Lendas Escoteiras.
Respeitável público! Com vocês... O palhacinho Juju!
Ai, o circo vem aí, quem
chora tem que rir,
Com tanta palhaçada, tem hindu que come fogo,
Faquir que come prego, mulher que engole espada!
Com tanta palhaçada, tem hindu que come fogo,
Faquir que come prego, mulher que engole espada!
Era uma vez... Um lindo
circo. Cheio de Luzes coloridas com trapezistas, palhaços, equilibrista, o homem que engolia fogo e o que engolia
espada. Por ser cruel não tinham animais. Esta é a história de Justino, um
menino que nasceu paraplégico no Circo Mundo Mágico. Seus Pais se conheceram no
Circo. Eram húngaros malabaristas e o amor aconteceu finalizando com o
casamento. Foi um dia de festa no Circo. Não sabiam ganhar a vida de outra
maneira e o amor à lona estava no coração. Não eram os melhores do mundo, mas
sempre foram muito aplaudidos. Possuíam um pequeno trailer e lá viviam felizes.
Não tinham contas em banco, cartão de credito e sua fortuna foi aumentada com o
nascimento de Juventino. Foi um dia de festa. Adrieen e Gizella estavam sorrindo
e contentes com seu primeiro filho. A principio iriam chamá-lo de Nandor, mas
disseram que se tivesse um nome brasileiro seria melhor. Foi uma festa no
circo. Estavam todos lá. Não havia meninos e meninas, pois havia poucos casais
circenses.
Naquela noite o espetáculo
foi todo dedicado a eles. Claro poucas pessoas, os amantes de circo já não
existia como no passado. Justino cresceu e era um menino comum, sorria muito e
quase não chorava. Aos dois anos viram que ele não conseguia andar. O médico
diagnosticou uma doença desconhecida. – Justino não iria andar nunca mais! Foi
um choque para todos. Seus pais tentaram tudo, mas não adiantou. Aos sete anos
Justino se acostumou à cadeira de rodas. Rodava para todo lado, sorria, cantava
e só ficou muito triste quando soube que nenhuma escola o queria como aluno. Justino
adorava de se pintar de palhacinho e nestas horas se transformava em um alegre
contador de piadas. Em uma tarde o Senhor Hornelas proprietário do Circo fez um
convite: - Quer apresentar como palhacinho? Se quiser tem dez minutos! Foi um
estrondoso sucesso. Ficou conhecido da meninada que aos sábados e domingos
lotavam o circo só para vê-lo. As palmas pipocavam e todos gritavam – Viva o
Palhacinho Juju!
A vida não sorria para
Justino. Apesar de admirado pela meninada ele se sentia triste. Não tinha
amigos, não tinha uma turma para conversar. Quando se aproximava todos se
afastavam. Seus pais sabiam o que Justino sentia. O que se passava no coração
daquele menino que se mostrava alegre e bonachão. Um dia Justino saiu sem
destino. Passou em ruas, pontes e chegou a um pontilhão de estrada de ferro e
pensou em passar por ela. Se viesse um trem? Bom pensou Justino, assim minha
vida desaparece e quem sabe lá no céu eu possa andar? Seus olhos encheram-se de
lágrimas. O que adianta me aplaudirem se fora do circo só mostravam compaixão e
diziam piadas sem nexo? Quando se aproximou do pontilhão ele viu vindo em sua
direção uma mulher. Linda, vestida de branco, parecia que pairava no ar. Quando
chegou perto dele ela disse: - Justino, aceite sua vida, foi você quem pediu.
Lembre-se que o mundo da muitas voltas e um dia você irá andar e correr por
todo o universo!
Justino voltou para
casa. Correu para seu lugar favorito atrás do circo sem iluminação onde podia
ver as estrelas brilhantes e chorou. Chorou muito. Pediu a Deus que o levasse.
Ele não queria continuar assim. Que adiantava aprender a ler com seus pais? Que
vantagem deles cantar para ele na hora de dormir? Para que aplausos se ao sair
do picadeiro sabia que não tinha amigos? Porque meu Deus! Naquela noite foi
para o picadeiro triste. Um palhaço que chora por dentro e ri por fora. Pensou
até em não apresentar, mas quando as palmas pipocaram ele se transformou. Notou
que a plateia era de meninos e meninas de uniforme azul e caqui, de Chapelão,
lenço verde e amarelo no pescoço e todos gritavam: - Justino! “Justino”. Ele
esqueceu suas mágoas, mostrou suas qualidades de palhaço, contou as mais lindas
piadas e no seu numero do barril todos aplaudiram por muito tempo. Alguns
rolaram no chão de tanto rir. Quem eram eles? Porque eu também não sou um
deles? a tristeza voltou. No final do espetáculo, naquela noite fria ele
esqueceu dos novos amigos do circo. A noite escura e sem luar trazia a
verdadeira realidade para Justino. Seu momento mágico se foi. Justino como
sempre chorou, ficou horas engasgado não compreendendo porque tinha de ser
assim.
Foi dormir bem tarde. Teve
um sonho diferente. Tinha pernas para correr e andar. Agora estava com a turma
dos Escoteiros correndo pelos campos, acampando e cantando o Rataplã! Acordou
suado e pensou de onde tinha tirado
isto. Olhou na beira da cama e sua cadeira de rodas estava lá. Amargurado disse
que nunca mais iria se apresentar no circo. Resolveu dar um passeio nos
arredores, ao sair ouviu uma algazarra enorme. Vários chefes e Escoteiros estavam
a sua procura. Não entendeu bem. Eles o pegaram e o jogaram para cima. Sempre
dizendo: - Hora de ser Escoteiro amigo! Topas? – Eu? Como? – vais saber como. Seus
pais sorriram e disseram para ir com eles. – Justino, você agora será um dos
nossos. Todos os sábados vamos vir aqui buscá-lo. Justino estava sonhando, só
podia, mas quando chegou na sede e foi ovacionado ele sorriu de felicidade.
Justino aprendeu a cantar, a
jogar na sua cadeira de rodas e até acampamentos ele fez. A patrulha Cuco sorria
com ele com suas piadas seu jeito alegre de enfrentar as dificuldades. Foi no
acampamento que tudo aconteceu. Justino amou amar barraca, tentou ser
cozinheiro, mas queimou o arroz e o bife. Ninguém reclamou. Dormiu em uma
barraca com mais três amigos. Dormia feito um anjo. Todas as noites Justino
sentado na sua barraca pedia a Deus para não acordar daquele sonho. Agora sua
vida era outra. Ainda dava seu espetáculo no circo, mas com mais alegria e até
mesmo o publico aumentou. Seus pais sorriam ao ver a felicidade do filho.
Ninguém nunca entendeu quando Justino contou que a mulher de branco o visitou
naquela noite. Ninguém acreditou quando ele ficou em pé e deu seus primeiros
passos sem ajuda de ninguém. A partir daquele dia Justino nunca mais chorou. Chorou
sim de felicidade.
Justino cresceu, não foi o
palhacinho que deseja ser. Se formou em medicina. Se tornou um médico famoso
por ajudar a todos sem olhar se podia ou não pagar. Seus pais nunca deixaram o
circo. Justino sempre ficou junto deles em qualquer cidade que armam sua tenda.
Lembro quando conheci o Palhacinho Juju, seu circo, seus pais e quando me vem à
mente o seu sorriso me encho de júbilos. Foi uma enorme emoção no dia que ele
se levantou da cadeira de rodas e andou gritando e chorando agradecendo a Deus.
A emoção nunca foi esquecida. Não acreditam? Eu estava lá!
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