Lendas
Escoteiras.
As aventuras
de Pimpinela Escarlate e seu pote de ouro.
Passavam das nove da noite. Os
lobinhos saltitantes nem pensavam em dormir. Ali naquele sitio distante brincavam
de esconde, esconde, um dizia ser Mowgly e outro Bagheera. Ninguém queria ser
Shery Khan. Olhei para Maninha minha esposa e pisquei os olhos. – Falei
baixinho para ela escutar: - Vou contar uma história e logo os primeiros
bocejos irão aparecer. Havia dois dias que estávamos acantonados. Seriam quatro
dias. Eu e ela estávamos cansados, mas felizes. Afinal eram apenas dois anos de
casados. Não esqueço aquele domingo que de surpresa o Pastor Noel Santos
adentrou a minha sala. Já o conhecia, gente boa, educado e prestativo. Foi logo
entrando no assunto, pois ele não gostava de rodeios: - Polaco preciso de você
e sua esposa. É uma emergência. Os dois chefes da Alcateia do grupo da igreja
resolveram sair. Não me disseram os motivos, mas quer saber? Acho que faltou
diálogo deles com o Diretor Técnico. O pior é que não são os primeiros. Você me
ajuda por alguns meses e prometo correr atrás de outros se não der conta!
Olhei para Maninha e ela
balançou a cabeça concordando. Fui Escoteiro no passado, mas nunca lobinho.
Chegamos à sede naquele sábado cheio de motivação. Quando vimos três meninos e
duas meninas desanimamos logo. Mas foi apenas o começo, em quatro meses a
Alcateia estava com dezoito lobinhos sendo nove meninas. O vento mudou de rumo.
Nós seguimos o vento e nunca nos arrependemos por ter aceitado aquela
responsabilidade. Naquela noite, devagar, fazendo gestos, comecei a contar a
História de Shery Khan. Sabia que a maioria novatos não conheciam: - Há muito
tempo, em um país chamado Índia havia na floresta enorme um tigre mau, feroz
que todas as noites percorria a selva em busca de alimentos. Chegou a uma
clareira onde estavam acampados um lenhador e sua família. Pensou que eles
seriam o banquete que ele sonhava. Viu um menino forte, alto dormindo. De um
salto pegou a mulher do lenhador. O Lenhador com sua espingarda correu para
atirar nele e Shery Khan fugiu. Naquele corre, corre o menino correu para
dentro da floresta. O menino assustado encontrou na colina um enorme lobo. Ele
o lobo com pena o levou para sua morada na caverna.
Polaco o Balu viu que um
menino balançava a mão. - Balu! Ele disse. Quando terminar o Senhor conta a
história do menino e seu pote de ouro? Polaco viu que era Josué, mas todos o
chamavam de Pimpinela Escarlate. – Não conheço está, ele disse. – Balu, é
aquela que o menino soube que havia no final do arco íris um pote de ouro, todo
mundo ria e sabia que era mentira, mas o menino não. Ele foi lá e encontrou o
pote de ouro. A mente de Polaco o Balu correu cinco meses atrás. Foi quando a
mãe de Pimpinela o matriculou. Era um menino comum, igual a tantos lobinhos que
ele conhecia. Mas tinha uma mente fértil e muitas vezes ele parava e parecia
estar dispenso, viajando pelo pensamento em algum lugar. Ele gostava de
Pimpinela, claro gostava de todos na Alcateia mas Pimpinela e Nancy tinha um
lugar especial no seu coração. – Posso contar outro dia? Falou Polaco o Balu.
Hoje não dá mais tempo. Prometo na próxima reunião.
- E vendo que todos quase
dormiam sentados na grama, Polaco o Balu terminava a história de Mowgly: - E
foi então que Raksha se uniu ao seu esposo para expulsar o tigre dali, pois ela
havia se proposto a cuidar do menino, que um dia cresceria e teria condições de
matar o Shere Khan. – Polaco o Balu viu que o sono estava no rosto de todos os
lobos. Ele e Maninha levaram todos para dormir. Noite enluarada já haviam
preparado as barracas onde passariam aquela noite. Polaco o Balu e Maninha nem
perceberam quando amanheceu. O sol já ia alto. Muitos lobos já tinham acordado
e faziam uma gostosa algazarra na grama perto do campinho de futebol. Maninha
se aprontou e formou os lobos. Na cozinha Dona Eufrásia já estava de pé e fazia
o café da manhã para todos. Uma mãe de Escoteiro que eles tiravam o chapéu.
Sempre pronta a ajudar sem esperar recompensas.
Foi no café, já dia
claro que deram falta de Pimpinela Escarlate. Ninguém sabia dele. Paolo o lobo
da matilha cinzenta foi quem contou que ele ia achar o pote do ouro. Polaco o
Balu olhou para o céu e viu um belo arco íris. Em algum lugar perto dali
deveria ter chovido. O susto foi grande. Dona Eufrásia ficou tomando conta de
todos e os dois chefes partiram atrás de Pimpinela Escarlate. Polaco o Balu
estava preocupado. Muito preocupado. Sabia que não havia cisternas sem tampa,
nenhum rio e só um pequeno riacho. A montanha sumia de vista. Será que ele foi
para lá? Andaram e andaram e nada. Ambos roucos de tanto gritar por Pimpinela
Escarlate. A mente de Maninha corria a mil. Como contar para a mãe dele que ele
sumiu? Nunca deveriam ter dormido tanto e esqueceram de que estavam em barracas
e o som do riacho e dos pássaros os encantou para dormir mais.
Polaco o Balu e Maninha já
estavam desistindo. Não queriam fazer do sumiço de Pimpinela um espetáculo para
que todos dissessem que o escotismo não cuidava de seus meninos. Maninha
chorava baixinho. Polaco o Balu tirou seu celular e já discava para o Corpo de
Bombeiros. Precisava de ajuda e agora era hora de assumir as responsabilidades.
Foi Maninha que olhando para a montanha julgou ter visto Pimpinela descendo
pela trilha. Correram até lá e o avistaram. Graças a Deus! Bendito seja todos
os santos! Pimpinela estava ali são e salvo. Polaco o Balu prometeu a si mesmo
nunca mais o deixar sozinho. Ele não era de confiança. Quando chegaram perto
dele levaram o maior susto. Impossível, inacreditável. Ninguém iria acreditar.
Mas era verdade, na mão de Pimpinela Escarlate estava lá, um pequeno pote e
dentro cheio de ouro!
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