segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

A escoteirinha foi morar no céu!


Lendas Escoteiras.
A escoteirinha foi morar no céu!

                Ela nem se lembrava como fora parar ali. Sentia falta de visitas inclusive sua família que a visitava poucas vezes. Nati e Andi duas enfermeiras faziam o papel de mãe e pai. Ela amava as duas mais que seus próprios pais. Ela também tinha dois tios que a faziam rir e sonhar que um dia poderia voltar para casa, correr na escola, abraçar amigos. Joshua o Contador de Histórias e Titio Aquiles, que se vestia de pirata ou palhaço eram tudo para aquela garotada naquela Ala C do hospital. No inicio sofreu muito. Seus pais não explicaram a ela o que tinha, e um dia a levaram para o hospital e ela nunca mais saiu de lá. Custou a entender o que lhe aplicavam três vezes por semana. Depois soube que se chamava quimioterapia e Dona Alma uma enfermeira sua amiga disse que só assim um dia ela podia voltar para casa. Ela chorava nos dias que precisava fazer a tal quimioterapia. Vomitava, gritava de dor e muitas vezes teve que ser levada a força. Seis meses e nada de melhorar. Tinha saudades de mamãe Eulália e do papai Alfredo. Filha única ela tinha tudo e agora não tinha nada.

                 Aconteceu em um domingo quando aqueles dois meninos e duas meninas de uniforme escoteiro disseram que iriam formar ali na ala C, uma tropa de Escoteiros. Ela riu quando disseram isto. Não sabia o que eram os Escoteiros e nem tampouco uma tropa. Os quatros eram formidáveis. Riam, cantavam, faziam jogos e ensinavam as técnicas Escoteiras. Maryany passou a ver sua vida de outra forma. Agora ia para a Quimio mais alegre mesmo sabendo que ia sofrer. Disseram para ela que os Escoteiros não tem medo, que sorriam nas dificuldades. Eram doze naquela ala do hospital. De vez em quando um ia embora e Nati ou Andi diziam que ele tinha partido para uma estrela no céu. Maryany ficava imaginando quando fosse chegar seu dia, se era longe ou perto demais.

                 Miro o Monitor dos Escoteiros não sabia ficar sério. Sempre sorrindo e brincando. Alencar sorria também, e Lena e Tatiana eram uns amores. Ficaram muito amigas de Maryany. Em pouco tempo a Tropa Escoteira Dos Guerreiros da Ala C aprendeu tudo para fazer a promessa. Adoravam quando um deles fazia um jogo, ensinavam um nó, cantavam uma canção. E a lei dos Escoteiros? Maryany sabia de cor. Naquele sábado de setembro ela sentiu no peito uma enorme pressão, calor falta de ar e uma dor enorme, mas não disse nada a ninguém. A quimio fazia efeitos terríveis. Mesmo assim participou de tudo que os meninos escoteiros fizeram. Sempre batiam palmas quando cantavam a canção das panelas. Riam demais pensando como seria lavar panelas. – Quando terminarem as provas, disse Miro, eu vou chamar o Chefe para fazer a promessa de vocês! – E o uniforme Miro? – Vamos trazer para cada um. Todos sorriam e ficavam esperançosos em vestir o uniforme dos Escoteiros.

                 Nati e Andi as enfermeiras sentiam-se felizes com os escoteiros. Choravam quando alguém era levado às pressas para a UTI. Elas sabiam que de lá não voltariam nunca mais. Mesmo amando aquelas crianças escondidas em um lugar qualquer do hospital deixavam uma lágrima correr pela face. O Doutor Pascoal sempre cobrando para endurecer o coração, mas era impossível. O câncer é terrível e nas crianças é mais terrível ainda. Na Ala C todos os médicos e enfermeiras sabiam que não tinha volta. Só um milagre para voltar novamente para casa. Todos sabiam que era terrível compartilhar com aquela doença e nas crianças era pior ainda. Vê-los sorrir, chorar, cabeça raspada, uma bata branca Sabiam que a esperança dificilmente faria morada na Ala C.

                 Aconteceu em um domingo. Miro disse a Maryany que ela Ia fazer a promessa. Prometeu trazer o uniforme dela no domingo seguinte. Disse que o Chefe e toda a Tropa Escoteira estariam presentes. Nunca se viu um sorriso como o dela. Nunca uma alegria foi tão forte naquela menina. Nem bem eles foram embora à dor no peito quase a levou. Foi uma semana onde Laura e Emília partiram para morar na Estrela do céu. Apesar de rotina todos sabiam que as experiências mesmo as mais difíceis são provas para que possamos crescer mais espiritualmente e aprender com os erros e entender a vida como ela realmente é.

                  Maryany na quarta gemia de dor. O doutor Pascoal pediu a Nati e Andi que a levassem para a UTI. Ela não iria sobreviver por mais do que uma semana. Com os remédios ele sabia que a dor seria menor e só com o um coma ela iria aguentar ate seu último dia. Seus pais não tinham mais esperanças. Tudo foi explicado a eles. Quando Maryany viu que ela seria levada para a UTI seu mundo desabou. Gritou, chorou, implorou que a levassem na segunda. - Doutor Pascoal! Vou fazer a promessa no domingo, é meu sonho! – Se for sei que nunca mais iria voltar. Preciso fazer a promessa. Irei dizer a Deus e a Pátria que serei uma boa Escoteira na Estrela do céu onde vou morar. Prometeu com água nos olhos que não iria chorar de dor. O doutor Pascoal nunca ficou tão emocionado. Aplicou nela uma dose extra de um forte analgésico para ela aguentar até domingo.

                   Não foi fácil para Maryany sobreviver àqueles dias. Sua força de vontade era tão grande que quando viu adentrarem na Ala C os Escoteiros ela esqueceu a dor que sentia. Quando Lena e Tatiana vestiram nela o uniforme ela chorava de alegria. Queria levantar e não conseguia. Estava fraca demais. Miro tirou seu lenço e amarrou na base onde estava colocado o soro e prendeu seu braço mais alto para que ele fizesse o sinal Escoteiro quando de sua promessa. Formaram em volta dos meninos e meninas da Ala C que acreditam em um milagre. Miro falou disse ao Chefe – Chefe! Apresento Maryany, uma Escoteira que está pronta para fazer a promessa. – Todos fizeram o sinal Escoteiro. Uma Bandeira Nacional foi desfraldada.
                  Quando o Chefe ia dizer para ela repetir ela carregada de emoção começou – Prometo pela minha honra, fazer o melhor possivel para – Cumprir os meus deveres para com Deus e a minha Pátria... Maryany não terminou. Seu semblante sorria, seus lindos olhos negros fitavam o infinito. Seu espirito havia partido. Ela não estava mais ali.


                  Um silêncio sepulcral tomou conta da Ala C. O Chefe foi até ela e colocou o lenço. Miro o Monitor colocou nela o distintivo de promessa. A tropa cantava baixinho a Canção da Promessa. Maryany partira, mas sabia o que estava acontecendo. Amparada por anjos escoteiros estava feliz e orgulhosa com seu uniforme. Finalmente ela descansou. Foi morar na estrela que escolheu. Todos ali na Ala C sabiam que Maryany foi para o céu!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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