domingo, 17 de julho de 2016

Juninho.


Juninho.

Era seu primeiro acampamento. Estava perdido em seus pensamentos e olhava o cozinheiro com olhos havidos. A fome apertava. Ele se lembrava das palavras do Monitor quando chegaram ao campo e ele sentindo-se completamente perdido não sabia o que fazer: - “Nunca decepcione alguém que seria capaz de fazer tudo por você”. Olhou para o céu, sentiu o sol queimando seu corpo. Deu uma vontade enorme de chorar. Não ouviu sua mãe dizer ao seu pai que quando ele fosse acampar, não iriam proibir? - Deixe-o ir disse seu pai. É melhor uns meses de coração partido do que uma vida inteira de decepções diárias. Ah! Que saudades do Balu, da Akelá que quando chorava todos vinham correndo consolar. Todos tinham dito para ele a dureza de um acampamento. O Sub rindo lhe falou: - É coisa para homens! E ele não era? Ele sempre foi um Mowgly, desafiou Shery Khan na Selva e venceu seus medos com a flor vermelha mostrando ao tigre mau que ele era um lobo da Alcatéia de Seeonee.

Mas ali era diferente. Ali não tinha a Kaa para falar baixinho quando ele ia dormir: - Durma meu Mowgly, sorria para seus problemas e ignore suas decepções. Amanhã o sol irá voltar e a lua esconder para que as estrelas possam descansar. Ele ajudou nas barracas, tentou fazer uma fossa, mas suas mãos de jovem Escoteiro não conseguiu. Calos enormes, um cansaço tremendo, uma fome enorme. Olhou para o Cozinheiro que soprava feito um louco uns gravetos que teimavam em não acender. – Quando vou comer? Ele pensou. Na Alcatéia tinha hora marcada, mas tinha biscoito, tinha suco tinha o sorriso da Akelá que sempre dizia a ele: - Calma Juninho por maior que seja não há obstáculo que não possa ser superado. Lembre-se que às vezes o apoio e o conforto que você precisa vem de onde menos espera. Porque saiu do calor e do conforto da selva de Mowgly? Não disseram que a cidade dos homens era seu lugar?

Seus olhos encheram-se de lágrimas. Um nó na garganta não o deixava chorar. Seu corpo tremia. Mas não disseram para ele que ali era a morada dos fortes? Não disseram que ele era mais forte do que imaginava? Se pudesse gritava bem alto: - Mamãe! Mamãe! Queria correr pela mata, queria voltar na trilha que o trouxe ali de volta a cidade que tinha tudo na mão. Soluços brotaram. O Cozinheiro com os olhos vermelhos da fumaça sorriu para ele. – Venha chamou. Aqui existe um mundo mágico neste fogo e nesta fumaça que se você quiser pode ser sua zona de conforto. Ele tentou sorrir. Aproximou-se. – O cozinheiro completou: - Escoteiro aquele que não luta para ter futuro deve aceitar o futuro que vier. Enfiou a mão no bolso e lhe deu um pedaço de torta que devia ter trazido de casa. Mastigou devagar, saboreando cada dentada. Alguém lhe afagou os ombros. Era o monitor sorrindo.

O monitor o olhou dentro dos olhos. Seu sorriso era contagiante. – Já lhe contei meu primeiro acampamento? Juninho balançou a cabeça dizendo não. – Gritei de medo, corri feito um louco embrenhando-me na mata. O Chefe veio correndo e me abraçou. – Falou baixinho no meu ouvido: - Sorria, só ria. Acalma a alma. Se derrame, se der ame. Releve, se eleve. Respira e, por favor, não pira. Se o olhar vale mais que mil palavras as palavras do Chefe valia todo acampamento que ainda iria acontecer. – Olhe Juninho esqueça os piores momentos de sua vida e faça os melhores como este acampamento se tornarem inesquecíveis. Aproveite cada minuto, porque o tempo não volta. O que volta é a vontade de voltar no tempo e do seu primeiro nunca mais esquecerá! Palavras amáveis não custam nada, porém valem muito principalmente naquela hora. Juninho correu para ajudar o lenheiro que chegava com um feixe de lenha seca.

Solidariedade é o amor em movimento. Buscou água, cortou bambu, e quando deu de si o almoço estava pronto e a marmita em prontidão. Ele foi o primeiro da fila. Pensou consigo que o primeiro seria para sempre. Ele não iria desistir. Iria provar para si mesmo que podia ser como os outros. Outra vez lembrou-se do Balu: - Que os teus olhos possam enxergar sempre o belo que existe em tua jornada e em seu próximo. Na mesa da refeição olhou a cada patrulheiro. O cantar, o olhar, os causos, os olhos brilhando por aquele dia e nos demais eram uma dádiva para ser feliz. Não foi a Bagheera quem disse que felicidade era encontrar a saída e querer ficar para sempre? À noite quando entrou na barraca, ajoelhou e rezou. Deus obrigado. Não sabia mais o que dizer. Ouviu seu monitor falar baixinho: Caiu? Levanta. Terminou? Recomeça. E para as outras coisas... Sorria!



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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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