Lendas
Escoteiras.
Lobinhos são
anjos de Deus.
Prologo: - Uma história
marcante. Um diretor de um colégio amargurado, uma Lobinha ensinando a ele que
a lei do Lobinho não é só para os pequeninos, mas os adultos também. Vale a
pena ler. São meus convidados!
Teobaldo Sacramento passeava no
pátio do colégio onde era diretor. Poucas vezes ele esteve ali. Não sabia como
fora parar naquela área que pela primeira vez ele via com olhar diferente. Uma
tristeza enorme o invadia e ele olhava melhor as árvores, as áreas ajardinadas
e o pequeno riacho que lá no fundo trinava sons repicantes e intermitentes das
pequenas corredeiras. Ele sabia que aos sábados era terreno dos escoteiros. Não
tinha a menor ideia porque não sentia nenhuma simpatia por eles. Nunca os
cumprimentou, os abraçou e nunca em sua vida ele fora Escoteiro. Quem sabe foi
quando foi nomeado diretor na recepção que os professores e pais fizeram a ele
não havia nenhum Escoteiro. Tinha uma visão estereotipada de que eles se
consideravam superiores e isto trazia para ele uma hostilidade desagradável,
quem sabe até mesmo repulsiva que nada dizia das demais organizações que
conhecia. Quatro meses haviam se passado e nunca em tempo algum recebeu deles
uma visita. Consideravam-se donos e achavam que não deviam satisfações a
ninguém.
Nunca pensou em lhes dar
um bilhete azul, afinal nunca foi vingativo. Nos colégios que tinha dado sua
colaboração nunca cruzou com eles. Esta era a primeira vez. Como era cedo ele
sabia que só mais tarde eles começavam a chegar com aquele zumbido tétrico de
um bando de abelhas entrando em uma colmeia. Ele os viu somente uma vez.
Correndo pelo pátio, cantando a pleno pulmões, os chefes apitando feitos loucos
e até achou interessante quando hastearam a bandeira Nacional. Teobaldo
Sacramento tinha 42 anos. Sabia que seu casamento estava indo pelo ralo. Amava
demais Marilda, mas ela depois que sofrera um aborto involuntário parecia acreditar
que ele era o culpado. Ele estava dando uma aula de História que tanto gostava,
falando de Pedro Alvares Cabral quando recebeu a notícia. Largou tudo e partiu
célere para sua casa, mas era tarde demais. Ela sempre o culpou por não estar
junto dela. Resolveram mudar de rumo indo para outra cidade, quem sabe novos
ares, novos amigos poderiam mudar a vida daquele casal que em tempos áureos
foram felizes.
Viu uma aroeira enorme e
embaixo um banco feito artesanalmente, mas convidativo para sentar. Não se fez
de rogado. Seus pensamentos não eram claros e azulados como nuvens ao
amanhecer. Para ele com o coração partido procurava dar um novo rumo em sua
vida e mesmo com a nova cidade, o novo colégio nada dizia que foi acertado a
transmutação, ou melhor, a modificação que fizera em sua vida e de Marilda.
Tinha hora que a vontade de chorar era grande. Como Diretor do Colégio Dom
Bosco ele sabia que tinha que oferecer um certo respeito, uma certa dignidade e
chorar não fazia parte de uma autoridade como ele. Sem perceber viu seus olhos
encherem-se de lágrimas. Sabia que estava só e as deixou rolar pela face ate
cair ao chão. Ele precisava de um desabafo, de um colo amigo, de um ouvinte
sincero. Como era novo na cidade deixou as lágrimas correrem como cascatas
brancas caindo nas pedras do caminho das águas. Fechou os olhos e deixou seu
pensamento viajar por longas paragens que ele sempre imaginava nos seus sonhos
do passado. Grandes gramados, vales enormes, rios caudalosos, flores incríveis
espalhadas pelas campinas verdejantes.
- Oi! – Alguém disse para
ele. Ainda de olhos fechados ele pensou quem era. Quem estava desnudando seus
segredos assim sem pedir para entrar em seus pensamentos? Abriu os olhos
suavemente. Era uma menininha vestida de azul, com um lenço verde e amarelo no
pescoço, um bonezinho tipo jóquei e um sorriso incrível! – Ela não parava de
sorrir. Não o sorriso debochado, escrachado de quem quer ver o seu próximo no
fundo do poço. Era um sorriso infantil, daqueles que ninguém deixa de admirar.
Victor Hugo dizia que nunca ninguém conseguirá ir ao fundo de um sorriso de uma
criança. Era verdade. Ele se levantou olhou para ela e disse: Oi! Não quer
sentar aqui? – Posso mesmo? Ela disse.
Claro, afinal estamos só eu e você e porque não nos conhecermos melhor?
– A menininha Lobinha riu. – Olhe aceito seu convite, mas primeiro preciso ver
seu sorriso! – Teobaldo Sacramento não sabia o que dizer. Como uma menina de
menos de oito anos brincava com ele desta forma? – Melhor sorrir, pensou. E
sorriu. Não foi aquele sorriso estonteante, mas que ajudou a manter o diálogo
com a Lobinha.
- Porque você está tão
triste? Ela perguntou. – Qual resposta poderia dar? O que ele entende da vida
de um adulto? Pensou. Ele não disse nada. Melhor calar do que falar o que não
devo. – Akelá Lucy nos ensina que sorrir faz bem, ajuda a esquecer das
tristezas! – Ele não disse nada. – Eu sempre faço o que ele me diz. Um dia me
contou que as dificuldades existem para todos e para ficar livre delas devemos
pensar primeiro nos outros e não em nós! Ele prestou atenção as suas palavras.
Uma menininha de nada querendo dar lição de moral a ele? Um diretor? Um homem
feito? -- Como é seu nome? Ela perguntou. – Teobaldo Sacramento, sou o diretor
deste colégio. – Humm! Prazer eu também sou importante, sou segunda prima da
matilha Vermelha! Chamam-me de Lis, mas me chamo Lisandra. Já ouviu falar na
Lei do Lobinho? Teobaldo quis rir, mas sabia que devia respeitar aquela menina
tão cheia de doçura e simplicidade.
- Veja, ela continuou –
Não somos senhores do tempo, não podemos decidir nossas vidas no futuro. É Deus
quem define o que somos e o que seremos por isto devemos sempre ouvir os Velhos
Lobos, não existe idade entre o céu e a terra para entender o que dizem. E
porque não pensar sempre primeiro nos outros? O senhor faz assim? – Teobaldo
não respondeu. Temos que abrir os olhos e os ouvidos para ver no fundo do
coração e na alma daqueles que estão ao nosso redor, não é mais fácil assim
para respeitar e convivermos mutuamente? Estar sempre limpo não é só nosso o
corpo, é nosso pensamento, é a maneira com que vemos as dificuldades, e saber
entender que não somos perfeitos! E porque não dizer sempre a verdade? – Ela se
levantou. – Diretor! O senhor abraçou alguém que ama hoje? Não? Um abraço abre
nossos sonhos para o real, perdoar, entender, amar e sacrificar deve ser nossa
meta em qualquer momento das nossas vidas!
Ela saiu devagar, olhando
para trás e sorrindo. Cantava baixinho uma linda musica escoteira. Deu um
adeusinho e sumiu atrás de um bosque de árvores floridas. Teobaldo Sacramento
levantou de onde estava. Agora entendia sua vida, sabia para onde devia
caminhar. Os escoteiros para ele tinha outra razão de ser. Descobriu que sua
vida era oca, sem motivo, somente a se culpar sem dar em troca seu amor a quem
precisava nas horas difíceis da vida. Ah! Pensou Teobaldo, ele agora sabia que
os Anjos também sabem cantar e... Aconselhar!
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