
Um monitor a beira de um ataque dos nervos.

                Pois é Chefe, foi isto mesmo que aconteceu. Para muitos um fato normal para mim quase desisti de ser Escoteiro. Quer saber? Agarrei-me na minha promessa e minha lei para não deixar o cargo de monitor à deriva. Bem, o senhor sabe eu tinha treze anos e experiência nenhuma em liderança a não ser a que aprendi ali mesmo na patrulha. Não era um pata-tenra como monitor isto não, assumira a mais de um ano quando Nonô foi embora com seus pais. Como ele chorou Chefe. Marcou-me muito sua saída. Nós todos tínhamos por ele uma enorme amizade e quem sabe considerado por muitos como um irmão. Por ser muito emotivo não fui à estação despedir dele, depois mandei uma cartinha que contribuiu durante anos manter uma correspondência.

               A patrulha me recebeu bem. Não esperava ser escolhido. Jairo o Submonitor seria a escolha certa. Mas ele mesmo me indicou e disse que não gostaria de ser monitor. Com o Nonô não éramos os primeiros, mas também nunca fomos os últimos. Saímos bem em qualquer acampamento. Quando assumi a patrulha no acampamento de julho no Vale dos Sinos durante dois dias ficamos em primeiro lugar. Um orgulho danado Chefe. Mas tudo que é bom dura pouco. Com a saída de Nonô a patrulha ficou com seis. Abriu-se uma vaga e o Chefe Djalma me chamou na sala da chefia. - Visconde temos muitos querendo participar da Tropa, o mais correto era admitir a reserva mais antiga e não fiz isto. O menino Anthony Lambert é filho do meu Chefe, ou melhor, o dono da fábrica que trabalho. Pediu-me a vaga. Eu não podia negar. No próximo sábado será apresentado à patrulha. Preciso de você para conversar com a patrulha o porquê ele foi escolhido. Diga a verdade. Não sei o que vai acontecer, mas abri uma exceção e não pretendo abrir outra.

                 Não disse nada, a escolha era do Chefe. Fiz minha parte e a patrulha ficou ansiosa para conhecer o novo membro da patrulha. Pois é Chefe ninguém estava preparado nem eu. O menino era um chato, exigente, pensava ser o dono da patrulha. No primeiro dia pegou o bastão da monitoria e disse que seria dele a partir daí. Tomei dele educadamente e saiu chorando procurando o Chefe. Era sempre assim. Se se via tolhido nas suas nuances corria chorando para o Chefe. Assim foram três reuniões. A patrulha se reuniu e pediu a saída dele. E agora? O que fazer? Mas eis que ele chegou naquele sábado com uma pasta cheia de papéis. – Monitor! No próximo acampamento quero fazer estas pioneiras. Tirou da pasta um amontoado de desenhos que nem sei se foi ele quem desenhou. Não disse nada. Já pensava como aguentar o dito cujo por três dias na Fazenda Aconcágua de Dona Iraci.

                 Chefe, não sei se passou por isto, mas eu passei e não quero passar de novo. Falei para o Chefe Djalma que seria seu primeiro acampamento. Que ele prevenisse seus pais sobre o que seria. Mas sabe o que o Chefe Djalma me disse? – Seu pai deu ordens para ele ir. Colocou a caminhonete da empresa a disposição. Caso ele não goste ou se sinta mal, eu devia trazê-lo de volta! – Chefe! O senhor aceitou? – Fui obrigado. Ele vai e aconteça o que acontecer vai ficar todos os dias. No dia da partida lá estava sua mãe com uma lista enorme. – Chefe Djalma dizia ela – Ele deve tomar tais e tais remédios. Ele deve comer quatro vezes por dias nos horários certos. Ele não gosta disto e daquilo. Se tomar sopa ele vomita tudo. Gosta de dormir tarde e levantar depois das dez... Fiquei pensando no que ouvia. Se dependesse de mim ele teria folga. Ou come o que comermos ou passa fome. E tem mais vai levantar as seis em ponto!

                  Quando chegamos ele todo serelepe queria escolher o campo da patrulha. Ameaçou pegar um berreiro se não fosse com os monitores. Pela primeira vez vi o Chefe Djalma dar um grito com ele. Ele correu e se escondeu atrás das árvores. Preveni o Jairo para não dar folga a ele. No primeiro dia ele foi bem. Ajudou nas pioneiras, fez sozinho duas fossas de liquido e detrito que se abriam a um simples toque de pé ou mão. Mas nem bem escureceu me procurou. – Monitor, quero ir embora, a comida do almoço foi uma droga. Aqui tem muito mosquito. Vou e volto amanhã, chame o Chefe para me levar! Chefe Djalma gritou: - Você come aqui, dorme aqui, vai fazer tudo que os outros fazem e se chorar amarro você naquela árvore e vai dormir ali com todo esse frio!

                  Poxa! O Chefe estava arriscando seu emprego. Sabia que podia ser demitido e todos nós sabíamos que se isto acontecesse ele tinha de mudar de cidade para arrumar outro emprego. E quem disse que Anthony Lambert arrefeceu sua gritaria? Necas! Gritou, esperneou, chorou tanto que acreditou mesmo que chorava. Lá pelas nove da noite me pediu um pouco de comida. Flávio o cozinheiro tinha guardado para ele. Ficou manso, sentou-se a mesa de patrulha e comeu com gosto. Tinha de comer, fiz questão de limpar sua mochila dos doces chocolates e biscoitos que sua mãe colocou lá. Chefe, Anthony Lambert mudou e como mudou. Na chegada sua mãe veio correndo abraçar o seu filhinho. Ele disse: Mãe espere tenho de ajudar a patrulha a descarregar o material e guardar. – Seu pai gritou: - Que o Chefe Djalma o faça você vai pra casa! Ele respondeu para o pai: - Aqui sou Escoteiro, vá gritar com seus empregados. Só vou quando terminar e saiu de perto carregando uma barraca!

                   Olhe Chefe, nunca vi uma mudança tão rápida. Precisava ver o novo Escoteiro Anthony Lambert. Eu mesmo não acreditava no que via. O melhor é que ficamos amigos. Ele ia a minha casa e eu na dele. A patrulha fazia muitas reuniões em sua casa. Sua mãe era ótima nas guloseimas e fazia questão de fazer no lugar de Lourdinha sua cozinheira. Quando passei para os seniores ele me disse: - Visconde me espere, breve estarei lá com você! E o tempo passou, cresci estudei e hoje o senhor sabe, sou dono da Fabrica que foi do pai de Anthony Lambert! – Olhei para Visconde. Estava eu ele JF e Juliano sentando em volta de um fogo amigo, na montanha do Grilo. Passava da meia noite. Todos os escoteiros já tinham ido dormir.


                     Visconde! Perguntei, e onde anda Anthony Lambert? Chefe! Oh Chefe! Ele hoje mora em Paris. Casou com a Duquesa de Windsor, vive bem, tem mais cinco fábricas na Europa. Fez questão de me fazer sócio e depois me vendeu sua parte! Olhe me garantiu que viria aqui fazer uma visita. Saiu de Paris as três e deve estar chegando no seu jatinho particular. – Um farol iluminou a estrada dos Afonsos. O carro não podia prosseguir, pois não havia mais estradas. Meia hora depois ele chegou respirando fundo. Em carne e osso Anthony Lambert. Gordo, barrigudo, mas com um sorriso encantador – Preciso voltar ao escotismo disse: - Deu um abraço apertado em cada um. Sentou na beira do fogo, pegou uma banana assada, no caneco tomou um cafezinho. - E então? Vamos continuar a prosa? 

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