terça-feira, 18 de outubro de 2016

Danny Boy.


Danny Boy.

          - Lembra de Danny Boy? - Lembro-me sim. - Teve notícias dele? – Manolo sorriu. Não era mais aquele sorriso tímido de antigamente. Era mais completo mais presente. Li hoje no jornal. Danny Boy vai ser recebido pelo Presidente. Dizem que vai receber uma medalha. – Merecida pensei. Danny Boy nunca negou colaboração a ninguém. Costuma fazer oito a dez boas ações por dia e isto quando não fazia mais. Dizia que isto era um desafio para ele como Escoteiro. Seu nome de batismo era João Gonçalves. Deram a ele o apelido desde que nasceu de João Menino. Foi Freddy Mac Monte da Patrulha Leão quem o apelidou nos escoteiros de Danny Boy. – Freddy era filho de norte americano e tinha um saber inigualável – Contou para nos que em 1910 um inglês Frederick Watherly fez uma letra a qual chamou de Danny Boi. Mais tarde adaptou a letra na melodia “Londonderry Air”. Até hoje ela é cantada em todas as partes do mundo. Dizem que hoje em dia ela é quase considerada o hino da Irlanda do Norte.

              Se ele tinha o apelido de João Menino, todos resolveram o chamar de Danny Boy. Olhe eu vi tantos meninos escoteiros e convivi com outros tantos que Danny superava a todos. Uma alegria contagiante, a patrulha não vivia sem ele. Não podia atrasar que toda a Tropa não sabia o que fazer. Se era da patrulha Leão ele era considerado um Escoteiro de todas as patrulhas. Nunca parava e sempre ajudando uma ou outra. Se alguém ficava triste lá estava Danny Boi para alegrar. Se as notas escolares não eram boas Danny Boy tinha a solução. Os pais dos escoteiros sonhavam em ter um filho como ele. Na Tropa só não fazia milagres. O Padre Rosaldo ria de orelha a orelha quando ele chegava para ajudar na Missa ou na Benção diária. Limpava a igreja, corria para limpar da sujeira a praça e sempre encerrava suas tardes visitando doentes no Pequeno hospital de Estrela Dourada.

            Nunca se preocupou com especialidades, com Lis de Ouro, com cordões. Era um aprendiz daqueles que a gente sempre dizia que já sabia fazer. Sinaleiro de mão cheia. Morse para ele era brinquedo de criança. Se alguém se sentisse mal nos acampamentos ele corria ao redor procurando as ervas nativas que curavam na hora. Um dia soubemos que foi encontrado quase morto no Beco do Seu Bartolomeu. A cidade cresceu, novas ruas e o beco estava lá vazio, próprio para os gazeteiros ou marginais de toda espécie. Uma revolta geral nos escoteiros. Porque dar aquela sova em um menino que só sabia fazer o bem? Quando saiu do hospital Danny Boy nunca foi mais o mesmo. Taciturno, tez levantada, olhos tristes, procurou o Chefe Landau para dizer que ia sair e nunca mais voltar.

            Ninguém queria entender esta sua resolução. Havia uma peregrinação constante em sua casa de todos os membros do Grupo Escoteiro Luz do Amanhã. Ele foi irredutível. Não era meu amigo mais próximo. Mas gostava de mim como irmão. Vado, não dá mais. Não foi porque me deram a surra. Nada disto. Foi porque senti que não era tão importante na vida de outros meninos que não são escoteiros. Meu pai e minha mãe são contra e quando digo a eles que vou embora eles choram tentando me convencer a ficar. Danny! Você só tem quinze anos, não pode sair assim pelo mundo! – Ele não me respondeu e três meses depois sumiu da cidade.

               Passei na Banca do Seu Pedro e ele me deixou ler o jornal. A manchete dizia que ele foi um herói ao salvar o filho do presidente de morrer afogado. Depois que o salvou desapareceu e toda policia do palácio foi incumbida de o procurar. Demoraram seis meses. Eles estava morando nas Selvas do Suriname. Tomava conta de um pequeno ambulatório mesmo não sendo médico nem enfermeiro. Era adorado por todos e sempre procurado pelos doutores da medicina do lugar. No dia da entrega da condecoração Jonny Boy não apareceu. Uma semana depois de novo no jornal que ele tinha partido para um Garimpo nas Selvas Venezuelanas. Disse para os amigos que lá tinham muitos que precisavam dele. O que é feito dele e onde está nunca mais soube. Danny Boy comprou um pedacinho do meu coração. Mora lá até hoje e nunca mais irá deixar a casa da minha vida. Só sai se eu deixar!

Letra da canção “Londonderry Air” – Danny Boy.
            
Oh, Danny garoto - as gaitas, estão chamando, de vale em vale, e morro abaixo
O verão se foi e todas as rosas estão caindo é você tem de ir e eu preciso deixar
Mas volte quando o verão vier ao campo ou quando o vale estiver quieto e branco de neve. E eu estarei aqui sob o sol ou na sombra.

Oh, Danny, Danny, eu te amo tanto

Mas quando você vier e todas as rosas estiverem morrendo Se eu estiver morto, mesmo assim venha e achará o lugar onde eu estou descansando e se ajoelhará e rezará uma "Ave Maria" para mim e eu sentirei que você caminha suavemente e então meu túmulo será mais morno, será mais doce você se curvará e dirá que me ama e eu descansarei em paz até que você venha para mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....