Contos nas
areias do Waingunga.
Bolinhas de
sabão.
“Dublec dublim”.
... - Sentado
na calçada de canudo e canequinha, dublec dublim, eu vi um garotinho
dublec dublim, fazendo uma bolinha, dublec duplim, Bolinha de sabão... Eu fiquei a olhar eu pedi para ver quando ele me chamou e pediu pra com ele brincar... Foi então…
dublec dublim, fazendo uma bolinha, dublec duplim, Bolinha de sabão... Eu fiquei a olhar eu pedi para ver quando ele me chamou e pediu pra com ele brincar... Foi então…
- Tico Tetéia passeava
com seus olhos miúdos esquecendo o movimento em sua volta. Olhava sorrindo sem
inveja o menino na varanda de sua casa do outro lado da rua jogando no ar bolas
de sabão. Tico Tetéia nunca cantou “dublec dublim” e nem sabia que exista tal
musica. Poderia ser ele sentado na calçada em frente às Lojas Correntes longe
do vai e vem dos passantes que nem davam conta de sua presença ali na Rua do
Ouvidor número cem. Tico Tetéia não tinha mais do que sete anos. Acostumara a
viver sozinho, pois sua mãe um dia chorando disse para ele: - “Meu filho, não
dá mais, uma dor enorme me parte no meio. Não sei o que fazer com você. Reze
meu filho, confie em Deus ele vai lhe mostrar o caminho a seguir”. Tico Tetéia
ficou com sua mãe debaixo do viaduto São Geraldo por dois dias. Ela fria ainda
de olhos abertos nada dizia. A fome o levou a porta da Baiuca de Mestre Dinho,
que nunca negou a ele nada para comer.
- Ninguém nunca
perguntou por ela. Viu de longe um carro com alguém levando sua mãe em um saco
preto na maca. Correu até lá, mas eles tinham partido. Na primeira semana
esperou pela volta de sua mãe, pelos tostões que ela ganhava ajudando alguém em
algum canto da cidade. Potim Galego tinha uma bela casa, um pai divorciado que
lhe dava tudo que pedia. Via sempre do outro lado da Rua aquele menino magro,
sujo a sorrir para ele quando estava com seus brinquedos. Se divertia jogando
bolinhas de sabão ao sabor do vento correndo para o céu até estourar no ar! Ele
era um menino pequeno e sem maldade, nunca se preocupava com as bolhas que
estouram não se prendia a elas, apenas sorria a cada uma que desaparecia no
ar... Dona Germânia fez para ele um delicioso pudim de cereja e seus olhos
brilharam. Entristeceu ao ver do outro lado da rua aquele menino maltrapilho
sério, olhando para ele e o pudim que Dona Germânia lhe deu. Fez um sinal e com
receio Tico Tetéia atravessou a rua e espantado recebeu das mãos de Potim
Galego aquele belo pudim que ele nunca comeu. Alegria efêmera... Finita!
Dizem que fazer amigos
na infância é comum, mas dificilmente a gente vê um simples menino mendigo, sem
pai sem mãe, receber a atenção de alguém. Ninguém poderia dizer isso de Potim
Galego. Ele e Tico Tetéia ficaram amigos, escondidos, sem ninguém ver, cada com
medo de perder a nova camaradagem que surgiu como bolinhas de sabão. Os dois
tinham medo que ela explodisse no ar e tudo terminar. – Vai comigo sábado?
Perguntou Potim Galego. – Onde? Nos lobinhos, sou um deles sem medo de
Shery Kan, pois tenho Raksha para me
defender. E então como se novas estrelas
firmassem no céu , Potim Galego todas as noites saltava de sua janela, e
embaixo da Mangueira ao lado de sua casa, ficavam horas e horas conversando, e
ele contando quem era Akela, o Balu a Bagheera e a Kaa. Tico Teteia sonhava com
a tal Jângal. Sabia acender a flor vermelha, sabia nadar no Waingunga, não
tinha medo dos Bandarlogs.
Alguns meses depois
Bento Gonçalves tio de Potim Galego, viu os dois cantando uma canção de
lobinho, que ele um dia aprendeu e amava cantar. “A Promessa de Mowgli era
matar o Shery Kan”. Olhou as horas...
Quase meia noite. O que seu sobrinho fazia ali àquela hora? Sem perguntar o
pegou pelo braço e ralhando o levou ao seu pai que dormia e nem sabia do
acontecido. Lita Rosa a Akelá foi alertada. Balu Morato também. Bagheera
sorriu... E contou para a alcateia o que uma bela amizade pode fazer e sonhos
realizar. Potim Galego chorava por não poder mais brincar com Tico Tetéia. Seu
pai bravo lhe proibiu. Sem TV sem Vídeo Game e dois meses longe de seus irmãos
da Alcateia. A Policia foi chamada. Levaram Tico Tetéia para uma associação de
menores. A saudade era tanta que ele pulou a cerca, correu por vinte
quilômetros e suando chegou em frente à casa de Potim Galego. Quando a janela
se abriu a policia passou atirando em bandidos fugitivos e uma bala perdida
entrou por trás da cabeça de Tico Tetéia que morreu na hora. Contar a história
de trás para frente quem sabe seria melhor. Mas adiantaria?
Não vou contar a linda
cena de sua mãe em nuvens brancas no ar, mãos levantadas sorrindo e gritando: -
Meu filho aqui toda criança é um anjo, com asas e podem sorrir correr e
brincar! Tico Tetéia você está na terra de Deus, e terá tudo meu amor, meu
carinho e mil bolhas de sabão no ar!
Um espírito evoluído me
contou: - Vado Escoteiro, passei algum tempo ali observando aquelas crianças... Notei o quanto
somos atrasados em questão ao apego... Ficamos tão focados, em riquezas em
família e esquecemos a boa ação que passou. Em velhas cartas, em antigos
papéis, achamos importantes e não percebemos que só fazem volume e juntam
poeira... Nos prendemos ao dinheiro, aos cargos, ao poder, E quando perdemos
alguns deles, já nos vemos quebrados, abatidos, doentes, por ter se apegado a
sensação de posse... Como em relacionamentos, nem sempre verdadeiros e só nos
acostumamos com a presença do outro, Mas não a amor e sim dependência... Se agíssemos,
em questão ao apego como as bolhas de sabão, seríamos extremamente evoluídos! A
vida Vado Escoteiro é como uma montanha russa, e que nada dura para sempre...
Se apenas deixarmos quem quer ficar em nossa vida, quando o sentimento é mútuo
sem cobrança, sem medos, sem comodismo, mais pela confiança, seriamos mais
felizes. Lembre-se praticar o desapego é uma forma de encontrar a felicidade...
Na simplicidade... Nas pequenas coisas como bolhas de sabão!
(Alguns itens retirados da Internet).
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