domingo, 4 de outubro de 2015

Lobo, lobo, lobo! (Uma homenagem ao dia do Lobinho)


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Lobo, lobo, lobo!
(Uma homenagem ao dia do Lobinho)

As alegrias de Tião o Lobinho.
             Uma noite perto da estrada do Sol Nascente, Tião voltava da roça carregando como sempre sua enxada atrás de seu pai. Foi um dia cansativo e escaldante.  Nem na escola foi. Gostava de ir, era sempre uma alegria ver dona Elza ensinando e sorrindo para todos. Não que ele não amasse seu pai, nada disso, mas precisava trabalhar antes que as chuvas de setembro chegassem. Ao passar pelo Sítio das Esmeraldas ele viu uma cena inusitada. Não sabia quem eram ou o que faziam, mas eram meninas e meninos de sua idade, vestidos de azul com um lindo boné e um lenço verde e amarelo cantando e brincando. Seu pai parou e ele parou também para olhar. Uma menina morena de cabelos negros veio correndo e pegou na mão dele dizendo: Venha brincar conosco! Ele olhou para seu pai. – Pode ir filho quando terminar volte para casa.

                 Ficou com eles até às oito da noite, foi convidado para o lanche, uma senhora simpática que todos chamavam Akelá deu-lhe de presente um lenço e um boné. Foi sorrindo para casa. Dormiu e sonhou com eles. No dia seguinte quando voltaram para a lide na roça eles não estavam mais lá. Ele ficou triste, lágrimas nos olhos. Seu pai o abraçou. – Filho seu dia vai chegar. Um ano depois antes de terminar a aula, Dona Elza contou uma novidade – Teremos em breve uma Alcatéia de lobinhos na escola. Quem quer participar? Tião não acreditava. Sentia-se o menino mais feliz do mundo. No dia marcado para começara ele viu a menina morena que o convidou com seu uniforme. – Sorriu para ele e lhe entregou um embrulho. Era o seu primeiro uniforme de lobo. Tião não sabia se sorria ou se chorava. Ele sabia sim que era o menino mais feliz do mundo!

Quando Ana voltou a ser feliz.
                    Ana nunca foi feliz. Desde pequena que não teve ajuda de ninguém para vencer as dificuldades que enfrentou. Cresceu em uma favela. Quase não conseguiu terminar o primeiro grau. Sua mãe adoeceu e morreu em pouco tempo. Com seus dezessete anos foi trabalhar de doméstica em uma casa do melhor bairro da cidade. Não era bem tratada. Era apenas uma empregada e nada mais. Um dia saiu de lá correndo por causa do dono da casa. Achou que ela era mulher de vida e tentou ataca-la na sala. Fugiu correndo sem levar seus poucos pertentes. Nem mesmo recebeu os proventos que tinha direito. Na rua não sabia aonde ir. Lágrimas corriam em seus olhos pensando na noite que ia chegar. Aonde ia se abrigar? Sentou na porta de uma lanchonete e a fome apertou. Não tinha dinheiro não podia pagar. Alguém colocou a mão em seu ombro. Assustou-se. Era um lindo rapaz de uniforme Escoteiro. – Estás com fome? Ela não queria contar e disse não.

                     Ele insistiu e ela aceitou um pequeno lanche. Ele tentava saber de sua vida e ela se fechava não contando para ninguém. Disse que ela poderia dormir na sua casa e ela riu pensando que era mais um querendo aproveitar. Ele ligou e logo chegou uma senhora de cabelos brancos e uma mocinha de seus treze anos, também uniformizados de Escoteiro. Não teve jeito ela aceitou. Ficou com eles por um mês. Fez tudo que pediram, mas eram educados demais para pedir. Ela não entendia porque o jovem a olhava diferente. Ela também sentia uma atração. Os meses passaram, Ana e Paulo se casaram. Ele a levou para o Grupo Escoteiro que sua mãe dirigia. Ela nunca sentia tão feliz. Tornou-se uma Chefe de lobinhos. Amava sua Alcatéia. As noites ela e ele sentavam na varanda e quase não falavam. Amavam-se através dos olhos de caricias feitas sem segundas intenções. A vida é assim, basta um segundo para nosso destino mudar. E o de Ana a vida trouxe para ela a felicidade que nunca pensou encontrar.

A saga de Poliana e a sede escoteira.
                      Todos estavam perplexos. O padre deu 30 dias para todos desocuparem a sede. Era ordem do bispo. Os vicentinos teriam prioridade. O Chefe Nonô com lágrimas nos olhos tentou argumentar com o padre e este foi irredutível. Fizeram um Conselho de Chefes, iriam fazer uma Assembleia. Sabiam que seria difícil reverter à posição do Bispo. Poliana estava inconformada. Afinal ela a Akelá o Balu a Kaa e todos os lobos ficaram cinco reuniões para fazer a Gruta do Conselho. Ficou linda num canto da sede. Poliana chamou Neco e Priscilla. - Não vamos perder nossa sede. Eu tive uma ideia. Vamos até o Palácio Episcopal no centro da cidade. O Bispo vai nos receber de um jeito ou de outro! Não participaram do cerimonial e não avisaram ninguém. Pegaram o ônibus e as três estavam na porta do palácio. Não foi difícil entrar, mas um vigia queria barrar a entrada até a sala do Bispo.

                          Os lobos não se deram por vencido. Deram uma quinada no vigia e subiram correndo as escadas. A policia foi chamada. Don Flávio assustado foi ver o que é. – Ora, ora, apenas três crianças e são lobinhos e vocês fazem um barulho deste? – Levou-os até seu escritório. Ouviu o que tinham a dizer. Mandou seu secretário buscar biscoitos e chocolates para eles. Poliana agradeceu e disse: Eminência, o padre vai tomar nossa sede escoteira. Disse que o senhor quem mandou. Como pode ser tão malvado? – Don Flávio quase caiu da cadeira. Não se lembrava disto, mas se estavam fazendo assim com os escoteiros ele iria tomar providencia. Mandou o secretário preparar o carro, pediu também para colocar bastante biscoito e chocolate para todos. Na sede foi uma festa. O bispo escreveu do próprio punho um documento. Enquanto houvesse um Lobinho ou escoteira a sede seria deles. Chefe Nonô e todos sorriam à lobada se divertia com os chocolates, o padre veio correndo e quase chorando pediu desculpas ao Bispo. É a males que vem para o bem. Enfim três lobinhos tomaram atitude de gente grande e resolveram à parada!


E parabéns lobos! Hoje é seu dia. Quem foi Lobinho nunca mais esquece. Afinal são poucos os que tem o privilegio de pertencer a Jangal de Mowgly!          

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