Lendas
Escoteiras.
“Maria
Vitória”
... - A saudade é
lembrar-se de um passado que nunca passou... É viver um presente que nos
entristece e é querer enxergar um futuro que jamais poderá existir. Muitas
vezes lembrar o passado é sofrer duas vezes.
Você minha querida neta me
pediu que não saísse sozinha. Mas eu tinha de ir. Todo sábado você sabe que eu
vou lá faça chuva ou faça sol. Sei que se preocupa que toma conta de mim que
deixou seu lar para morar comigo dizendo que iria fazer o possível e o
impossível para me fazer feliz. Foi uma alegria incrível ter você ao meu lado,
e vendo você sempre contente ao chegar do trabalho e me abraçar. Você me dizia
que eu não era mais criança. Afinal cheguei aos oitenta e cinco anos tempo
demais para viver. Olhe deixei o celular na mesa. Seu recado estava lá. Mas eu
tinha de ir. Fique tranquila, pois logo estou de volta. Como dizia minha mãe?
Um pé lá e outro cá. Caminhei sem pressa, pois eles nunca chegavam antes do
horário. Caminhava pensando no meu passado no que fui e agora já idosa vivo
somente de lembranças e nada mais. Meu destino era a Praça das Recordações.
Gostava de ficar lá. Sombreada, uma grama verde e muitas flores me encantavam
enquanto eles não chegavam.
Sentada naquele banco azul onde
sempre fiquei eu esperava sem pressa a hora deles chegarem. Sinceramente? Nunca
me apresentei a eles como escoteira. Porque não sempre pensei. Não tinha
vergonha do que fui e nada fiz de errado que proibisse dizer o amor que tinha
pelo escotismo. Foi um belo tempo, mas meu sonho acabou. Ainda amo e faço dele
minha filosofia de vida. Ali na praça me encantava com todos eles os lobos de Seeonee
saltitantes a sorrirem e gritarem alto Melhor Possível Akelá. Olhe, eu nunca me
sentia sozinha ali na praça. Os lobos me faziam rejuvenescer. Não esqueço
aquele dia, que um deles com um sorriso encantador chegou perto de mim, olhou,
piscou seus olhinhos sorriu e saiu correndo a contar para a matilha que viu uma
velha no banco da praça com um lenço escoteiro no colo. Eu sorria e chorava.
Meu coração sangrava ao lembrar. Foi importante aquele dia. As lembranças
batiam forte em mim. Gostava de lembrar, mas o que aconteceu me machucava
muito. Tinha fama, respeitada, tacos pendurados, todos fazendo saudação.
Diziam-me que breve teria o Tapir, e eu sorria de emoção.
Foram tantas comendas que
orgulhosamente usava na minha farda querida. Não o culpo quem sabe a culpada
foi eu. Achei que o amava e ele também. Eu solteira e ele casado. Vivíamos
apaixonados escondidos por aí até que um dia alguém nos viu, a cidade comentou
o escotismo não me perdoou. Disseram que eu o seduzi que era prepotente,
imaginosa, metida a bondosa, mas com coração de pedra. Lembranças que machucam
lembranças que não quero lembrar, mas não desaparecem da minha mente. O som das
seis badaladas da Matriz diziam que era hora de voltar. Eu sabia que se você
chegasse e não me encontrasse ficaria triste e até mesmo me chamaria à atenção.
Eu gostava de ver você entrar me dar um abraço e dizer: Olá Vovó! Saudades de
você! Era sempre assim. Meu coração sangrava das lembranças dele que nunca mais
me olhou e nunca mais me abraçou. Eu sabia que era página virada no tempo e
devia esquecer. Chorava baixinho, precisava de um abraço, meu Deus que vontade
de abraçar alguém!
Preciso enxugar as lágrimas,
não quero que você me veja assim. Quando for dormir então irei chorar todas as
lagrimas doidas que não saem de mim. Eu sei que fui culpada, que mereci a
exoneração. Mas Deus, quantas saudades, que vontade de voltar no tempo e tudo
poder mudar. Eu sei que em um instante tudo muda. O passado nos leva ao
desconhecido. Não existe mais futuro. Não se pode recusar e voltar aos velhos
hábitos. Mas eu me contentava em dizer para mim, que não devia me prender ao
passado, pois assim o futuro poderia nunca vir.
Ainda bem minha neta que tenho
você, a única coisa boa que sobrou de uma vida feliz. É triste viver de recordações,
mas é na velhice que as lembranças são vivas e nunca deixamos elas irem embora.
É escotismo, meu sonho minha vida. Tempos felizes que sei que nunca mais irão
voltar!
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