sexta-feira, 15 de abril de 2016

A dança da morte.


Lendas Escoteiras.
A dança da morte.

                Os ponteiros do relógio se aproximavam da meia noite. Em volta do fogo eu Tomazo e Toninho Caixão. Sinceramente? Ele me dava arrepios. Adorava uma história de terror. Não perdia uma oportunidade para tirar do tumulo as almas do outro mundo. Adorava visitar o cemitério da cidade. Era Sênior da Patrulha Cova Rasa. Isto mesmo. Brigou com todos para ter este nome. Dizem que era um bom Escoteiro e a chefia tinha por ele um respeito que no meu modo de ver era mais medo do que ele poderia aprontar. Olhou-me enviesado. Sentado a moda índia não tirava os olhos para o fogo – Vado! Eu conheci Nando. Olhei para ele de soslaio. Sabia que aí tinha treta. Tinha susto tinha capeta. Sei que não vai acreditar, mas nunca achei que ele chegaria a tanto. Se chegue, se sente se estique, pois esta história eu faço questão de contar...

                  - Desde que nasceu Nando ouvia falar em Deus. Sua mãe o obrigava a rezar, o padre a confessar, na escola professoras enchendo sua cabeça de Deus. Nando queria falar com Deus, mas ele nunca o atendeu. Entrava em igrejas, em templos em busca Dele e nada. Ficou cinco dias no monte Caparal olhando as estrelas procurando um sinal. Nada. Resolveu jejuar por um mês e ver se Deus iria aparecer. Nada. Nando desistiu. Esse Deus não existia. Se Deus não existe quem sabe o Demônio? O Capeta? Ia provar que ele também não existia. Mas para isso teria que fazer a invocação com a Dança da Morte. Havia lido sobre ela. Horrenda, alguém tinha de morrer para ela existir. O que iria fazer seria horrível, mas valeria a pena provar que o inferno não existia. Nando era magrinho, cara de “fuinha” na escola o chamavam de “porquinho da índia”. Alugou um sitio próximo a cidade. Avisou seus pais que iria fazer uma viagem de um mês para não se preocuparem.

              Ele conhecia Safira, uma menina magrinha, com treze anos, muda e que morava com a avó próximo a sua casa. Safira quase nunca saia de casa. Olhos pequenos, cabelos escorridos, nada de belo em sua aparência. Nando a raptou quando ela ia a padaria comprar pão. Fazia isso toda a manhã. Colocou-a em seu fusquinha e partiu para o sitio. Tinha comprado éter embebido em um lenço viu que Safira tinha desmaiado. Ao chegar ao sitio, tirou a roupa de Safira, deixou-a nua. Pequena, magra, apenas treze anos não possui nenhum atrativo sexual. Levou-a ao quintal, colocou-a dentro de um tanque de agua fria, amarrou seus braços abertos em duas estacas fincadas ao lado do tanque com cordas finas. Ela não tinha como levantar e teria que ficar dentro da água só com a cabeça para fora. Safira quando acordou estava horrorizada. Abria a boca e só saia grunhidos. Seus olhinhos saltavam como se fosse fugir. A dor era incrível.

               Tentava gritar, pedir ajuda, implorou a Nando com seus olhos assustados.  Ele com um canivete cortou varias lascas finas de bambu. A cada hora enfiava uma lasca em uma parte do corpo de Safira. Gargalhava, estava louco e clamava chamando os demônios. Sentiu-se bem quando o sangue vermelho de Safira se mistura com a água do tanque. No segundo dia ela desmaiou. Com um pequeno alicate, arrancou a força duas unhas de sua mão direita. E duas do pé esquerdo. A dor era demais. Safira gemia horrorizada tentava gritar era muda não tinha voz e nem um grito se ouvia. Desmaiava e acordava. Uma dor tremenda. Não entendia nada do que estava acontecendo.

                 À noite Nando tirou sua roupa. Pintou-se de preto. Matou um galo que tinha comprado. Espalhou as penas e o sangue em cima de Safira que estava desmaiada. Sem socorro Safira iria morrer em pouco tempo. Não aguentava mais de tanta dor. A meia noite Nando começou a gritar cacarejara e levava as mãos ao céu dizendo: – Apareça demônio! Mostre sua força! Mostre que você existe! Onde está você demônio dos infernos! E gargalhava como um louco. Dançou por muito tempo a Dança da Morte. Safira acordou assustada. Viu aquela visão dos infernos e pediu a Deus para levar sua alma para o céu. Safira horrorizada via aquele louco, aquele satanás gritando e dançando a dança da morte.

                  Olhe Chefe disse Toninho Caixão. Se não fosse Estônio um Chefe Sênior nem sei o que teria acontecido. Uma noite ele acordou assustado. Dois dias como o mesmo pesadelo. Estônio era investigador de polícia, casado com dois filhos homens. Um de três e outro de cinco anos. Amava os escoteiros. Sentia-se bem quando estava com seu uniforme. Adorava sua profissão e ria quando os meninos e meninas da tropa pediam para ele contar historias de bandidos em acampamentos ou mesmo na sede. Considerava-se um bom policial. Nunca abusou e nunca deixou de cumprir suas obrigações dentro da lei. Seu pesadelo o levava sempre ao mesmo sitio que ele não conhecia. Uma menina indefesa na mão de um maníaco. Teria que ser verdade. Isso só podia ser um sinal de Deus. Teria que descobrir onde era o tal sítio. Sem querer comentou com os monitores seu sonho. Estava preocupado.  Rildo um dos monitores lembrou que seu pai alugou um sitio para um homem que seria para um mês somente.

                  Junto ao pai de Rildo ele foi ao sitio. O que encontraram lá era uma verdadeira história de terror. Nunca imaginaria algum parecido. Ele pensava que era um bom policial, temente a Deus e já tinha trocado tiros com bandidos da pior espécie. Mas o que viu deixou-o estarrecido. A maldade não poderia chegar a tanto. Tinha visto muitas coisas na sua profissão, mas o que viu superava tudo. Ainda encontraram Safira com vida dentro do tanque. Desmaiada, machucada, mas respirava. Em volta pedaços de corpo de um homem todo queimado. Tinha sido esquartejado. Seus membros fediam. Acharam sua cabeça fincada em um bambu. Sua língua para fora mostrando que morrera gritando horrorizado. Todos os membros cortados, lascas de bambus pontiagudos. Nas duas mãos e nos dois pés nenhuma unha foi arrancada a alicate.

                Nando ficou estarrecido. Depois que a ambulância levou Safira, ele olhou e viu uma porteira saindo fumaça como se estivesse queimando. Foi até lá. Viu escrito a fogo nas taboas e o que leu gelou suas veias. Estarrecido imaginou o que poderia ter acontecido ali. Dizia: – “Não se preocupem. Ele queria me ver, duvidava de mim. Ele agora vai morar comigo. Lá no meio dos infernos e vai queimar comigo para sempre” assinado o “Demônio”.


               - Fui dormir. Toninho Caixão ficou em volta do fogo sozinho. Olhei para ele e ele sorria com os olhos esbugalhados. Nunca esqueci esta história. Contei uma vez em um final de Fogo de Conselho. Todos adoraram, mas ninguém dormiu naquela noite. Até hoje me perguntam se foi verdade. Só respondo para perguntar ao Toninho Caixão. Ele sim sabe da verdade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....