segunda-feira, 13 de agosto de 2018

O legado do lobinho Pasqualino



Uma fábula deliciosa para os chefes de Alcateias lerem ou contarem aos seus lobinhos e lobinhas.

O legado do lobinho Pasqualino

                Pasqualino queria muita coisa. Parecia um menino mimado. Queria e pedia aos seus pais videogame, uma bicicleta e roupas novas. Ainda não tinha sete anos e seus pais, pessoas humildes tentavam explicar e ele as dificuldades que estavam passando. Ele não entendia, ou melhor, não queria entender. Quando resolveu entrar para os lobinhos foi um Deus nos acuda! Seus pais o levaram e o matricularam, dizendo ao "Chefe" Escoteiro que não tinham condições financeiras. Pasqualino gostou. Divertia-se. Não era um bom lobinho. A Akelá o ensinou as cinco leis e ele nem aí. Na matilha não obedecia ao primo. Nas formaturas ficava brincando para chamar a atenção de todos.

                Sempre davam uma oportunidade a Pasqualino. A própria Akelá estava desistindo. Foi à casa de seus pais e mesmo humilde era limpa arejada e o casal de uma simpatia radiante. Na sua promessa acharam que Pasqualino iria mudar. Não mudou. O Grupo Escoteiro comprou para ele o uniforme e Pasqualino nem sorriu. Achava que era a obrigação de todos para com ele. Era assim também na escola. Todos preocupavam com seu futuro. Isto não podia continuar. Mandar embora do grupo o Pasqualino não era a solução. Iria continuar assim e apesar de pais maravilhosos todos achavam que o futuro dele seria nebuloso.

                Um dia em um feriado de Sete de Setembro a Alcatéia foi fazer um acantonamento. Claro, a taxa de Pasqualino foi paga pelo grupo. Sua mãe esmerou em tudo para que fosse separado para ele tudo que a Alcatéia pediu para o acantonamento. Mas ao chegar lá, ele viu que os outros da matilha tinham coisas que ele não tinha. Esbravejou. Reclamou. Quem não conhecesse achava que ele era um pobre menino onde todos só queriam prejudicá-lo. No sábado à tarde, enquanto sua matilha era encarregada da limpeza do salão onde se reuniam Pasqualino se mandou.

               Pensou consigo que iria dar um susto na Akelá e quando sua mãe soubesse o que aconteceu ela iria dar muito mais a ele. Menino danado o Pasqualino. Ao sair na pequena trilha que levava a uma montanha ele se encantou. Era como se a trilha o hipnotiza-se. Seguiu a trilha cantando “A Promessa de Mowgly era matar o Shere Khan”. Ele gostava desta. Cantava muito. Viu que próximo à trilha tinha um regato e por que não dar um mergulho? Pois é. Pasqualino não tinha mesmo responsabilidade. Pulou na água e deixou a correnteza o levar. Não viu, mas uma enorme cachoeira engoliu Pasqualino e ele caiu de uma grande altura.

              Desmaiou. Acordou com a barriga cheia de agua e viu ao seu lado um enorme tigre que o olhava e sorria. Custou em Pasqualino? Custou conseguir que você me achasse. Pasqualino tremia. Quem é você? Shere Khan meu caro Pasqualino. Tentei pegar o Mowgly, mas Baloo e Bagheera não deixam eu me aproximar dele. Agora tenho você. Vou comê-lo inteirinho. E Shere Khan ria. Pasqualino começou a gritar e saiu correndo. Corria e gritava. Ao seu lado Shere Khan o acompanhava e dizia: - Pode gritar, ninguém vai ouvir. Ninguém se interessa por um lobinho indisciplinado como você. Não deu mais. Pasqualino caiu e acordou na caverna de Shere Khan. Ele tinha ascendido uma fogueira. Lembrou-se do fogo do conselho que assistiu no ultimo acampamento. Agora era diferente. Tenebroso por assim dizer.

             Estava amarrado. Chegaram outros tigres. Enormes! Dentuços! Olhos vermelhos com fogo.  Este vai ser nosso banquete? Perguntaram. Shere Khan ria e dizia – Vamos nos fartar. E esse vai ser delicioso. Ele grita, ele berra por qualquer coisa. E melhor sua carne deve estar estragada, pois não se contenta com nada. Só sabe reclamar e pedir. Não faz nada para ninguém! Um dos tigres lambeu os beiços. Que delicia! Pasqualino estava horrorizado. Lembrou-se de rezar. Nunca tinha feito isto. Tudo que queria conseguia mesmo sendo pobre por isso nunca rezou. Sua oração não saia. Estava rouco. Levaram-no para o fogo. Os tigres começaram a dançar em volta e a cantar: “Come, come tigre manco, que é hora de fartar, vamos todos meus amigos, pois é hora do jantar!”.

             Pasqualino acordou gritando. Gritava e berrava. Sentia a chama do fogo da caverna do tigre lhe queimando o corpo. A Akelá estava assustada. Viu Pasqualino deitado debaixo de uma arvore e nem sabia o que aconteceu. Bem, conta-se a lenda que Pasqualino mudou. E como mudou! Ninguém mais reconhecia nele o Pasqualino de outrora. Dizem e isto eu não sei, que Pasqualino só fazia o bem. Era amado na Alcatéia e quando foi para a tropa foi recebido com grandes abraços e lá fez grandes amigos.

         Os pais de Pasqualino se sentiram os mais felizes do mundo. Seu filho do coração era outro. Agora não importava para ele a riqueza. Tudo que conseguia sabia dar valor. Valeu Pasqualino. Valeu. Espero que seu legado sirva de exemplos a todos os lobinhos indisciplinados que ainda existem por aí. Sei que são poucos, pois os que conheço sempre ouvem os velhos lobos.

          Até hoje Pasqualino dá risadas. Sabe que Shere Khan mais uma vez perdeu. Tigre manco tigre louco, vá para sua terra! Para sua caverna mal cheirosa! Se um dia o encontrar você não vai me reconhecer! Pasqualino ria. Pois é meus amigos eu soube que se tornou um grande médico e que ajudava em todas as favelas da cidade. No Grupo Escoteiro que organizou só aceitava meninos e meninas pobres. Sempre contava para eles que ali Shere Khan não tinha vez! Viva Pasqualino, que ele consiga atingir a felicidade e encontre o caminho para o sucesso que merece!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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