Lendas
Escoteiras.
Deixe o
destino seguir o seu caminho.
Eles
se conheceram no Grupo Escoteiro Montanhas da Lua. No inicio quase não se
falavam. Paulo era um Chefe entusiasta, vivia na tropa como se fosse um dos
meninos de patrulha. Todos o adoravam. Ele fazia questão de dar o exemplo.
Mesmo solteiro era homem honrado e trabalhador. Muitas vezes acreditou nas
palavras dos meninos e nunca negou a nenhuma patrulha que fizessem atividade
sem a presença do Chefe. Ele aprendeu a confiar. Sabia que quando fizesse um
jogo onde não se poderia ver não precisava de venda. Se o Escoteiro ou a
Escoteira disse que podia confiar e se completasse dizendo palavra de Escoteiro
ele sabia que ali tinha honra, tinha lealdade, tinha palavra. Ele fazia questão
de aplicar o sistema de patrulhas corretamente. Quando começou viu a tropa com
poucos jovens. Seis meninas, sete Escoteiros. Em menos de um ano as patrulhas
estavam completas. Ele adorava isto, fazer atividades Escoteiras com uma tropa
bem preparada, onde podia se dizer que não havia amadores era muito bom.
Marlene nem sabia por que entrou
para a Alcateia. Não conhecia ninguém. Um dia passou pela sede rumo à padaria
do bairro. Viu olhou, entrou e gostou. Resolveu participar. Foi aceita, pois tinham
poucos voluntários. A Alcateia cresceu, ela adorava os lobinhos. Entraram mais
duas assistentes. Não conhecia o movimento e agora aprendia depressa. Notou a
presença de Paulo na tropa. Ficaram amigos, mas só dentro do escotismo. Ele era
simpático e educado. Nonato o Diretor Técnico um dia convidou a todos os chefes
para passarem em sua casa, beberem um refrigerante, e comerem um churrasco. Sua
esposa fazia aniversário. Não eram muitos, mas com a diretoria havia pelo menos
uns quinze participantes. Marlene e Paulo sem perceber ficaram horas
conversando. Descobriram que tinham muito em comum. O namoro teve efeito
duradouro. O noivado não demorou. Casaram-se numa tarde de sábado na igreja São
Pedro com as bênçãos do Padre Wolflang. Um alemão abrasileirado que adorava os
Escoteiros, pois foi um em Aldenhoven cidade em que nasceu na Alemanha.
Paulo amava Marlene que
amava Paulo. Todos diziam que era difícil ter um casal assim. Iam para as
reuniões de uniforme a pé de mãos dadas. A vizinhança adorava os dois. Quando
Paulo pediu a Akelá para liberar Marlene para a tropa ouve um susto, mas todos
acharam que era direito. Afinal a Tropa Escoteira tinha dez meninas e só o
Paulo como Chefe não era direito. Um belo dia Paulo chegou do trabalho e recebeu
a noticia que sempre sonhou – Vamos ter um filho! Ele sorriu de orelha a
orelha. Ser pai era seu sonho. Pediu para Marlene que não fizesse o exame para
saber se seria menino ou menina. Ele gostaria de saber quando nascesse. Ela
concordou. Todo diziam que era menino e ou menina. Não havia unanimidade. Dizem
que todo parto se culmina à noite ou de madrugada. Em Três Ranchos havia um
pequeno posto de saúde com um medico. Ela fez o pré-natal em Valverde, oitenta
quilômetros de estrada ruim e cheia de buracos. Ia lá duas vezes por mês. O
Hospital Santa Cecilia tinha boas condições para parto.
Nos meses de espera, não se
preocuparam com nomes. – Quando chegar a hora vamos escolher dizia Paulo. Dito
e feito, duas da manhã de terça começaram as contrações. Dona Epifania parteira
achou melhor irem imediatamente para Valverde. Paulo preparou o mais que pode
seu fusquinha. Foram em quatro, ele Dona Epifania, José de Arimatéia seu
vizinho e amigo. Nem saíram da cidade caiu um enorme temporal. Paulo dirigia
devagar, preocupado e esperançoso. Sorria em pensar que poderia ser um menino.
Devia ser bom ter um filho homem pensava. Marlene sonhava com uma menina, ela
queria ter uma, pois em sua família só havia homens. O carro derrapou e bateu
em uma árvore. Ninguém se machucou. Marlene viu suas contrações aumentarem.
Dona Epifania disse que não dava para fazer o parto ali – “O menino tá virado
Chefe”! Ela disse. Paulo fechou os olhos sem saber o que fazer. Ele era um
Escoteiro, tinha iniciativa, mas e agora? O que fazer? O Fusca não ligava e ele
não tinha ideia de como proceder.
Paulo começou a ficar
desesperado. Rezava pedindo a Deus que não lhe tirasse seu filho e Marlene.
José de Arimatéia disse que ele ia até a fazenda do Coronel Totonho. – Eu sei
que ele tem uma charrete lonada. Vai me emprestar tenho certeza. Sumiu na
trilha rumo à fazenda debaixo daquele mundaréu d’água. Duas horas depois chegou
com a charrete. Ainda tinham mais de quarenta quilômetros a percorrer. A chuva
caia aos borbotões. Marlene sofria, mas não dizia nada. Matinha um tênue
sorriso e não reclamava dos solavancos da charrete na estrada. Menos de doze
quilômetros para chegar e eis que a estrada estava fechada por um enorme barreira.
Houve um desmoronamento. Não havia como passar. De novo José de Arimatéia pôs
mãos à obra. Derrubou a cerca de arame farpado. Paulo o ajudou. Não foi fácil
não tinham ferramentas. Uma hora depois e o dia clareando conseguiram
atravessar o pasto cheio d’água e muitas vezes com a charrete atolando. Às seis
da manhã chegaram ao hospital e não havia médicos!
Paulo carregou Marlene no colo, pois
ela parecia ter desmaiado. Pediu o telefone a atendente e ela se negou. José de
Arimatéia pulou o balcão e deu o telefone para Paulo que ligou para Adalberto,
um Chefe Escoteiro de lá. Às nove da manhã a rua do hospital estava cheia de
Escoteiros. Faixas e cartazes diziam – Onde está o medico? Onde está a
prestação de serviço do hospital de nossa cidade? Uma patrulha Senior foi até a
casa do prefeito. Outra atrás do delegado. Dez e meia chegou um medico
correndo. Onze e meia o parto foi realizado. Paulo nervoso não sabia o que
fazer. Junto a ele o seu grande amigo que o salvou José de Arimatéia o
abraçava. Dezenas de chefes da cidade dando a força que ele precisa. Um médico
chegou com cara de quem não quer nada – Quem é o Senhor Paulo? – Sou eu, ele
disse. Venha comigo, por favor. Precisamos conversar – Um silêncio enorme.
Todos pensavam a mesma coisa. O pior aconteceu!
Um minuto depois Paulo entrou na
recepção gritando. Nasceu! Nasceram gêmeos, um menino e uma menina, Marlene
está sorrindo de felicidade! Os gêmeos foram batizados em maio na Igreja de São
Pedro sob as bênçãos do Padre Wolflang. A história do nascimento dos gêmeos foi
contada por muitos e muitos anos. José de Arimatéia foi padrinho dos dois, de
Nany e Nando. Uma história de final feliz. Gosto disto. História onde Deus estava
presente e ajudou. Melhor dizer que o casal foi feliz para sempre. A família de
Paulo e Marlene formam o casal mais feliz de Três Ranchos. Podem haver outros,
mas escoteiramente falando eles tinham o sorriso do tamanho do coração
Escoteiro que possuíam.
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