Lendas Escoteiras.
O mistério da morte do Delegado Juvêncio.
Hubert
foi chamado a Secretaria de Segurança Pública na capital. Não foi muito
satisfeito, pois tinha um acampamento programado com sua Tropa Escoteira. Seria
o primeiro com a participação de oito jovens de sexo feminino. A tropa sempre
teve três patrulhas. Decisão de Corte de Honra. Agora viria a quarta, mas as
jovens seriam diluídas nas demais patrulhas. Quatro meses se passaram quando
foram abertas as vagas. Ele não queria ficar só na tropa como chefe. Tentou sua
filha Luciana que fora bandeirante, mas ela não quis. Maria Elizabeth mãe do
Escoteiro Tadeu aceitou. Não entendia nada, mas tinha uma grande vontade em
aprender. Hubert trabalhou por muitos anos como investigador no 25º Distrito.
Era considerado um dos melhores, mas idade chegou e achou melhor se aposentar.
Não estava Velho, pois tinha apenas 54 anos e nem iria parar. Um escritório de
investigações particulares lhe daria o que fazer no dia a dia. Pelo menos agora
ele tinha tempo para se dedicar a formação de jovens através do escotismo, o
que ele sempre desejou.
Doutor Morales o recebeu como sempre. Um abraço forte e um aperto de mão
mais forte ainda. Com a mão esquerda é claro. Ambos cresceram na Patrulha Touro
e até os seniores viviam juntos como dois irmãos. Da mesma idade ele e o Doutor
Morales ambos escolheram o mesmo caminho profissionalmente. Hubert poderia ter
ido mais longe, mas não era bom politico ao contrário de Morales. Ambos eram
bem considerados na policia investigativa e Hubert era famoso pelos casos
escabrosos e misteriosos que resolveu. Sempre que um nebuloso aparecia e
Morales era pressionado pelo governador ele apelava a Hubert e este sempre se
saia bem. Hubert lembrava que quando seniores quase foram mortos por
quadrilheiros que faziam contrabando de droga. Em uma excursão a Praia do Sul
eles viram os barcos descarregando e a noite roubaram um deles para levar até Capitania.
Seria uma apreensão enorme, mas a bandidada pegou-os na boca da botija quando
davam as primeiras remadas. Foram amarrados e conseguiram se livrar das cordas.
Duas horas depois a policia cercava o contrabandistas.
Não
ficaram como heróis. O Delegado gritou com os dois o perigo que correram. –
Vocês poderiam estar mortos uma hora desta – ele disse. O Conselho da Tropa
Sênior se deliciou. Afinal eles eram metidos a serem os melhores. Mas não ficou
só nesta aventura, muitas outras aconteceram. Daí para a Academia de Policia
foi um pulo. Ambos nunca abandonaram o escotismo. Sempre iam quando podiam ao
grupo amigo mais proximo. Infelizmente não dava para assumir uma chefia e isto
era o sonho de Hubert. Agora achando que estava em paz lá ia ele de novo
atender ao pedido de um amigo e irmão Escoteiro. Ele sabia que não havia como
fugir. Essa é a divisória que nos separa do mistério das coisas que chamamos
vida. Não vamos entrar em detalhes de tudo que o Morales lhe confiou. Partiu no
mesmo dia. Um carro da Segurança Pública com motorista o levou até a cidade de
Ouro Fino. Chegaram à noitinha de terça feira. Na delegacia não tinha ninguém.
Disseram que fechava as cinco, agora só no outro dia.
Hubert não queria perder tempo. Procurou o barbeiro no centro da cidade,
pois sabia que lá teria as informações que precisava. O barbeiro é o homem
sempre bem informado. As fofocas e as verdades tinham ali o seu casulo
predileto. Soube de pouca coisa. O Delegado Juvêncio fora enforcado dentro da
delegacia. Ninguém viu e ninguém sabia o porquê. Quando ia saindo da barbearia
viu dois Escoteiros seniores de uniforme indo para a sede. Lembrou-se de si
mesmo e do Morales. Claro que os parou e se apresentou como Escoteiro. Eles
riram e o convidaram para a reunião dos seniores que seria feita naquela noite.
Turma alegre e de bem com a vida. Sempre sorrindo. Não eram muitos. Naquela
noite eram oito, mas quatro tinham faltado. Devia ser por causa do trabalho.
Era muito comum. Eles se deliciaram com as historias de Hubert, mais ainda
quando souberam que ele era um detetive aposentado.
- O que o trouxe aqui Chefe?
Perguntou Heraldo um sênior sempre sorridente e que parecia querer saber de
tudo. – Hubert abriu o jogo. Não queria ter vindo, mas seu amigo praticamente
exigiu sua vinda. Contou suas aventuras como sênior, o que fizeram e por ambos
se dedicaram a ser policiais. Os seniores prestavam a máxima atenção no que ele
contava. – Quando ele explicou seu objetivo em descobrir o que ouve com o
delegado Juvêncio, se ele se enforcou ou foi enforcado, cada um queria dizer o
que pensava. Ficou lá na sede com eles até a meia noite. Heraldo e Zé Antonio
disse que sabiam o que aconteceu. – Fácil Chefe. Se o senhor apertar Daninha
ela conta tudo. – Quem é Daninha? – Chefe Daninha é mulher do Zé Eustáquio. Ele
caladão sempre desconfiou da mulher. É forte que nem um touro. – Não estou
entendo amigos, quer dizer que foi ele quem matou o Delegado? – Claro que sim
Chefe, ela com medo de ser morta por ele disse que o delegado havia pressionado
para ela ser dele.
- Mas como eles entraram na delegacia? Afinal a porta e as janelas
estavam trancadas! – Chefe, ela não contou, mas era amante dele. Tinha uma
copia da chave. Ela entrou sozinha e depois o Zé Eustáquio entrou atrás. Levou
um pozinho para colocar na bebida do Delegado, ele desmaiou e aí foi fácil
pendurar ele em uma viga e enforcá-lo. – E o bilhete que ele dizia que queria
morrer? – Chefe! – Daninha era escrivã da policia. Tinha a assinatura do
delegado e vários relatórios. Não foi difícil ela treinar a sua letra. – Bah! E
como vocês sabem de tudo isto? – Ora, ora Chefe. Afinal somos seniores. O
senhor não acha que nesta cidade onde nada acontece à gente não iria
investigar? A gente tinha foto dos dois Chefe. Ninguém nos perguntou e nem a
gente iria dizer nada. Afinal sabemos que o Zé Eustáquio era o principal
distribuidor de drogas na região!
- Cacilda, pensou Hubert. Nem eu como sênior sabia tantas coisas. O
resto foi simples. Seis policiais civis chegaram à cidade, prenderam Zé
Eustáquio e Daninha que confessaram o crime. – E aí Chefe, perguntou Nivaldo o
Monitor da Patrulha Monte Sião – E a cidade o que pensou de tudo? – Hubert
sorriu, pois havia chegado a tempo foi acampar com seus seniores e agora na
Conversa ao pé do fogo contava tudo o que viu e sentiu. – Pois é Nivaldo, só
agradeci aos seniores de lá. Afinal não é nossa obrigação ficar sempre alerta?
Se somos escoteiros temos que estar de olhos e ouvidos abertos! – Chefe isto é
para lobinho! - Melhor ainda Nivaldo,
ainda bem que o lobinho aprendeu assim. E eles ficaram até altas horas da
noite, conversando, contando causos, cantando e comendo gostosas bananas
assadas na fogueira até que um lobo uivou na montanha, dizendo que era hora de
dormir!
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