Lendas
Escoteiras.
A lenda do
pudim de coco de Gaituba.
Prólogo: - Sábado
dorminhoco, pensativo pensei em escrever. Lembrei-me do pudim de Gaituba,
quando fomos a Mantena e nunca chegamos lá. Mas valeu a ideia a aventura na terra
da mica, diziam de bandidos, hoje dizem ser uma bela cidadezinha encravada no
Vale do Rio Doce princesa do Vale que nunca conheci.
- Não me lembro de quem
foi à ideia. Só lembro-me das subidas íngremes das trilhas cheias de pedras e
descidas imaginarias para correrias sem saber onde ia dar. Época de aventuras,
seniorismo na veia, chefes esquecidos e meninos homens a correr por estradas
deste mundo de meu Deus. Não houve preparativos, não precisava. Cada um sabia o
que levar e preparar. Quantos dias? Saindo em uma sexta a noite domingo estaríamos
de volta. Tãozinho disse que tinha 27 mil habitantes e que um grupo escoteiro
havia surgido no lugar. Sabia da cidade, não sabia seu significado. Hoje
olhando no Google ele diz: - O nome Mantena é de origem indígena e quer dizer:
“Terra boa”, “Solo fértil”. Menos de 200 quilômetros naquela época como me
disse Agenor da Padaria São Leopoldo.
- Partimos ás seis da
tarde, disse Roseta o intendente que haveria lua cheia prá dar e vender.
Carlinho Sucupira havia instalado em sua biscicleta um farol movido ao um
dínamo preso no pneu trazeiro. Era novidade. A história dos dínamos nas
bicicletas é antiga, em 1888 apareceram às primeiras lâmpadas para faróis de
bicicletas alimentadas por um pequeno dínamo. A iluminação iniciava quando a
roda começava a girar e aumentando a intensidade no embalo a luz aumenta. Chico
Malta disse que estava duro, eu tinha dois réis e mais nada. Lá na mochila
presa no quadro da bicicleta havia dois gomos de linguiça que mamãe fez e 150
gramas de arroz. Um pouco de gordura de capado e cinco pitadas de sal. Levei um
vidrinho de açúcar e um pouco de pó que papai havia moído na véspera. Os outros
levavam iguarias não tão diferentes da minha. Caldeirão, frigideira, alça de
pano, coador um facão e duas cordinhas estavam distribuídos pelos demais nos
seus cavalos de aço.
- Nada mais nada menos
que uma oração antes de partir. Tiramos o chapéu e em pé ao lado da bicicleta
pedimos a Deus pela caminhada. Iriamos passar por locais nunca antes navegados.
Não havia planos de prancheta, não havia Croquis e nem mesmo um pequeno
Percurso de Gilwell para sabermos onde estávamos nos metendo. Sabiamos que era
uma região de exploração da Mica, um material para confecção de capacitores,
placas de circuitos eletrônicos para computadores muito usados como isolante
para equipamentos de alta-voltagens. A exportação na época era muito explorada
nos municípios ao redor de Governador Valadares minha cidade onde nasci
escoteiro. Pastoril ficou para trás, a estrada terra pura não ajudava. Meia
noite e paramos para descansar. Gabiroba roncava. Toninho Molejo também.
Acordamos com a aurora despontando. E a estrada? Onde foi parar? Devemos ter
tomado rumo diferente. Uma trilha uma pequena estradinha despontava.
- Um café feito no
ponto por Chico Malta e pé na estrada. Meio dia... O sol a pino. Calor demais.
Chapéu atolado na cuca o suor escorrendo paramos para descansar. E Mantena?
Cruzamos com dois estradeiros cara fechada e mal responderam: - É para lá! – Lá
aonde? Onde não sabíamos, mas partimos na direção indicada. Escureceu. Hora de
uma refeição. Um tropeiro, caldeirão empinado, uma linguiça frita um arroz na
moita e a pança encheu. Dormimos ao luar. Domingo era o ultimo dia e nem
chegamos à cidade da terra boa. Conselho de Patrulha. E agora? Prá frente ou
retornar? Impossível, segunda escola trabalho e altas horas de namoro com
Josefa, Estefânia e Rosalva que namorada os seniores e além mais. A comida não
dava, a fome apertava. O domingo se foi à noite chegou. Papai Mamãe sabiam de
nossas aventuras e acreditavam que íamos voltar. Dormimos. Segunda brava,
retorno. Para onde? Várias trilhas daqui e dali e qual escolher? A Silva amiga
de guerra não ajudava sem um rumo norte a dizer é por aqui.
Duas da tarde de
segunda feira. Mantena era tão difícil assim? Houve época que o Capitão Macedo
e sua turma da captura tinham medo de entrar lá. Bandido prá todo lado. Hoje
dizem apaziguado cidadezinha linda cheia e coqueiro praças verdes, moçoilas
lindas esperando seu príncipe encantado. Avistamos um povoado. Gaituba. Nada
mais nada menos que pequenas choupanas feito de pau a pique, barro no pedaço,
gente simples e humildes ferramenteiras de enxada a trabalhar para algum dono
de cafezal que infestava o lugar. Um buteco. Pequeno, meio sujo, na porta duas taboas
serviam de banco para sentar. Lá dentro um balcão. Vazio, em cima dele um
pedaço de pudim... Que pudim! De coco? De que? Não importava. A Patrulha ainda
sentada nos bancos bicicleteiros não tiravam os olhos da bela iguaria. Desci.
Quanto? Cinco réis, disse o butequeiro. Caro, só tinha dois réis.
- Moço! Eu disse, só
tem um, não dá para me vender por dois réis? Ele coçou a nuca, unha grande
suja, mãos cheias de calos, olhar perdido barba por fazer. – Tá bom! Ele disse.
Gabiroba saltou de banda, abriu seu canivete suíço e cortou em seis pedaços.
Pequenos, mas dava para tapar um buraco no dente. Coloquei meu pedaço na boca.
Deixei-o derreter na língua. Um pedacinho ficou preso no céu da boca. Não mexi
um tantinho sequer. Ele caiu e prestativamente minha língua engoliu. A galope
pelas trilhas errantes antes do escurecer chegamos ao limite de Crenaque. Daí
era menos de duas horas para nossa linda cidade. Cheguei a casa as duas da
manhã de terça feira. Prova de matemática já era. Padre Pedro haveria de falar.
A noite de quarta nos reunimos na Praça Serra Lima. Tristonhos. Não era costume
não cumprir o determinado. Vamos voltar? Perguntou Carlinho Sucupira. Tãozinho
o sênior mais velho pensou e pensou. Melhor esperar quem sabe um dia?
Nunca fui a Mantena.
Hoje sei que uma rodovia liga Valadares até esta bela cidade. Hora e meia sem
correr. Mas nossas aventuras ciclísticas nunca deixaram de acontecer. Bom mesmo
foi em Resplendor, e em Aimorés onde Chiquinho Fortunado Monitor da Patrulha
Águia nos convidou a sua casa e comemos um lindo e delicioso pudim de amora.
Falei prá mamãe e ela sorriu. Um dia vou fazer um aqui para você. Eita tempos
de corredeiras, estripulias, de andadeiras por estradas sem chão, sem mistério
a voar nas descidas dos pedaços de trechos desconhecidos sem saber o que
encontrar.
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