sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

O Papagaio verde esmeralda do Capitão Lockhart.


Lendas Escoteiras.
O Papagaio verde esmeralda do Capitão Lockhart.

                 Calma. Nada a ver com o filme de Anthony Mann, Um Certo Capitão Lockhart. Mas Dona Etelvina assistiu ao filme e batizou seu filho como Capitão Lockhart. A princípio o tabelião se recusou, mas Dona Etelvina foi dura e enfática. Tem de ser este ou não será nenhum. Capitão Lockhart ficou conhecido na cidade de Pedra Roxa. A princípio só curiosidade depois ninguém ligava mais. Na escola era bom aluno e todos os colegas gostavam dele por ser prestativo e educado. Capitão Lockhart tinha duas paixões. Papagaios (pipas) e escotismo. Quando fez sete anos lá estava ele se matriculando como lobinho. Não sabia que precisa de sua mãe para isto. Ela foi. Seu pai foi pracinha e morreu na Batalha de Monte Castelo quando ele ainda estava hibernando na barriga de sua mãe.

               Capitão Lockhart fazia papagaios como ninguém. Nos campeonatos anuais na cidade de Pedra Roxa quando não ganhava ficava em segundo. Cada ano mais ele se aprimorava. Sabia escolher o melhor bambu para as varetas, ele mesmo fazia a cola em sua casa usando limão galego, comprou uma tesoura sem ponta e usava sua régua e caneta da escola. Na Casa Ultimato, onde vendiam papeis de seda ela ficava horas escolhendo. Sempre tinha cinco ou seis carreteis de linha dez de reserva. Capitão Lockhart chegava da escola, fazia suas tarefas e a tarde ia até a colina do Morto Enterrado. Lá soltava seus papagaios analisando o peso, a força do vento, as linhadas, tudo para que não perdesse nada na hora de um bom campeonato.

             Capitão Lockhart era da Patrulha Corvo. Seu Monitor Nininho era meio mandão, mas todos gostavam dele. As quintas feiras a Patrulha se reunia na sede, onde eram passadas as provas para cada um. A Patrulha tinha dois primeiras classes, três segundas (inclusive Capitão Lockhart) e dois noviços. Ziri era um deles. Quiseram apelida-lo de Polegar, mas alguém achou melhor Ziri. Esqueceram que seria Siri e não Ziri. Mas apelido posto só sai morto. Aos sábados o Chefe Martinho não dava folga. Cobrava dos Monitores, cobrava dos subs, cobrava de todo mundo. Capitão Lockhart amava tudo aquilo. A tropa vivia acampando, fazendo excursões, e varias vezes ao ano ele o Chefe deixava as Patrulhas acamparem sozinhas, principalmente em acampamentos volantes bem planejados.

              Em novembro a prefeitura da cidade estava programando a primeira Olimpíada do Papagaio de Pedra Roxa. Capitão Lockhart soube que o premio seria de dois mil reais. Precisava ganhar este prêmio. Prometera dar o uniforme e o equipamento de campo ao Ziri, pois ele estava com cinco meses e ainda não conseguiu ter o suficiente para fazer e comprar. Promessa é promessa e o Capitão Lockhart não podia fraquejar. O dia chegou. Capitão Lockhart sabia das regras das Olimpíadas. Usar dois carreteis de linha dez com cento e cinquenta metros cada um, o papagaio tinha de puxar toda a linha, (os fiscais iriam olhar na manivela), ficar duas horas no ar e ganhava em primeiro lugar aquela com mais pingos de chuva no papel de seda. Tudo bem. Não era segredo para o Capitão Lockhart.

               O dia chegou. A cidade presente em peso. Mais de duzentos competidores. Capitão Lockhart fizera uma pipa de bom tamanho, mais ou menos oitenta por quarenta, passara quinze dias preparando as varetas, cortou o papel de seda harmoniosamente sem pontas e para montar seu papagaio ficou dois dias ali debruçado na sua mesinha que sua mãe lhe dera de presente. Às nove da manhã se encontrou com a Patrulha. Estavam todos uniformizados. Várias outras patrulhas, lobinhos, seniores e os pioneiros também lá estavam. O Chefe Martinho tinha orgulho do Capitão Lockhart. Adorava o menino. Ele era viúvo e namorava dona Etelvina a mãe do Capitão Lockhart. Nada contra. Formavam um belo casal e juntos também foram assistir a vitória ou derrota do Capitão Lockhart.
   
              Não vou entrar em detalhes, mas foi uma disputa renhida. No final ficaram oito competidores. Passado às duas horas foi dado à ordem de descer os papagaios. Um por um foram chegado. O povo todo se amontoando para ver qual estava marcado com pingos de chuva. A do Capitão Lockhart tinha oito pingos. A do Murilo da Birosca do Pedro Mocho (bar) tinha oito também. E agora? Mais trinta minutos no ar. Então após veriam o provável vencedor. Não podia haver empates. Foi emocionante! Muito mesmo. Um frenesi no ar e em terra. Uma torcida vibrante. Os escoteiros pulando e gritando. Terminou o tempo. As pipas desceram. Capitão Lockhart ganhou com mais dois pingos. A do Murilo só um. Foi carregado entre a multidão.


                      No sábado no cerimonial de bandeira, o Chefe Martinho fez uma entrega de um certificado de mérito ao Capitão Lockhart não só por ter representado o grupo nas olimpíadas, como também pelo seu belo gesto em dar ao Escoteiro Ziri um uniforme completo, um cantil, uma faca Escoteira, uma bússola e um cabo trançado de dez metros. A tropa saiu de forma. Os sêniores também. Os lobinhos se juntaram a algazarra. Abraçavam e beijavam o Capitão Lockhart. Uma apoteose que nunca tinham visto nada igual. Soube que meses depois o Chefe Martinho casou com dona Etelvina. Comentaram que eles viveram felizes para sempre. Soube por fontes fidedignas que o Capitão Lockhart foi reconhecido como o maior soltador de papagaios do Brasil e esteve em diversos campeonatos no “estrangeiro”. Que ele seja feliz com sua gostosa habilidade. Histórias são como feijão com arroz, e quem quiser que conte dois!    

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