Parábolas Escoteiras.
Os sons da floresta.
O Chefe Pilar, quando terminou o Curso da Insígnia de Madeira teve
dúvida de seu aprendizado e se estaria preparado para liderar os meninos de sua
Tropa. Sentiu que sabia tudo e não sabia nada. Ficou sabendo que em uma cidade muito
longe da sua, morava um Velho Sábio Escoteiro, já com seus 95 anos e que
resolveu viver como um ermitão sozinho bem longe da civilização. Pilar sonhava
em ser um grande Chefe, afamado, reconhecido pelos seus conhecimentos e tirou
alguns dias de férias partindo a procura do Velho Sábio Escoteiro. Quando
chegou a sua choupana a beira de um rio de águas cristalinas e calmas, se
apresentou ao Velho Sábio Escoteiro dizendo o que o tinha levado até ali.
Sem explicar, o Velho Sábio Escoteiro o mandou sozinho à floresta próxima.
Ele deveria ficar lá pelo menos dois meses e voltar com a tarefa de descrever
os sons da floresta. Pilar não pestanejou. Partiu com sua mochila sem barraca,
pois ele sabia que tinha experiência de sobra para ouvir o Som da Floresta e
viver ali o tempo que fosse necessário. Durante dois meses ele percorreu canto
por canto da floresta e cansado retornou a casa do Velho Sábio Escoteiro.
– Descreva pra mim os sons de tudo aquilo que você ouviu. – Velho Sábio,
disse Pilar, pude ouvir o canto dos pássaros, o roçar das folhas, o alvoroço
dos beija-flores, a brisa batendo suavemente na grama, o zumbido das abelhas e
o barulho do vento cortando os céus.
Quando Pilar terminou o Velho Sábio Escoteiro mandou-o de volta a
floresta para tudo o mais que fosse possível ele ouvir. Chefe Pilar ficou
intrigado com a ordem recebida. Ele já não tinha descrito tudo que viu e ouviu
para o Velho Sábio Escoteiro?
Bom Escoteiro e bom cumpridor de ordem ele voltou e por longos dias e
noites Pilar o Chefe se sentou sozinho na floresta, ouvindo, ouvindo... Não
conseguiu distinguir nada de novo além daqueles sons já mencionados ao Velho
Sábio Escoteiro. Então, certa manhã, sentado entre as árvores da floresta,
começou a discernir sons vagos, diferentes e tudo o que ouvira antes. Quanto
mais atenção prestava mais claros os sons se tornavam. Uma sensação boa de
encantamento tomou conta do Chefe Pilar. – pensou que estes devem ser os sons
que o Velho Sábio Escoteiro queria que eu ouvisse. Sem pressa o Chefe Pilar
passou horas e dias ali, ouvindo e ouvindo pacientemente. Queria ter a certeza
de que estava certo.
Algumas semanas depois Pilar retornou a choupana do Velho Sábio Escoteiro.
– Então, disse o Velho Sábio, o que mais você conseguiu ouvir?
–
Grande Chefe e Mestre, quando prestei mais atenção, pude ouvir o inaudível, o
som das flores se abrindo, do sol aquecendo a terra e da grama bebendo o
orvalho da manhã. O Velho Sábio Escoteiro acenou com a cabeça em sinal de
aprovação. – Ouvir o inaudível é ter a disciplina necessária para se tornar um
grande Chefe Escoteiro. Apenas quando você
aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, os medos não
confessados e as queixas silenciosas e reprimidas, você um Chefe Escoteiro pode
inspirar confiança a seus escoteiros, entender o que está errado e atender as
reais necessidades dos seus jovens amigos.
Ao partir, Chefe Pilar ainda ouviu o Velho Sábio Escoteiro dizer: - A
morte de uma associação de jovens começa quando os chefes e lideres ouvem
apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem mergulhara a fundo na alma das
pessoas para ouvir seus sentimentos, seus desejos e suas opiniões reais.
Não sei se o Chefe Pilar se tornou um grande Chefe como sonhava ser. Mas
tenho certeza que ele agora tinha muito mais a dar sem receber.
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