Contos ao
redor da fogueira.
“Tonho”
Prólogo: - Eu não
entendo por mais que queiram me explicar, esta animosidade da Escoteiros do
Brasil com as outras associações escoteiras. Afinal não somos todos irmãos? Ou
será que isto não aplica aos associados da EB? Aqui não é um conto real é
apenas uma ficção, mas sabemos que existe uma perseguição enorme da associação
centenária com aqueles que não querem participar sob sua direção. Não é seu
direito? Não está na constituição? Que cada um tire suas próprias conclusões.
Eu hoje queria contar uma
linda história. Tinha que ser uma narração que prendesse a todos que começassem
a ler. Qual delas? São tantas! Escolher qual? Afinal hoje é sábado e poucos
irão ler. Muitos estão ainda sorrindo das reuniões, outros das excursões e uns
poucos privilegiados dos acampamentos. Foi então que me lembre do chefe Tonho.
– Pensei com meus botões ele não era o chefe de uma tropa escoteira pirata?
Ah Tonho! Lembrei quando me contou quando tudo começou.
Sei que pensou em desistir de tudo e voltar a viver sua vida junto a sua
família. Pois é Chefe Vado semana passada Maninho seu Monitor o procurou. -
Chefe Tonho, Tico me procurou quase chorando. Eu ouvi tudo sem interromper. O
Senhor sabe eu não tenho autoridade e reclamar com quem? Olha Chefe eu não
sabia o que dizer. Não foi à primeira vez e eu sabia que não seria a última. – Maninho
desanimado contou o que disse para Tico - Porque está revoltado? Monitor, Prisco
é meu amigo e Escoteiro no outro grupo. Ele me disse que sou pirata. Perguntei
a ele o que significava – Ele disse que o Chefe dele dizia que éramos intrusos
e não tínhamos direitos. Tentou me convencer a passar para eles. – O que fazer
quando um Monitor de sua tropa conta uma história dessas?
Pois é Chefe, Prisco disse
a Maninho o que ele não queria ouvir. Afinal sempre foram amigos e quando ele o
procurou para dizer que seria escoteiro no outro Grupo eu o felicitei. E o que
dizer para Maninho quando me disse que eles não aceitaram sua participação naquele
acampamento do Distrito? Eles Chefe nos chamados de piratas. Pois é Chefe afinal
não somos todos irmãos? Não foi assim que a Lei nos ensinou? Olhe Chefe Vado eu
não sabia o que dizer para Maninho. Ainda não entendia as desavenças dos
grandes chefes, cada um querendo puxar o outro para seu lado. Mas eu tentei
motivar Maninho. Ele sorriu e tentou compreender. Mas é apenas um menino Chefe!
Ouvi calado tudo que Tonho me contou. Vi que estava revoltado e mesmo com toda
sua humildade tal fato o deixava atordoado. Chefe Vado! Eu não sou nenhum
novato. Vivi coisas incríveis como menino escoteiro. Nunca pensei em minha vida
que algum assim pudesse acontecer. Eu admiro e amo o escotismo. Tenho BP no meu
coração. Eu sabia que Tonho não tinha culpa. Era um excelente Chefe e fez
vários cursos comigo.
Ele não parou de contar. –
Pois é Chefe eu sem malícia resolvi voltar às origens, as minhas raízes, fazer
um escotismo que fiz sem amarras e sair por aí fazendo aventuras coisas de
meninos sonhadores. Foi uma grande experiência organizar uma tropa escoteira.
Não teria a estrutura de um Grupo Escoteiro. As exigências para iniciar não me
agradavam. O registro mais ainda. Soube que as normas eram cobradas para tudo. Meu
escotismo seria outro. Não teria diretores. Convidei a mãe de Ricardo uma
simples lavadeira para ser a presidente. A Tropa cresceu. Dois anos e agora
estavam completos. Vinte e oito escoteiros. Menos de dois saiam por ano. A
procura enorme. Não queria quantidade e sim qualidade. Iria fazer o escotismo
que acreditava. Confiava nos monitores, às patrulhas saiam sozinhas, acampavam
sozinhas. Dei responsabilidades e as cobrei. Lembro quando Juvenal me procurou
para dizer que ia organizar um Grupo filiado a Direção Nacional. Dei a ele os
parabéns. Isto nos fará crescer e ser reconhecido pela comunidade disse a ele.
Mas não foi bem assim que
aconteceu chefe. Exigiram de Juvenal o distanciamento. Ele queria fraternidade
e encontrou animosidade. Os meninos de um e outro se conheciam e eram amigos,
mas na farda eram desiguais. Agora eram piratas, ameaçados de extinção, diziam
que seriam levados as barras dos tribunais. Eram tantos a darem seu testemunho,
a mostrar seus pensamentos, a defender o indefensável. Sabe Chefe Vado eu nunca
pensei em desistir, mas quando recebi a carta dos que se achavam dono do poder,
eu pensei: - Sou apenas um funcionário, tenho família para cuidar, nunca
poderei contratar uma autoridade para me defender. Mas Chefe ontem estava em
casa desiludido quando Noêmia bateu nas minhas costas. Marido ouça, são os
Touros chegando do acampamento. Meus ouvidos se aprumaram. Ouvi ao longe o
cantar do Rataplã. Cheguei à janela, a vizinhança aplaudia.
Eram os escoteiros com suas
mochilas, tralhas e carrocinha de peito estufado marchando com garbo. Pararam
em frente a minha janela – Sempre Alerta Chefe! Patrulha Touro se apresentado
após o acampamento! – Sorri chefe. As preocupações ficaram para trás. Eu sabia
que formava meninos para serem o futuro da nação. O escotismo não tinha dono
era de todos. Não foi o Senhor quem disse que Baden-Powell não deu carta branca
e nem procuração para ninguém? Eu não iria parar por aí. Iria continuar e lutar
até o fim. Afinal foi isto que aprendi em toda minha vida de escoteiro.
Olhei para Tonho. Sorri
também. Dei nele um abraço fraterno e apertado. Apertei sua mão e disse: -
Parabéns Tonho. É assim que se faz. Se você acredita e sabe que pode fazer e
realizar nada pode impedir você de ter a tropa de seus sonhos. Sei que dela
irão sair homens orgulhosos e metódicos em sua lei e promessa. Ele sorriu, Foi
embora cantando o Rataplã. Olhei quando virou a esquina. Nada mais tinha a
dizer.
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