Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Serenata ao
luar.
Prólogo: - A natureza é
sábia e justa. O vento sacode as árvores, move os galhos, para que todas as
folhas tenham o seu momento de ver o sol. Bom demais acampar... Deixar a mente
ser tomada pela natureza e em sonhos viver tempos idos que não voltam mais.
Saudades dos bons momentos, nos meus acampamentos onde podia sonhar com um novo
mundo que iria criar...
Enfim de volta ao campo! Saudade
danada de dormir sob o céu estrelado e um bom bocado de um luar apaixonado.
Quantas vezes fiz isto? Perdi a conta. Era bom demais. Sozinho eu Deus e a
natureza em flor. Gostoso ficar quieto, mudo, silencioso, ouvindo a floresta,
os bichos, pássaros e afins em todo seu esplendor. Meu bastão ia à frente
explorando a trilha, batendo o mato verde, mas com cuidado para não machucar
uma plantinha que iria desabrochar. Eita mata linda! Copada, verde que te quero
verde... O poeta canta em voz doce e suave que tudo na natureza depende da
forma como se vê... Ela é linda demais e a vida é bela para ser olhada e
aproveitada. Cheguei onde queria chegar. Um pequeno oásis em plena floresta,
pássaros cantantes, brisa gostosa, sombras fincadas embaixo das asas de uma
árvore adormecida. Parei e cantarolei meus versos de amor. Mostrei meu apreço
por um lugar tão lindo onde valia a pena morrer. Nobre e notável natureza em flor, que se
esgueira longe do asfalto, como és bela, delicada e forte...
Arvorei uma lona lonada para as
chuvas de verão se elas chegassem. Um galho verde alceado para segurar minha
caldeirinha, onde iria surgir o feijão, uma sopinha, ou quem sabe um quentado
de peixes do remanso do pequeno riacho que corria para o mar. Águas límpidas
cristalinas para matar a sede de um ser vivente Escoteiro que ama acampar em
plena natureza. Os sons eram lindos, galhos fazendo toada, passarada procurando
seu ninho, onde os filhotinhos brotavam a olhar o Escoteiro passante que
resolveu ali acampar. Água fervendo, pó brincando nas asas da fervura, açúcar
cande adoçando a cantilena de boas doses de um café puro em plena floresta
verde Brasil. Tudo era paz tudo era harmonia. Eu voltava no tempo dos meus
sonhos reais de um passado que não quero esquecer jamais. À tarde vai chegando
de mansinho, escondendo entre as folhas os raios de sol que se recusavam
partir.
Esperava o anoitecer. Era o mais belo no seio
da mata escura, esperando o clarão das estrelas, brilhantes piscantes deixando
passar vez ou outra um cometa intrometido, na sua viagem sem destino, mas que
alegravam as moçoilas que na terra olhavam para o céu pedindo um amor de um
príncipe, que fosse apaixonado, educado, cavalheiro e que desse a ela toda sua
paixão. Um pardal voou ao meu redor. Picotou à moda do Pica Pau um galho onde
ia dormir. Esperava a rainha da noite chegar. A coruja de olhos verdes cedo ou
tarde iria sorrir para mim. Com aqueles olhos grandes, quem sabe esverdeados,
na cumeeira de um Jatobá centenário arrepiando seu canto apaixonado. Tão longa
a distancia tão longe a saudade e tão bela espera, lá estava ela, a rainha da
noite dos meus sonhos de verão. Cantei uma canção para ela, e ela agradeceu com
duas balançadas de cabeça aprumada como se fosse sorrir. Onze horas a noite já
avançava para a madrugada.
O foguito pequeno quentito batatas
cozidas, bananas na fieira, que mais eu iria querer? Hordas de vagalumes e
pirilampos chegavam sem pedir mostrando seu brilho soltavam chispas para mostrar
quem manda no lugar. Quanta felicidade! Quantas saudades de tantas noites que
acampei. Quantas vezes meu anjo protetor sorria me dizendo que ali era Nosso
Lar. Ah! Natureza em flor. Se você não é minha nem eu sou seu, porque brilha
tanto no teto do céu? Disseram-me certa vez que vivendo de acordo com as leis
da natureza, nunca serei pobre, mas não serei nada se viver pensando nas
opiniões alheias, pois elas nunca me faram rico. Fechei os olhos e deixei a
brisa da noite me levar... Quantos montes, quantos horizontes viajei com a
brisa e a natureza que abrilhantava o lugar?
Ah! Quanta felicidade! Bem perto uma sonata de
Uirapurus como se fosse uma orquestra mágica, tocava melodias com violinos
mágicos no seio da mata escura. A música é celeste, e a natureza divina realça
tal beleza que encanta a alma e nos eleva acima do que somos, pois eu sabia que
a natureza não faz nada em vão. Dormi acordado esperando o amanhecer. Queria
ver o sol brilhante entre as folhas das belas arvores do lugar. Não deu, tudo
que eu não queria aconteceu. – Marido! Hora de acordar, o café está pronto e
tem bolo de chocolate com pasteizinhos de queijo. Levantei sorrindo, mas com
saudades dos meus sonhos e da minha natureza em flor! Ah! Como é bom sonhar...
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