Luiza.
Chefe,
eu quero chorar e não consigo. Lágrimas aparecem e correm pela minha face.
Todos dizem que eu sou feliz e não disse a ninguém que aprendi a mostrar um
sorriso, mas poucos sabem quando estou chorando por dentro. –Pobre Luiza.
Diferente de mim. Quando eu dizia que não vou chorar é por que já estou
chorando. Sempre fui sentimental demais. As Escoteiras sempre a procurarem
abrigo nos meus braços. Eternos abraços que serviam para fazer esquecer as
tristezas do coração. Minha mãe sempre me disse que chorar é humano, e quando
chorei no nascimento de Claudinha minha mãe sorriu para mim ali no leito da
vida onde outra vida estava chegando para me alegrar. Às vezes ficava tanto
tempo sozinha, que a solidão deixava de ser ausência e passava a se tornar companhia. Acho que foi por isto que resolvi ser Chefe Escoteira,
mas era tão difícil...
Os anos
passaram e um dia me vi sozinha. Claudinha partiu, foi tentar outra vida longe
de onde eu morava. Lomanto sumiu em uma esquina da vida. Luiza me olhou com os
olhos cheios de lágrimas e disse: - Chefe sabe o que eu queria agora? Queria ir
à praia, e sentar na maior pedra que estiver lá, e de lá de cima olhar o mar e
chorar tudo que eu tenho para chorar. Pois é Chefe e depois disto tudo iria
voltar para casa aliviada e poder sorrir um sorriso meu, um sorriso verdadeiro,
sem choros escondidos, sem maquiagem, sorrir um sorriso puro. Será que eu
consigo? – Olhei para ela espantada. Pensei comigo, cuidado com o que vai
dizer, palavras machucam e quem ouve nunca esquece. Levantei do banquinho e
abracei Luiza. Ela me deu um abraço forte que dizia tudo que sentia. Eu
precisava conhecê-la melhor. Precisava sorrir para ela dar uma palavra de
carinho. Mas logo eu? Quantas vezes me vi sorrindo querendo chorar? Quantas
vezes eu chorei querendo sorrir? É a vida é mesmo estranha.
Afinal
que Chefe era eu que não sabia dizer as palavras certas na hora certa? Acho que
o problema sou eu, é que sinto demais, me importo demais, demonstro demais. E
acabo esperando o mesmo das pessoas e não é bem assim. Olhei para Luiza. Agora
quem chorava era eu. Pensei comigo que precisava ir embora da Tropa por uns
tempos. Tirar férias dessa minha maneira intensa de sentir as coisas, dessa
mania de querer carregar o mundo nas costas e sentir culpa pelo que não posso
dar conta. Vou olhar tudo de sobrevoo, como quem, desmemoriada, está ausente
dos próprios pensamentos. Ainda abraçada a Luiza vi que o sol estava se
escondendo no horizonte. A reunião ia terminar. Precisava deixar meus problemas
para trás. Uma noite de descanso seria o cenário ideal para recuperar as
energias.
Não
houve tempo para pensar, a Tropa toda veio me abraçar. Desta vez elas as
meninas que eu amava eram as chefes e eu uma simples escoteira que sentiu no
coração o amor que precisava encontrar. Sorri, sorri novamente. Afinal por que
preocupar com que os outros pensam de mim se ao meu redor tem tanto para me
fazer feliz?
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