Lendas
Escoteiras.
O Tribunal de
Honra.
Tito debaixo da
Aroeira da Sede Escoteira meditava. Nos seus quatorze anos e três de monitória
ainda se sentia como um recruta na sua responsabilidade como Monitor da Águia.
Nunca pensou que na tropa alguém poderia fugir do seu compromisso da Lei e da
Promessa feita um dia em frente à bandeira, a tropa ao seu Chefe e a Deus que
ele tinha como seu Chefe universal. Logo Danton? O que o levou a fazer tamanha
barbaridade? Danton, por favor, diga que não é verdade! Danton queria chorar
dizer que não sabia como tudo aconteceu e jurou parar...
Tropeiro sempre
foi o Monitor mais sorridente da tropa e amado pelos patrulheiros da Patrulha
Lontra. Não era o mais antigo, mas ficava apenas atrás de Capistrano. Esperou
pacientemente o sinal abrir para atravessar a Rua Peçanha e seguir até a Sede
Escoteira. Nunca pensou que um dia poderia julgar absorver ou condenar Danton. Hoje
Tropeiro estava arrasado. Danton era seu amigo desde os tempos de lobinho. Foi
seu Primo na Matilha Cinza e morava na mesma rua da sua casa. Nunca fugiu das
suas responsabilidades de Monitor da Onça Parda, e lembrava como enfrentou
tempestades, ventanias, dificuldades mil nos acampamentos que fez.
Soares Cascudo
nunca incomodou com seu apelido. Era um perfeito Monitor que sabia sorrir a
qualquer hora e nas dificuldades. Olhando as reuniões que fazia com sua
Patrulha Os Gaviões muitos diriam que ele não era o Monitor tamanha
fraternidade com que demonstrava junto aos demais. – Mãe, o que eu devo fazer?
Dona Nina olhou para Soares Cascudo e custou para responder. – Filho são
responsabilidades que cada um de nós tem a hora de enfrentar. Pense no que vai
fazer ou dizer, aja com lealdade, lembre-se que Danton sempre o tratou com
respeito.
JR Coruja nem de
longe parecia àquela ave a quem chamavam de professor de todas as aves. Moreno
quase negro nunca se sentiu fora do quadrado da fraternidade que imperava na
tropa escoteira. Foi eleito por unanimidade no ano passado como Monitor e
aceitou impávido o cargo desejando mostrar todos da Pantera que era capaz. Seu
pai o encorajou quando JR Coruja disse para ele da eleição. – Filho, a vida é
feita de desafios e este chegou para você. Enfrente, mostre que é capaz. JR
Coruja orgulhava de seu pai um simples Contador das Empresas National. Amava
com todas as forças sua mãe e seu pai com quem aprendeu a respeitar e ser
respeitado.
Os quatro Monitores não tinham uma
ideia fixa do que dizer fazer e votar na maior de todas as reuniões que já
fizeram no Tribunal de Honra de sua tropa. Acostumados a discutirem assuntos
banais, aprovarem seus programas de atividade, dar um puxão de leve na orelha
de alguém agora não. Teriam que tomar uma atitude com Danton. Porque ele chegou
aquele ponto? Afinal não tinha bons amigos para se aconselhar ou aprender que o
Escoteiro é puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações?
O Chefe Castor
foi o primeiro a chegar. Cedo ainda abriu a sede e não tinha ninguém no pateo.
Fez uma revisão no programa de reunião sem muita pompa quem sabe dirigido pelos
monitores sobre adestramento de cálculos de altura, distancias e passo duplo.
Deixaria para os monitores os jogos e ele sabia que iriam escolher os mais
divertidos que já jogaram. Lembrou quando no ano anterior pediu uma opinião das
patrulhas sobre como deveria ser os jogos a serem aplicados no ano seguinte. O
tema foi motivo de uma gostosa conversa dos monitores no Tribunal de Honra. :
- JR Coruja o Escriba
do Tribunal escreveu no Livro de Ata: “Conforme preposição dos monitores fica
decidido que a partir de hoje o Chefe Castor fica encarregado somente dos
chamados “Jogos Surpresa”. Cada Patrulha mensalmente dará sugestões dos jogos a
serem aplicados. Nenhum jogo terá a formalidade de obrigação e sim jogado espontaneamente.
Deve-se dar preferencia que o jogo seja jogado pela simplicidade de jogar e
divertir e o caráter competitivo virá em segundo lugar”.
O Chefe Castor
sorriu ao lembrar, mas logo pensou no que diria aos monitores sobre Danton. Ele
próprio não sabia como agir. Era um novato na arte de aconselhamento de jovens
que enveredaram pela droga. Isto mesmo. Danton o procurou para dizer que estava
viciado no “craque”. Impossível pensou. Logo ele? Filho de uma família bem
quista no bairro, seu pai advogado e sua mãe enfermeira Chefe no Hospital Santa
Elísia? Conversou várias vezes com os pais e não sabia como aconselhar e
sugerir um caminho seguro para Danton.
As patrulhas
cobraram dos monitores alguma medida para evitar que o fato se tornasse normal
na Tropa Escoteira. Foram feitas duas reuniões preparatórias do Tribunal de
Honra e muito se falou menos o que fazer. Danton não ia mais as reuniões e
Soares Cascudo sugeriu que o assunto fosse finalizado, pois praticamente Danton
demonstrava não ter mais interesse em permanecer na tropa Escoteira. Os demais
ficaram em duvida. Colocar debaixo do tapete?
Por questão de
caráter e ética ele sabia que deveria aconselhar aos monitores alguma punição
ou ação. Mas qual? Deixou a critério dos Monitores. Foi uma surpresa quando viu
chegar o Dr. Marcelo sua esposa Dona Neném e Danton. – Foram diretos: - Chefe
Danton vai se internar em uma Instituição própria para desintoxicação. Viemos
aqui pedir desculpas e entregar o pedido de demissão de Danton! O Chefe Castor estava
surpreso com tudo aquilo. Olhou para Danton que chorava. Afinal foram três anos
de lobo e três de escoteiro. Não era para menos.
O Tribunal de
Honra teve início impreterivelmente às dezoito horas. Todos os escoteiros aguardavam
ansiosos no pátio esperando o veredito. O Chefe Castor passou a direção do
Tribunal para Tropeiro o mais antigo e Presidente do Tribunal. Uma oração, uma
leitura da ata anterior e...
“E você? Se fosse
Monitor o que iria decidir?” Como dizia o poeta, não espere por uma crise para
descobrir o que é importante em sua vida.
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