sábado, 21 de março de 2015

Respeitável público! Com vocês... O palhacinho Juju!



Lendas Escoteiras.
Respeitável público! Com vocês... O palhacinho Juju!

Ai, o circo vem aí, quem chora tem que rir,
Com tanta palhaçada, tem hindu que come fogo,
Faquir que come prego, mulher que engole espada!
          
                      Era uma vez, em um país muito distante existia um lindo circo. Cheio de Luzes coloridas tinha trapezistas, palhaços, equilibrista e não faltava o homem que engolia fogo e o outro que engolia espada. Não tinha animais, eles achavam que seria cruel prender um para servir de espetáculo ao público. Esta é a história de Justino, um menino que nasceu paraplégico no Circo Mundo Mágico. Seus Pais se conheceram no Circo. Eram húngaros malabaristas e o amor aconteceu finalizando com o casamento. Foi um dia de festa no Circo. Não sabiam ganhar a vida de outra maneira e o amor à lona estava no coração. Não eram os melhores do mundo, mas sempre foram muito aplaudidos. Possuíam um pequeno trailer e lá viviam felizes. Não tinham contas em banco, cartão de credito e sua fortuna foi aumentada com o nascimento de Juventino. Foi um dia de festa. Adrieen e Gizella estavam sorrindo e contentes com seu primeiro filho. A principio iriam chamá-lo de Nandor, mas disseram que se tivesse um nome brasileiro seria melhor. Foi uma festa no circo. Estavam todos lá. Não havia meninos e meninas, pois havia poucos casais circenses.

                    Naquela noite o espetáculo foi todo dedicado a eles. Claro poucas pessoas, os amantes de circo já não existia como no passado. Justino cresceu e era um menino comum, sorria muito e quase não chorava. Aos dois anos viram que ele não conseguia andar. O médico diagnosticou uma doença desconhecida. – Justino não iria andar nunca mais! Foi um choque para todos. Seus pais tentaram tudo, mas não adiantou. Aos sete anos Justino se acostumou à cadeira de rodas. Rodava para todo lado, sorria, cantava e só ficou muito triste quando soube que nenhuma escola o queria como aluno. Justino adorava de se pintar de palhacinho e nestas horas se transformava em um alegre contador de piadas. Em uma tarde o Senhor Hornelas proprietário do Circo fez um convite: - Quer apresentar como palhacinho? Se quiser tem dez minutos! Foi um estrondoso sucesso. Ficou conhecido da meninada que aos sábados e domingos lotavam o circo só para vê-lo. As palmas pipocavam e todos gritavam – Viva o Palhacinho Juju!

                  A vida não sorria para Justino. Apesar de admirado pela meninada ele se sentia triste. Não tinha amigos, não tinha uma turma para conversar. Quando se aproximava todos se afastavam. Seus pais sabiam o que Justino sentia. O que se passava no coração daquele menino que se mostrava alegre e bonachão. Um dia Justino saiu sem destino. Passou em ruas, pontes e chegou a um pontilhão de estrada de ferro e pensou em passar por ela. Se viesse um trem? Bom pensou Justino, assim minha vida desaparece e quem sabe lá no céu eu possa andar? Seus olhos encheram-se de lágrimas. O que adianta me aplaudirem se fora do circo só mostravam compaixão e diziam piadas sem nexo? Quando se aproximou do pontilhão ele viu vindo em sua direção uma mulher. Linda, vestida de branco, parecia que pairava no ar. Quando chegou perto dele ela disse: - Justino, aceite sua vida, foi você quem pediu. Lembre-se que o mundo da muitas voltas e um dia você irá andar e correr por todo o universo!

                       Justino voltou para casa. Correu para seu lugar favorito atrás do circo sem iluminação onde podia ver as estrelas brilhantes e chorou. Chorou muito. Pediu a Deus que o levasse. Ele não queria continuar assim. Que adiantava aprender a ler com seus pais? Que vantagem deles cantar para ele na hora de dormir? Para que aplausos se ao sair do picadeiro sabia que não tinha amigos? Porque meu Deus! Naquela noite foi para o picadeiro triste. Um palhaço que chora por dentro e ri por fora. Pensou até em não apresentar, mas quando as palmas pipocaram ele se transformou. Notou que a plateia era de meninos e meninas de uniforme azul e caqui, de Chapelão, lenço verde e amarelo no pescoço e todos gritavam: - Justino! “Justino”. Ele esqueceu suas mágoas, mostrou suas qualidades de palhaço, contou as mais lindas piadas e no seu numero do barril todos aplaudiram por muito tempo. Alguns rolaram no chão de tanto rir. Quem eram eles? Porque eu também não sou um deles? a tristeza voltou. No final do espetáculo, naquela noite fria ele esqueceu dos novos amigos do circo. A noite escura e sem luar trazia a verdadeira realidade para Justino. Seu momento mágico se foi. Justino como sempre chorou, ficou horas engasgado não compreendendo porque tinha de ser assim.  

                     Foi dormir bem tarde. Teve um sonho diferente. Tinha pernas para correr e andar. Agora estava com a turma dos Escoteiros correndo pelos campos, acampando e cantando o Rataplã! Acordou suado e pensou de  onde tinha tirado isto. Olhou na beira da cama e sua cadeira de rodas estava lá. Amargurado disse que nunca mais iria se apresentar no circo. Resolveu dar um passeio nos arredores, ao sair ouviu uma algazarra enorme. Vários chefes e Escoteiros estavam a sua procura. Não entendeu bem. Eles o pegaram e o jogaram para cima. Sempre dizendo: - Hora de ser Escoteiro amigo! Topas? – Eu? Como? – vais saber como. Seus pais sorriram e disseram para ir com eles. – Justino, você agora será um dos nossos. Todos os sábados vamos vir aqui buscá-lo. Justino estava sonhando, só podia, mas quando chegou na sede e foi ovacionado ele sorriu de felicidade.

                   Justino aprendeu a cantar, a jogar na sua cadeira de rodas e até acampamentos ele fez. A patrulha Cuco sorria com ele com suas piadas seu jeito alegre de enfrentar as dificuldades. Foi no acampamento que tudo aconteceu. Justino amou amar barraca, tentou ser cozinheiro, mas queimou o arroz e o bife. Ninguém reclamou. Dormiu em uma barraca com mais três amigos. Dormia feito um anjo. Todas as noites Justino sentado na sua barraca pedia a Deus para não acordar daquele sonho. Agora sua vida era outra. Ainda dava seu espetáculo no circo, mas com mais alegria e até mesmo o publico aumentou. Seus pais sorriam ao ver a felicidade do filho. Ninguém nunca entendeu quando Justino contou que a mulher de branco o visitou naquela noite. Ninguém acreditou quando ele ficou em pé e deu seus primeiros passos sem ajuda de ninguém. A partir daquele dia Justino nunca mais chorou. Chorou sim de felicidade.


                   Justino cresceu, não foi o palhacinho que deseja ser. Se formou em medicina. Se tornou um médico famoso por ajudar a todos sem olhar se podia ou não pagar. Seus pais nunca deixaram o circo. Justino sempre ficou junto deles em qualquer cidade que armam sua tenda. Lembro quando conheci o Palhacinho Juju, seu circo, seus pais e quando me vem à mente o seu sorriso me encho de júbilos. Foi uma enorme emoção no dia que ele se levantou da cadeira de rodas e andou gritando e chorando agradecendo a Deus. A emoção nunca foi esquecida. Não acreditam? Eu estava lá! 

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