Lendas
Escoteiras.
Nada
é para sempre a vida é um vai e vem.
Nunca esqueci Vitória.
Uma menina triste, fechada em si mesma, de casa para a escola e vice versa. Em
alguns fins de semana ia com sua mãe Lorraine a passear no shopping. Seu pai ela nunca soube quem era. Sua mãe se
fechava quando falava nele. Vivia presa em si mesma, quase nenhuma amiga a não
ser Noêmia que na escola falava, falava e falava. Noêmia era de bem com a vida.
Vitória queria ser assim, mas por mais que tentasse nunca conseguiu se abrir
com ninguém. Vitória nunca esqueceu o dia que Noêmia, displicentemente a
convidou para entrar nos escoteiros. – Coisa de meninos disse ela. – Não
Vitória, agora aceitam meninas. Conversou com sua mãe. Um sorriso aflorou no
rosto dela. Quem sabe um lugar para ela sorrir? – Irei com vocês. Dizem que
nada é para sempre, dizem que a momentos que parecem ficar suspensos, pairando
no ar sobre o fluir inexorável do tempo. Sua vida mudou. Transformou-se em uma
jovem menina feliz alegre e jovial.
No primeiro acampamento
ficou encantada. Os pássaros quase pousando em suas mãos, a mata verdejante, o
chuá, chuá da pequena cascata a barulhar em volta do seu Campo de Patrulha, a
liberdade de fazer, de construir de se sentir alguém importante na Patrulha, a
vontade de ajudar, de dizer que encontrou o seu lugar no mundo que antes se
fechou para ela. Vinte e duas meninas que vibravam cada segundo, que estavam
encantadas com uma vida diferente, soltas ao vento que vem e vai, o luar
noturno, o sol vermelho, o fogão cozinheiro, o banho gelado, o cantar do
bem-te-vi, o fogo mateiro, o fogo do conselho, quantas coisas ela aprendeu a
fazer e a usar com suas próprias mãos para viver ali em plena natureza. Foi
Naty quem declamou em volta de uma pequena fogueira em frente à barraca,
palavras que ficaram marcadas para sempre: - “Em todas as idas e vindas, obscuramente eu sempre sabia: embora tudo
mude nada muda por que tudo permanece aqui dentro, e fala comigo, e me segura
no colo quando eu mesma não consigo sustentar. E depois me solta de novo, para
que eu volte a andar pelos meus próprios pés”. – Foi lindo demais.
Como disse o poeta, nada
dura para sempre, nem as dores, nem as alegrias. Tudo na vida é aprendizado e
tudo na vida se supera. Tudo o que é belo é uma alegria para sempre O seu
encontro cresce; e não cairá no nada. Mas guardará continuamente para nós um
sossegado abrigo, e um sonho todo cheio de doces sonhos de saúde e calmo
alento. Seu sonho simplesmente acabou. Desmoronou. Seu amor, sua paixão
escoteira escorregou nos dedos de sua mão. – Vitória, é hora de partir. Ela
olhou para sua mãe sem entender. Por quê? Sua mãe chorou. Abraçada ela chorou
também. Foram para outra cidade. Melhor emprego, melhor salário. Ela não
entendia, não queria e como derramou lágrimas na hora da partida. A Patrulha
cantou que não era mais que um até logo, mas ela sabia que seria para sempre. As
pessoas crescidas têm sempre necessidade de explicações... Nunca compreendem
nada sozinhas e é fatigante para as crianças estarem sempre a dar explicações.
O tempo passou. Vitória
cresceu, virou mulher. Não casou nunca encontrou seu príncipe e nem sabia se um
dia ele iria aparecer. Ela repetia em seu pensamento as palavras da poetiza: -
“O amor não existe, e, se existe não dura pra sempre. E, se não dura pra
sempre, não é amor. E nada dura pra sempre.” Formou-se em psicologia. Preferiu
escrever. Escrevia tudo não seria uma escritora de talento, mas era o que
gostava. Voltava do escritório e resolveu parar no Parque Trianon. Sentou a
sombra de um cajueiro, fechou os olhos e voltou ao passado. Ah! Quanto pagaria
para voltar a acampar? Lágrimas apareceram. Sentiu um soluço ao seu lado.
Olhou. Era uma menina como ela um dia foi. – O que ouve mocinha? Ela com os
olhos rasos d’água olhou para Vitória e suspirando disse: - Mamãe não quer me
deixar acampar!
Incrível! Nada se compra a
dor de um destino alterado que ela pensou ser para sempre. – Onde está sua mãe?
– Ela apontou... Uma senhora simples tentando sorrir para o caçula que brincava
no escorregador. Aproximou-se – Posso lhe falar? Um sorriso simples, uma calma
sincera. Um olhar de quem sofreu muito no mundo. – Fui escoteira, amava a vida
que levava. Adorava acampar. Lá no campo meu sonho se transformava em
realidade. Sentia a brisa na face, ouvia rincões de vales que falam sem a gente
perceber, via a lua chegar dizendo eu estou aqui. Sol volte amanhã! – A senhora
olhou espantada. – Vitória continuou. Quero ajudar. Não quero esquecer meu
passado. Tive tudo e hoje não tenho nada. Tudo resolvido ela e a jovenzinha
foram para a sede. Uma alegria, um sonho vivo no real. Interessou-se por tudo.
Mais moderno, não como antes, mas o mesmo rompante das jovens que iam acampar.
Ela
sabia, tinha certeza que mesmo sabendo que nada é para sempre, nada se compara
à dor de um destino alterado por uma vida. Ela podia mudar. O destino lhe
pertencia, não deixaria sem direção sem caminho a seguir. Vitória sabia que não
se volta no tempo, mas podemos mudar quando quisermos e seguir à onda do mar.
Depois de tanto tempo ela entendeu que nada é pra sempre, que a gente só dá
valor quando perde realmente, que não existe destino, porque se você mudar uma
peça do seu presente, ela pode mudar todo o seu futuro, e que não adianta a
gente lamentar pelo o que não fez, e se arrepender do que fez de nada vale
isso, você vai sofrer se martirizar por um bom tempo, ou talvez pra sempre, mas
com certeza isso não vai edificar nada na sua vida, só vai te fazer lembrar
coisas que não te fazem bem, e que não vão fazer você evoluir. Portanto era
hora de mudar, refazer sua vida e porque não voltar a acampar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário