Juninho.
Era seu
primeiro acampamento. Estava perdido em seus pensamentos e olhava o cozinheiro
com olhos havidos. A fome apertava. Ele se lembrava das palavras do Monitor
quando chegaram ao campo e ele sentindo-se completamente perdido não sabia o
que fazer: - “Nunca decepcione alguém que seria capaz de fazer tudo por você”.
Olhou para o céu, sentiu o sol queimando seu corpo. Deu uma vontade enorme de
chorar. Não ouviu sua mãe dizer ao seu pai que quando ele fosse acampar, não
iriam proibir? - Deixe-o ir disse seu pai. É melhor uns meses de coração
partido do que uma vida inteira de decepções diárias. Ah! Que saudades do Balu,
da Akelá que quando chorava todos vinham correndo consolar. Todos tinham dito
para ele a dureza de um acampamento. O Sub rindo lhe falou: - É coisa para
homens! E ele não era? Ele sempre foi um Mowgly, desafiou Shery Khan na Selva e
venceu seus medos com a flor vermelha mostrando ao tigre mau que ele era um
lobo da Alcatéia de Seeonee.
Mas ali
era diferente. Ali não tinha a Kaa para falar baixinho quando ele ia dormir: -
Durma meu Mowgly, sorria para seus problemas e ignore suas decepções. Amanhã o
sol irá voltar e a lua esconder para que as estrelas possam descansar. Ele
ajudou nas barracas, tentou fazer uma fossa, mas suas mãos de jovem Escoteiro
não conseguiu. Calos enormes, um cansaço tremendo, uma fome enorme. Olhou para
o Cozinheiro que soprava feito um louco uns gravetos que teimavam em não
acender. – Quando vou comer? Ele pensou. Na Alcatéia tinha hora marcada, mas
tinha biscoito, tinha suco tinha o sorriso da Akelá que sempre dizia a ele: - Calma
Juninho por maior que seja não há obstáculo que não possa ser superado.
Lembre-se que às vezes o apoio e o conforto que você precisa vem de onde menos
espera. Porque saiu do calor e do conforto da selva de Mowgly? Não disseram que
a cidade dos homens era seu lugar?
Seus
olhos encheram-se de lágrimas. Um nó na garganta não o deixava chorar. Seu
corpo tremia. Mas não disseram para ele que ali era a morada dos fortes? Não
disseram que ele era mais forte do que imaginava? Se pudesse gritava bem alto:
- Mamãe! Mamãe! Queria correr pela mata, queria voltar na trilha que o trouxe
ali de volta a cidade que tinha tudo na mão. Soluços brotaram. O Cozinheiro com
os olhos vermelhos da fumaça sorriu para ele. – Venha chamou. Aqui existe um
mundo mágico neste fogo e nesta fumaça que se você quiser pode ser sua zona de
conforto. Ele tentou sorrir. Aproximou-se. – O cozinheiro completou: - Escoteiro
aquele que não luta para ter futuro deve aceitar o futuro que vier. Enfiou a
mão no bolso e lhe deu um pedaço de torta que devia ter trazido de casa. Mastigou
devagar, saboreando cada dentada. Alguém lhe afagou os ombros. Era o monitor
sorrindo.
O
monitor o olhou dentro dos olhos. Seu sorriso era contagiante. – Já lhe contei
meu primeiro acampamento? Juninho balançou a cabeça dizendo não. – Gritei de
medo, corri feito um louco embrenhando-me na mata. O Chefe veio correndo e me
abraçou. – Falou baixinho no meu ouvido: - Sorria, só ria. Acalma a alma. Se
derrame, se der ame. Releve, se eleve. Respira e, por favor, não pira. Se o
olhar vale mais que mil palavras as palavras do Chefe valia todo acampamento
que ainda iria acontecer. – Olhe Juninho esqueça os piores momentos de sua vida
e faça os melhores como este acampamento se tornarem inesquecíveis. Aproveite
cada minuto, porque o tempo não volta. O que volta é a vontade de voltar no
tempo e do seu primeiro nunca mais esquecerá! Palavras amáveis não custam nada,
porém valem muito principalmente naquela hora. Juninho correu para ajudar o
lenheiro que chegava com um feixe de lenha seca.
Solidariedade
é o amor em movimento. Buscou água, cortou bambu, e quando deu de si o almoço estava
pronto e a marmita em prontidão. Ele foi o primeiro da fila. Pensou consigo que
o primeiro seria para sempre. Ele não iria desistir. Iria provar para si mesmo
que podia ser como os outros. Outra vez lembrou-se do Balu: - Que os teus olhos
possam enxergar sempre o belo que existe em tua jornada e em seu próximo. Na
mesa da refeição olhou a cada patrulheiro. O cantar, o olhar, os causos, os
olhos brilhando por aquele dia e nos demais eram uma dádiva para ser feliz. Não
foi a Bagheera quem disse que felicidade era encontrar a saída e querer ficar
para sempre? À noite quando entrou na barraca, ajoelhou e rezou. Deus obrigado.
Não sabia mais o que dizer. Ouviu seu monitor falar baixinho: Caiu? Levanta.
Terminou? Recomeça. E para as outras coisas... Sorria!
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