Lendas
Escoteiras.
João Fernando
Capelo de olhos azuis.
(Conto
Baseado no livro “Fernão Capelo Gaivota”).
Nota - “Quase todos nós
percorremos um longo caminho. Fomos de um mundo para o outro, que era
praticamente igual ao primeiro, esquecendo logo de onde viéramos, não nos
preocupando para onde íamos, vivendo o momento presente.” “Quebrem as correntes dos
seus pensamentos e quebrarão as correntes do corpo.” “Tem alguma ideia de
quantas vidas tivemos que passar até chegarmos a ter a primeira intuição de que
há na vida algo mais do que comer, ou lutar, ou ter uma posição importante
dentro do bando?” – Este conto o fiz quando ouvia a trilha sonora
do filme Fernão Capelo Gaivota magistralmente cantada por Neil Diamond.
O sol se punha na enseada de Santo
Agostinho e as gaivotas na nevoa do alvorecer voejavam por cima dos barcos
pesqueiros que chegavam como a festejar o dia bom que conseguiram na sua
jornada de pesca. João o Capitão de um dos barcos, um antigo Escoteiro ali na
proa olhava sua cidade com olhos firmes. Foi ali que ele nasceu e dizia para
todos que ali iria morrer. Sempre dizia para Lomar seu companheiro de pesca que
o mais importante na vida é olhar em frente e alcançar a perfeição naquilo que
a gente mais gosta de fazer. João tinha belos olhos azuis e suas memórias nunca
esqueceram como foi feliz na jornada nas Escarpas próximas a praia do Além mar.
Quantas vezes acampou ali? Gostava dos escoteiros, gostava de ficar lá vendo o
voo das gaivotas que esperam os barcos de pesca ao entardecer.
Lembrava-se dos companheiros da Patrulha Gaivota
que olhavam João com pena e faziam tudo para ajudá-lo. Mancava, andava com
muita dificuldade e todos sabiam que ele queria vencer, não ficar para trás nas
jornadas, andar sem limites até atingir a perfeição, Para ele ser Escoteiro
sempre fora uma forma de se movimentar sem mostrar que era um aleijado um
coitado que não podia andar direito. Quando iniciou como Escoteiro João tentou
acompanhar sua patrulha e se machucou. Não desistiu. Ele sabia que aceitar seu
destino era morrer. Devido a sua perseverança e ousadia João não criticava
ninguém só a si mesmo para não desistir de tentar. Nunca pensou em prejudicar
sua patrulha, chorava em pensar que um dia poderiam desistir dele e ser banido
do que amava.
João dizia para sim mesmo: -
Quebre as correntes de seu pensamento e também irás quebrar as correntes do teu
corpo. Ele sabia que com sua compreensão poderia ver até onde pode ir. Descubra
mais do que já sabe, dizia. Talvez fazendo isto você encontre seu caminho que
fará mais sentido para si, pois as jornadas que vais enfrentar não pode ter
limites. João sabia que não iria desistir nunca. Fazia tudo com suavidade e
paciência. Nunca esqueceu quando fez sua promessa, prometeu muito mais.
Prometeu que nunca seria um empecilho para ninguém. Doía, a perna sacolejava,
mas João não desistia. Ele era livre para pensar e não podia deixar para trás a
força que sua patrulha lhe dava.
Por muitos anos João andou
pelas praias, pelas florestas pelos campos e até se arriscou a embarcar em um
pequeno bote que a Tropa possuía para velejar por longos mares sem fim. João
sofreu experiências incríveis, de solidão, de frio e fome, mas nunca se abateu.
Certo dia João encontrou um menino Escoteiro que sofria com suas mãos que doíam
horrivelmente e mesmo assim o cumprimentou. – João, disse o menino Escoteiro,
você faz ideia quantas vidas levamos para começar a entender o que somos? Não
viemos aqui para desistir. Temos que mostrar que podemos e assim vamos aprender
até atingir a perfeição. Quebre as correntes de seu pensamento e assim também
irás quebrar as correntes do teu corpo. João acreditou no menino Escoteiro e
assim o fez.
João viu que como Escoteiro
vivia em outra sociedade onde todos desfrutam do companheirismo e da paixão
pelo escotismo. Ficava horas a fio treinando a andar, a pular ele sabia que
precisava ter o respeito dos demais escoteiros. Não queria ser olhado como um
“coitado” O processo não foi fácil, seus amigos escoteiros mais experientes não
o deixavam sozinho. João viu que ali o respeito e amor eram sagrados. Viu que
compartilhavam o mesmo ideal. Seu Chefe sempre lhe dizia: - João você tem de
compreender que um Escoteiro tem uma ilimitada ideia de liberdade, uma imagem
firme de si mesmo. Seja fiel aos seus ideais. Procure João com sua compreensão
fazer o que tem de fazer. Descubra o que você no seu pensamento já sabe!
A chuva na praia, o céu
beija o mar, o Escoteiro espera sua hora. E João continuou sua saga de sempre
treinar no amor. Ele sabia que o espírito não pode ser verdadeiramente livre
sem a capacidade de ser mais um, de perdoar e continuar no progresso do seu
caminho escolhido até se tornar um Escoteiro de verdade. A Patrulha Gaivota
cresceu. Agora já compartilhavam mais as ideias entre todos inclusive João. Tinham
uma Lei a seguir e João sabia que ela o faria um Escoteiro que sempre sonhou
ser. – Vocês querem acampar onde ninguém nunca foi, disse seu monitor, para
isto precisam aprender a se ajudarem e se conhecerem melhor. Aprender que os
mais fortes nunca deixam os mais fracos para trás. Se fizerem assim o amor e o
perdão irá acontecer. Todos irão ver que o respeito entre amigos será para
sempre.
O Barco se aproximava do
cais. João olhou para Lomar. Ele nunca fora Escoteiro e parecia uma gaivota
perdida do bando quando João o encontrou. João lembrou-se de tudo que fez em
sua patrulha, nas conquistas nas grandes atividades Escoteiras, na sua promessa
e disse para Lomar: - Não é ser amado e admirado pelos outros que nos dá a
alegria de viver. Esta alegria meu amigo provém de ser capaz, de amar e admirar
tudo que achara raro, bom e belo. Todos nós podemos aprender quando quisermos
aprender... Hoje você e eu singramos os mares para podermos viver um pouco
melhor e dar o máximo a todos que nos cercam. Ainda me lembro de minha
patrulha, que sempre sorria para mim. Meus velhos companheiros nunca se
importaram em me ajudar. O mais importante na vida é olhar em frente e alcançar
a perfeição naquilo que você mais gosta de fazer!
Uma gaivota branca sobrevoou o
Barco e João jogou no mar um pequeno peixe. Olhou para Lomar e repetiu: - Pois
é assim como esta gaivota eu sou também a perfeita expressão da liberdade que
aprendi com meus amigos de outrora. A única Lei verdadeira é a que nos liberta.
Cada um de nós encontra e segue o que mais amamos fazer, não importa o que os
outros pensem!
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