segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A difícil decisão do Escoteiro Andrezinho.


Lendas escoteiras.
A difícil decisão do Escoteiro Andrezinho.

                  Não o conheci pessoalmente e olhe daria tudo para ter conhecido. Tornou-se uma lenda não só pelo seu passado Escoteiro como pela escolha que um dia teve de fazer. Contaram-me que ele morava na Rua Santo Antonio bem lá no fim da rua próximo ao campinho do curtume. Família simples, pai carroceiro trabalhava de sol a sol levando areia do Rio Mimoso para as construções na cidade. Sua mãe fazia faxina em casas de madame todos os dias. Ele chegava da escola e só à noite eles chegavam. Sei que eram uma família unida. Um amor enorme entre eles. Andrezinho nunca exigiu nada. Chorava calado quando precisava de alguma coisa e sabia que não poderiam comprar. Ainda bem que Andrezinho tinha um grande amor em sua vida. Ou melhor, dois. Seus pais e os Escoteiros. Amava sua patrulha. Quando lobinho seu problema maior não apareceu. Idade pequena, poucos observadores e ele passou incólumes os três anos que ficou lá. Tudo complicou quando passou para os Escoteiros.

                  Andrezinho era considerado como uns dos fundadores do Grupo Escoteiro Monte Sião. Entrou como lobo quando a Alcateia Flor Vermelha estava iniciando. Com o tempo foi amando mais e mais aquela turma que ele considerava seus irmãos. Mas nem tudo é como a gente quer. Claro, Andrezinho era um grande Escoteiro, mas também era um grande jogador de futebol. Era considerado o canhotinha de ouro e onde colocava o olho ele colocava uma bola. Seu Trancoso técnico do Clube Jardim de Alá foi quem notou que ali estava surgindo um dos maiores mitos do futebol. Quem sabe superior a Pelé. Quando ele olhava Andrezinho jogando seus olhos saltavam e ele via não só um grande jogador, mas também ser o seu benfeitor. Iria ganhar rios de dinheiro com ele. A principio era muito novo e ele deixou o tempo passar. Belizário o técnico dos meninos se encantava com Andrezinho. Seu time era considerado o melhor time infantil da região.

                   Ele não gostava de perder as reuniões escoteiras. Disse para seu Belizário. Este não gostou. Tentou demovê-lo e não adiantou. Pensou em colocar ele na parede e dizer – Ou os Escoteiros ou o futebol, mas achou que não estava na hora. Procurou o pai e a mãe de Andrezinho. – Explicou tim tim por tim tim e a resposta deles foi à mesma quando esteve lá na última vez – Seu Belizário, a escolha é dele. – Mas veja – Belizário dizia – Ele tem tudo para ganhar um bom dinheiro. Vocês iriam para a capital e quem sabe um time do exterior iria contratá-lo? – Nem assim. – Quem decide é ele repetiu o pai de Andrezinho. Quando Andrezinho ficava sabendo das investidas do seu Belizário ele ficava triste. Tinha noites que chorava em seu quarto porque sempre sonhou em ser alguém e dar aos pais o que eles mereciam.

                  Procurou o Chefe Lanfon. – Chefe o que eu devo fazer? – O Chefe olhava para ele e não sabia o que dizer. De um lado um futuro enorme e financeiramente o sonho de todo jovem do outro lado um escotismo puro, sincero, amigo, honrado e cheio de aventuras, e que daria a ele uma formação de vida de alguém que pudesse confiar. Claro ele poderia estudar, arrumar um bom emprego e ser alguém de outra forma. Mas dizer isto para Andrezinho? Afinal ele não amava a seu modo o futebol? Resolveu procurar o seu Belizário para trocarem ideias. Quem sabe não chegariam a um meio termo? Nem tanto mar nem tanto terra. Mas arrependeu-se. Seu Belizário não era um homem compreensivo. Só enxergava seus problemas seus sonhos e o dos outros que se dane. Chegou a declarar na cara do Chefe Lanfon que Andrezinho era seus ovos de ouro. Ele não iria repartir nunca com ninguém.

                 Para piorar as coisas seu Belizário começou a fazer treinos sábados a tarde. Eram realizados sempre as terças e quintas e domingos os jogos. Seu Belizário ficava possesso quando ele não ia a um jogo aos domingos. Não era sempre, mas Andrezinho não perdia um acampamento, uma excursão ou uma atividade aventureira. Isto não ele dizia. Seu Belizário ameaçou cortá-lo do time. Andrezinho abaixou a cabeça e falando baixinho quase chorando disse – Escotismo é minha vida. Nunca vou deixá-lo. Mas as flores que brotam na primavera não escondem o medo que elas tem do outono. Claro que a ameaça do seu Belizário nunca cumpriu, mas o time sem Andrezinho ficou em quarto lugar na tabela. O povo gritava o nome dele e ele não aparecia. Estava acampando. Um a um, dois a um e cinco a um. Foi à gota. Perder de cinco para o Odeon da cidade de Pedra Branca era duro de engolir.

                 Uma comissão da diretoria do clube foi à casa do seu pai. Outra vez a mesma resposta. Ameaçaram de não comprar nada dele dali em diante se ele não obrigasse o filho a cumprir suas responsabilidades no time. E agora? Como explicar para Andrezinho? O Chefe Lanfon não sabia o que fazer e dizer. Ninguém sabia. Quem devia decidir era Andrezinho e pronto. Mas uma responsabilidade desta para um menino de treze anos? – No jogo da semana seguinte na cidade de Pedra Branca era uma festa só. O povo gritando – cinco a um, cinco a um! O time da cidade de Mimoso quando chegou foi vaiado. O povo quer sangue pensou o técnico e o Presidente do clube. - Andrezinho veio? Não! – Maldito moleque. Escoteiro sem honra. Sabia que precisava defender sua cidade. Inicio do jogo os dois times entram em campo. Andrezinho chega correndo espavorido. O Chefe Lanfon o levou no seu Velho Jipe willys até Pedra Branca. Estavam acampados a cem quilômetros dali. O jogo terminou em sete a três para Mimoso. Carregaram Andrezinho por todo o campo. Ele havia marcado seis gols do sete.


                   Quer saber? Nem sei o que aconteceu daí para frente. Lembrei-me de Andrezinho, pois soube que o Time principal de Laranjal agora na primeira divisão o contratou. Os jornais diziam  que ele era a maior revelação de todos os tempos. No primeiro jogo contra o Louva Deus ele fez cinco gols. (risos). Mas sabe como é o time querendo fazer caixa o vendeu para o Roma da Itália. Precisavam ver a mansão onde mora. Seus pais estão junto com eles e quando vi as fotos assustei – No patio gramado da mansão uma Tropa Escoteira formada para a bandeira. Grande Andrezinho. Seu amor ao escotismo não foi perdido. Li na página de esportes do jornal o Corriere dela Sera que os Escoteiros Italianos o idolatram. Estava escrito também que ele sempre que possível ia acampar com os Escoteiros de lá. E você já ouviu falar no maior jogador de todos os tempos, um Escoteiro que marcou para sempre a cidade de Mimoso e hoje mora em uma mansão em Roma? É Andrezinho soube escolher bem. Em suas andanças nas folgas não esquece nunca sua cidade. O Grupo Escoteiro Redenção tem tudo que um grupo precisa. E quando ele aparece é festa na certa! Viva Andrezinho um Escoteiro que tem no coração o futebol e B-P!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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