domingo, 20 de setembro de 2015

O passo do elefantinho. (uma história para lobinhos)


Lendas escoteiras
O passo do elefantinho.
(uma história para lobinhos)

“O circo chegou à cidade,
É tempo de pensar no que se viu
Montaram uma tenda bem grande,
“Uma tenda do tamanho do Brasil”!

             Interessante. A vida da gente é sempre cheia de surpresas e quando nos lembramos das boas damos um enorme sorriso. Estava eu absorto e escrevendo quando começou a tocar “O Passo do Elefantinho” com a orquestra de Henry Mancini (Baby Elephant Walk, escrito em 1961 por este compositor para o filme Hatari). Adoro esta música principalmente porque ela me faz lembrar-se de Rafaella, uma lobinha morena, sete anos, miudinha e sempre de fisionomia séria. Dificilmente sorria para alguém. Nunca faltou uma reunião e mesmo doente chorava para ir. Uma vez chorou tanto que seus pais com sua charrete (não tinham carro) a levaram agasalhada e enrolada em uma manta para a sede. E quem disse que adiantou a Akelá, o Balu ou a Kaa falar com ela? Necas! Ficou lá sentada em uma cadeira só olhando e sem sorrir!

           O Circo dos Palhaços Impossíveis estava na cidade. Naquela época eles armavam sua tenda não sem antes fazer um desfile apoteótico. Ficavam em um terreno plano as margens da Estrada do Fim do Mundo. Chamavam-na assim porque era esburacada, pontes caídas, assaltantes enfim, era mesmo um fim de mundo. Não se chegava a lugar algum. Nem bem o circo chegou e um carro de som saiu às ruas anunciando as atrações. Atrás do carro dezenas de palhaços, equilibristas, artistas e animais exóticos. A rua se enchia de gente e nas janelas apinhavam-se todos. A meninada vibrava correndo atrás e muitos davam plantão junto ao circo na sua montagem para ver o movimento. A maioria dos jovens do Grupo Escoteiro Olavo Bilac estava lá. Boquiabertos. Vendo aquela parafernália sendo montada. Os pais sorriam de contentes, pois pelos menos os filhos tinham aonde ir e os sonhos das molecagens agora tinham uma pausa.

             Rafaella viu o desfile. Não sorriu, mas quando o elefante passou com a Rainha de Sabá sentada em seu dorso seus olhos brilharam. Sua mãe e seu pai não notaram seu súbito interesse. Eles mesmos achavam estranho por ela não sorrir. Eram pessoas humildes sem posses consultas a médicos especialistas estava fora de cogitação. Chefe Noravinio em reunião dos chefes do grupo sugeriu que o grupo todo fosse completo em um espetáculo. Era época de férias e poderiam combinar com o dono do Circo para que a escoteirada pagasse menos. Dito e feito. O Senhor Wiener Neustadt proprietário do circo (exigia que fosse chamado de Arquiduque Maximiliano, pois era trineto do próprio. Discutir para que?) – No seu vozeirão cheio de improvisações em português falou alto: - Sexta, às dezesseis horas. O circo vai apresentar um espetáculo especial para os Escoteiros falou. Uma gentileza de Arquiduque Maximiliano. E nunca se esqueçam disto! Não irão pagar nada!

            Uma festa. Mais de cento e quarenta membros. Grupo grande. Junto outros tantos de familiares e penetras aproveitando a “boca livre”. Duas horas todos na porta. Uniformizados é claro. Rafaella rondava o circo. Viu a jaula dos animais e próximo o elefante. Tentou aproximar. Não deixaram. O espetáculo começou. Uma bandinha, o apresentador – Respeitável publico! Seguiu os artistas, equilibristas, mágicos, saltimbancos e os animais. O brilho e a beleza do colorido dava asas a imaginação e a fantasia dos escoteiros. Eram levados para um mundo diferente. Um mundo de sonhos, das alegrias e os palhaços? Incríveis! A escoteirada pulava de alegria. Mas Rafaella só olhava. Não sorria. Um elefante adentrou na arena. Junto um menino vestido de indiano com um turbante azul. O elefante o seguia. Rafaella ficou de pé. Sorriu! Rafaella sorria! Ninguém a viu sorrindo, acho que só eu.

               Ninguém prestava atenção em ninguém. Naquela hora só a arena e os espetáculos de sonhos, de azuis, amarelos, vermelhos e de mil cores que estavam sendo visto pelos escoteiros. Só viram Rafaella na Arena. Susto! Gritaram – Rafaella volte! Ela não ouvia ninguém. Foi até o elefante. O tocou na tromba. O elefante olhou para ela. Ajoelhou-se e sentou com as patas dianteiras. Pegou-a com a tromba e bramindo a jogou no ar pegando-a novamente. Rafaella dava gargalhadas e a escoteirada acompanhou. Seu Arquiduque Maximiliano veio correndo. Mas o elefante levantando a colocou em seu dorso e ficava em pé sempre segurando Rafaella com a trompa.

                O adestrador de animais conseguiu retirar Rafaella de lá, mas ela gritava para não sair. Na arquibancada ela parou de rir. Ninguém entendeu nada. Rafaella sorrateiramente pulou por baixo da arquibancada, passou por baixo da lona e quando procuraram por ela foram encontrar junto ao elefante atrás do circo e dando risadas. Interessante que o elefante gostava dela. O circo ficou na cidade nove dias. Embarcaram em um trem da Leopoldina rumo à outra cidade. Rafaella sumiu. Cidade pasmada! Impossível diziam. Aqui não tem disso. Procuras mil. Rafaella tinha entrado no vagão do elefante como clandestina. Descobriram quando chegaram a Nuvem Azul. Seu Arquiduque Maximiliano passou um telegrama para buscá-la. Interessante. Rafaella voltou a sorrir. Quando voltou a Alcatéia foi recebida como a heroína de aventuras. Palmas e abraços. Valeu Rafaella. Um dia não há vi mais. Soube que seus pais foram morar em uma fazenda de um parente que morreu. Quem sabe lá junto à natureza ela não esteja sorrindo junto a um Lobo Guará cinzento e brincando pelas campinas verdejantes? Rafaella, um sonho de menina. Uma lobinha que soube fazer sua própria aventura.


Ai, o circo vem aí, quem chora tem que rir,
Com tanta palhaçada, tem hindu que come fogo,
Faquir que come prego, mulher que engole espada!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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