Contos ao
redor da fogueira.
A ronda em um
acampamento.
... - “Pergunte ao seu passado o
que o futuro te reserva, se for mau então faça o melhor no presente.” “Você descobre que está na
direção certa quando não enxerga mais motivos para olhar para trás.” “O passado serve para
evidenciar as nossas falhas e dar-nos indicações para o progresso do futuro.”
Sempre Alerta!
Chefe, a verdade é que tudo
aconteceu muito rapidamente. Pegou-me de surpresa e me assustou. Menino
Escoteiro sem experiência, com pouco tempo de passagem, fui escolhido para o
primeiro turno como sentinela no primeiro acampamento... O Monitor já tinha
comentado e inclusive contou muitas histórias de escoteiros que fizeram a ronda
pela primeira vez e quase morreram de medo. Entre o medo e a coragem fiquei
esperançoso quando minha hora fosse chegar. Logo após a nossa Conversa ao Pé do
Fogo, foi distribuído os horários de cada um. Tope Tape o cozinheiro sorriu e
disse que onde nós estávamos se aparecesse alguém seria uma vaca perdida a
procura de seu bezerro novo ou um galo perdido procurando seu poleiro para
cantar.
Eu não estava com sono e
como novato fui escolhido para ser o primeiro. Onze horas a meia noite. Meia
Noite? Não era meu horário preferido. Cada um procurou sua barraca, o Sub
Adalberto apagou os dois lampiões a querosene e foram dormir. Zé Montes o Monitor
sorriu para mim. Matias, não se amedronte, não há perigo, veja as estrelas no
céu que irão te proteger. Ele me deu um apito e me ensinou como usar, mas usar
só em caso de perigo eminente! Três apitos longos, três breves e novamente três
longos. – Este é o sinal de alerta dos escoteiros. Chama-se S.O.S, é um código
associado a uma sigla em Inglês de expressões como “Save Our Ship”, “salvem
nosso navio”. Outros dizem que é “Save Our Souls” “salvem nossas almas”.
Prefiro o primeiro. Não faltou o bastão grande e pesadão com ponteira de aço.
Deu-me também um facão e me disse que ficasse Sempre Alerta. Repetiu que meu
turno seria de uma hora. Depois iria acordar o cozinheiro.
Lembre-se Matias a
Patrulha depende de você. Dê a vida se preciso for! Éramos sete escoteiros e eu
o pata tenra aprendiz. Todos já estavam em suas barracas e Monitor os seguiu. Eu
fiquei ali em pé, frente ao fogo que não deixava apagar. No Sul uma pequena
mata, a Leste uma lagoa que naquela hora da noite era cinzenta. Pensei em um
filme que assisti chamado O Monstro da Lagoa Negra. Tremendo pensava que ele
poderia aparecer a qualquer momento brotando do fundo da lagoa. A Oeste havia
uma trilha que levava ao morro do Cantador. Ao Norte uma pequena clareira onde era
nosso campo de Patrulha. Quando todos dormiram achei que era um explorador, um
caminheiro, um acampador e não deixaria meus irmãos na mão. Eles podiam dormir
em paz.
No início me senti um intrépido
soldado vigilante na minha ronda velando pela segurança dos meus amigos a quem
devia dar minha própria vida se necessário. De atalaia eu vigiava com olhos de
alce, andando aqui e ali e voltando sempre para o clarão do fogo que fazia
questão de usar toda lenha que pudesse apanhar. Cantava para mim as belas
frases que me ensinaram quando entrei nos escoteiros: - Noviço tenha um
espirito aventureiro, faça tudo com coração, respire a natureza, durma ao som
das belezas do campo, e principalmente não esqueça sua responsabilidade do ato
de proteger aos que estão dormindo.
O sono chegava toda hora.
Meus olhos queriam fechar. Tomei um café joguei um respingo de água do cantil
nos olhos, pois foi assim que o intendente me explicou para o sono espantar. Chegou
um momento que não aguentei mais. Quantas horas para chamar o próximo da ronda?
Comecei a dormir e sem perceber ouvi um barulho de alguém correndo morro abaixo
como se fosse um vagão desgovernado! – Olhei, esfreguei os olhos, nossa! Estava
tudo vermelho, parecia que o sol desceu a terra em nosso acampamento e alguém
alto, com chifres, soltando fogo na boca e gargalhando dizia para todo mundo
ouvir: - Estou chegando escoteirada. Desta vez ninguém vai escapar! Dei um
salto no ar. Armei-me com o bastão ponteira de aço. Olhei para a aparição com a
coragem de um herói Escoteiro!
Lembrei-me do apito, o
coloquei na boca e dei tantos quanto podia dar. Era o ponto, era o traço, se
era o S.O.S não sabia. Gritava, pedia socorro e logo vi muitos dos meus amigos
escoteiros da patrulha de pé ao meu lado para me socorrer. – Que foi Matias?
Que bicho te mordeu? Quem está invadindo? Olhei para o norte, para o sul para o
oeste e o este. Uma brisa gostosa esvoaçava no ar. Não havia nada... As
estrelas no céu brilhavam, os sapos coaxavam na lagoa não oferecendo perigo
algum. Procurei o “coisa ruim” e não encontrei. Olhei meu monitor e pensei: -
Desta vez não haverá perdão. Sem saber o que ia fazer, continuei a busca. A
mata calada não contou o que eu vi e testemunhei.
Todos foram dormir, meu
monitor passou o braço no meu ombro. Sorrindo como um pai ou um Chefe amigo me
disse calmamente: - A beleza de tudo está nos olhos de quem vê e sente. No
desejo da esperança sempre existe o sol e a luz. Não existe sombra para quem
acredita no bem. Meu amigo noviço, acampar é relaxar. Não se estresse com o
imprevisto. Eles sempre acontecem. Vai dormir, deixe que eu fico até o final da
sua ronda... Pois é Chefe, acho que ninguém esquece seu primeiro acampamento e
sua primeira ronda escoteira. Eu a guardo na mente como se estive lá de bastão
em punho enfrentando o “Coisa Ruim” para salvar meus companheiros!
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