Lendas
Escoteiras.
O requintado
e saboroso Bolo de Chocolate de Carminha
Carminha
era Lobinha, com seus dez anos sabia que ficaria pouco tempo na Alcatéia. Logo
seria escoteira. Quem a
visse diria que ela poderia ter 12 ou 13 anos. Tinha os cabelos negros,
crespos, olhos castanhos e um porte firme, sempre com um sorriso nos lábios.
Uma simpatia! Amava sua Alcatéia Sambhur (animal forte, elefante ou um grande
tigre ou touros selvagens). Era uma alcatéia nova, fora fundada há oito anos. A
alcatéia estava agora com 12 lobinhos e 10 lobinhas. Carminha era chamada
carinhosamente na sua matilha cinzenta de Raksha. Quando entrou fizeram o Grande Uivo em sua
homenagem. Ela achou aquilo o máximo. Ali mesmo no seu pensamento, jurou que
nunca mais iria sair do escotismo. Ela adorava as reuniões. Cada uma diferente
da outra. Os jogos então eram sua paixão, mas logo descobriu que poderia
crescer e ter muitos distintivos colocados em sua camisa.
Agora Carminha estava diante de um grande
dilema. Enorme mesmo. As duas coisas que ela mais gostava na sua vida de
lobinha. O Acantonamento anual do Distrito, onde centenas de lobinhos e
lobinhas estariam reunidos e a festa de aniversário de Isabel, sua prima. Sem
contar é claro o delicioso Bolo de Chocolate que sua tia fazia com um sorriso
no rosto. Como era gostoso! Delicioso. Um sabor sem igual. Carminha esperava
todos os anos só para admirar a feitura e depois sentar calmamente, olhar seu
“pedaço” e ir saboreando cada colher. E agora para sua infelicidade, as duas
coisas iam acontecer ao mesmo tempo. Ela estava com a maior indecisão em sua
vida. O que fazer? A noite ajoelhou aos pés da cama e pediu a Deus para lhe
mostrar o caminho. Mas qual caminho? Ela queria ir ao acantonamento e também
estar no aniversário de sua prima e o bolo... Ah o bolo!
Eça sabia que seria uma decisão difícil
de Quem um dia quando criança não se sentiu assim? Uma dúvida atroz, cruel para
elas, desumana. Mario Quintana escreveu que só as crianças e os velhos conhecem
a volúpia de viver dia-a-dia, hora a hora, e suas esperas e desejos nunca se
estendem além de cinco minutos..., não sei se concordo com ele. Dizem ainda que
as crianças acham tudo em nada e os homens não acham nada em tudo! Aquele
sábado de reunião foi um tormento para Carminha. Logo após a cerimônia de
bandeira, ela se esqueceu das palavras que devia ser dita no Grande Uivo. A
Akelá a escolheu para responder – melhor, melhor, melhor e melhor? Sim, melhor,
melhor, e melhor! E ela nada. Seu pensamento estava no Bolo de Chocolate e no
acantonamento. Todos ficaram intrigados, Carminha sempre era a mais alegre,
mais participante e parecia estar nas nuvens. A Kaá fez um jogo de abertura já
conhecido e que Carminha adorava. A Baratinha e o inseticida e Carminha parecia
flutuar em nuvens e não prestou atenção ao jogo.
Quanto Hathi contou uma
parte da história de Mowgly Trégua das Águas, foi que prestou um pouco mais de
atenção. Dizia Hathi: - A Lei da Jângal – que é a mais velha lei do mundo,
atende a quase todos os acidentes que possam acontecer para o Povo da Jângal.
Código mais perfeito, o tempo e os costumes nunca fizeram. Mowgly vez por outra
ficava impaciente com as constantes recomendações de baloo, o urso pardo, que
sempre lhe dizia: - “Esta é a lei que vigora em nossa selva e que é antiga como
o céu” Como o cipó envolve a árvore, a Lei do Lobinho envolve a todos nós. E
depois que tiveres vivido tanto quanto eu, irmãozinho, verás que todos os
filhos da Jângal obedecem ao menos uma lei, e não vai ser um acontecimento
agradável de ver. Essa lição entrou por um ouvido e saiu pelo outro, porque o
menino nunca tinha passado problema sério. Hathi continuou contando e desta vez
Carminha prestava muita atenção.
Carminha no final da reunião se
aconselhou com a Akelá. A resposta não ajudou muito. Se quer um bolo de
chocolate ou quer ir ao acantonamento, o melhor é o segundo Em casa falou com
sua mãe e esta não se mostrou muito interessada no tema. Carminha estava
decepcionada. O que fazer? Como agir? Sonhou muito com os dois fatos. Não havia
como fugir. Ela tinha de ir ao acantonamento. Afinal sua vida também fazia
parte da Alcatéia. Ela não poderia decepcionar sua matilha cinzenta. Sabia que
a lembrança do Bolo de Chocolate nunca seria esquecida. Quando chegaram ao
sítio o Balu fez o jogo do labirinto, (trançou-se entre as arvores um sisal esticado
a um metro de altura e cada lobo de olhos vendados teria que percorrer o
labirinto). Comeram em seguida um lanche e foram introduzidas no tema da
atividade. A primeira etapa da disputa (história de Mowgly), a segunda (Caçada
aos amuletos perdidos) e foram para o almoço. Carminha não esquecia seu bolo de
chocolate.
O acantonamento foi formidável. Tirou sua
Insígnia Mundial de Conservacionismo, À tarde foram tomar banho na cascata.
Carminha conheceu Rodrigo, um lobinho da matilha azul, de outra alcatéia do
distrito e ficaram grandes amigos. Carminha contou seu problema e Rodrigo
entendeu perfeitamente. Solidarizou-se com ela em tudo. Após o jantar, Carminha
viu que sua alcatéia fora chamada sem a presença das outras e ela não soube o porquê.
A Akelá a chamou em particular e pediu para ela ir à cozinha e pegar uma colher
Carminha foi correndo. Ela era sempre assim. Disseram uma vez que o lobinho não
anda, voa! E ela levava isso a sério. Mal chegou à cozinha e lá estavam sua
mãe, sua tia, sua prima Beatriz e mais outras dez amigas de Carminha. Uma
enorme surpresa. Sua tia disse – Carminha, vamos agora fazer o bolo de
chocolate e você vai me ajudar!
A vida nos reserva tantas surpresas,
coisas que a gente jamais imagina que vai acontecer. Ajudar a preparar e comer
o Bolo de Chocolate junto a amigos da Alcatéia com sua família e sua tia, claro
também com a Prima Beatriz era um sonho. Foi um aniversário que ficou para
sempre na lembrança de Carminha. Nunca esqueceu aquele dia e o Bolo de Chocolate.
Como era gostoso! E ali naquele acantonamento ele tinha um sabor todo especial.
Cantaram os parabéns, a Alcatéia se refastelou com o bolo de chocolate. Correu
e abraçou sua prima Beatriz. - Amo você minha prima, seja feliz como eu estou
sendo agora. E as duas ficaram ali abraçadas por um bom tempo. Não muito, pois
era hora de Carminha comer seu pedaço de Bolo de Chocolate. O segundo do dia.
O escotismo é isto. Sonhos se tornando
realidade. Amor retribuído em surpresas e amizades. A cada dia, a cada reunião,
ou acampamento vamos recebendo passagens maravilhosas que ficam marcadas em
nosso coração. Carminha viveu o escotismo intensamente. Cada um de nós vivemos
mais que uma ilusão no escotismo. Ela mais jovem e eu um pouco mais Velho
sabemos que temos orgulho em participar, viver, amar, sonhar, e acreditar que
nosso movimento nos traz tudo àquilo que alguém pode pensar em ter. Não sei,
mas acho que o escotismo é minha vida ou quem sabe minha vida é ser escoteiro!
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