Contos de
Fogo de Conselho.
O Verde vale
de Nagoya.
Prologo: - No Verde vale
de Nagoya não tem mais flores, não tem mais beija-flores. O riacho secou. As
árvores não tem mais folhas. Um dia, ao olhar
para trás o homem verá o rastro de destruição que ele deixou na natureza. E
nesse dia, haverá apenas a dor da sua própria consciência...
- Era uma vez... Há
muito tempo, eu era menino de calças curtas e recém-admitido na tropa... Foi em
um Fogo de Conselho. – Cada um de nós nos refestelamos no banco tosco e nenhum
som mais se ouviu a não ser o crepitar do fogo e ver as pequenas fagulhas
dengosas subir aos céus. A voz de Cabelos Vermelhos era sonhadora, ele era um
mestre contador de histórias. A princípio sentado, mas a gente já sabia que ele
ia ficar em pé, ia gesticular pular e cantar. Era seu dom. Sorrindo olhou para
o céu e começou... - Naquele tempo, dizia Cabelos Vermelhos a nossa inocência,
o nosso amor e a fraternidade nos dava oportunidade de conviver com os animais
com os pássaros e até os repteis eram nossos amigos.
Nos preparamos para mais um acampamento
de verão. Dizem que no verão as chuvas caem mais fortes, mas nós não nos
importávamos. Que importa que tudo passa, a chuva passa, tempestades passam.
Até furacão passa difícil é saber aonde ele vai. Sabem meus irmãos escoteiros,
nos amávamos a chuva. Dizíamos para nós mesmos que não importa a chuva que
cai... Queira ou não após as tempestades o sol ou a lua vão de novo aparecer.
Nossos preparativos foram rapidamente realizados. Em uma bela manhã partimos
rumo ao verde Vale de Nagoya. Era um dos vales mais lindos que conhecíamos. Era
lá que o sol quando nascia nos cumprimentava com um sorriso e quando se ponha
deixava escrito no céu dizendo: - Amanhã eu vou voltar! Que a lua e as estrelas
cuidem de vocês como eu cuidei. Não choveu a não ser uma pequena garoa no
terceiro dia. O nosso programa nos dava tempo para belas construções e
explorações de grutas de tirar o fôlego.
Naquela tarde bolorenta,
daquelas que dá vontade de cochilar e não acordar que vimos um Beija Flor em
cima da mesa do refeitório. Semblante triste asa caída nos olhou choroso e
disse – Olá Escoteiros, foi bom ver vocês. Estou partindo do Vale de Nagoya
aqui nunca mais voltarei. – Olhamos espantados para o Beija Flor e ele
continuou. Me chamam Pirilampo. No passado diziam que eu tinha luzes que
piscavam que eu levava o sorriso aos meus irmãos. Hoje Escoteiro, hoje não sou
nada aqui neste vale que um dia foi florido e hoje não é mais. Vôo até às
escarpas, vôo rasante pelas cascatas no vale, tento subir mais alto para
descobrir flores que agora não existem mais. Como vocês amamos a natureza.
Voamos para frente e atrás, podemos até permanecer imóveis no ar. Voamos a
velocidade do som e que adianta tudo isto?
Olhamos o Pirilampo e não
dissemos nada. A patrulha já tinha observado que o Vale de Nagoya já não era
mais o mesmo. As flores desapareceram com as queimadas, O bosque e a nascente
cristalina desapareceu. As árvores são vendidas pelo melhor preço para servirem
de carvão nas usinas siderúrgicas que produzem ferro e o aço para as máquinas
infernais. Vi nos olhos de Pirilampo pequenas gotas de lágrimas que caiam. –
Pois é Escoteiros, muitos acreditam que nós somos anjos, que podemos voar em
suas terras, que nosso néctar nunca ia se acabar. Eles mesmos inventaram o meio
de nos dar água com açúcar como isto fosse substituir nosso néctar. Eles não
sabem que quando o sol fermenta a água açucarada e ela tem nos feito tanto mal
que alguns de nós morremos em poucos dias.
Tenho de partir, meus irmãos já foram. Eu
sou o último beija flor do Vale de Nagoya. Não sei se aqui voltarei, pois
acredito que o Vale se foi para sempre. Não queria ir sem me despedir de vocês.
A vida aqui no vale me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo e vocês ficarão
para sempre em meu coração. Adeus Escoteiros, que as gotas de chuva de hoje
possam lavar os pensamentos ruins e alegrar os olhos de vocês para sonhar com
um futuro, um Vale de Nagoya florido, cheio de Beijas Flores no céu. Pirilampo
levantou vôo e se foi. Não deu uma revoada em cima do nosso campo de patrulha.
Partiu como se quisesse esquecer aquele vale de agora e lembrar sempre como foi
em um passado distante.
Cabelos Vermelhos se calou.
Todos nós estávamos calados. Não havia o que dizer. Alguém com os olhos
vermelhos perguntou – E aí Cabelos Vermelhos, como é hoje o Vale de Nagoya? –
Aquele Chefe contador de histórias nos olhou, fechou os olhos e disse: - O
homem destrói a natureza na justificativa de sobreviver, a natureza luta para
sobreviver, para garantir a sobrevivência do homem! E onde ela está?
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