Lendas
Escoteiras.
A
cruz de ferro da Montanha do Condor.
- Não foi fácil. Oito horas
parando de duas em duas. Uma subida que derrubaria qualquer um, mas éramos
escoteiros e escoteiros não desistem. – Juca olhava com olhos arregalados para
Pedrito um Sênior com muitas estrelas de metal no uniforme. Todos conheciam seu
valor. Juca no alto dos seus onze anos, um tiquitito de nada, não perdia uma
palavra do que Pedrito dizia. – Olhe, o Chefe Arariboia veio desafiar a
escoteirada. – Só disse que não iriamos aguentar a subida. Quando ele falou
rolei no chão de tanto rir. – Chefe! Parece que não conhece os Lobos Cinzentos.
Dê autorização, um mapa e um croqui e chegamos lá num pulo – O Chefe Arariboia
riu para nós. Quer saber? Eu fiquei pensativo. Sabia que os pioneiros estiveram
lá. Muitos juraram nunca mais voltar. Andaluz foi quem me disse: Se quer
aprender a subir no topo da montanha sorria, mas saiba que a felicidade ocorre
quando você a está escalando! – Juca sorvia com alegria as palavras de Pedrito.
Admirava suas aventuras, cada uma maior que a outra. – E ele terminou assim:
Oito horas de subida, muitas vezes usando as mãos para não cair. Mas valeu ver
a Cruz de Ferro no alto da montanha pagou todos os pecados da subida.
Juca foi para casa. Sua mente voltava
atrás e corria para frente em velocidade incrível da história de Pedrito.
Aquela era demais. E quando ele disse que no alto da montanha ele quase
alcançou o sol? Quase queimou a mão? E a noite? Pegou estrelas, muitas ele guardou
na mochila outras ele mudou de lugar. Ficou mais impressionado quando ele disse
que um sino tocou a meia noite junto a Cruz de Ferro. Um sino? Nossa Senhora! Demais!
Pegar estrelas? Juca sonhava acordado. Embebido na história de Pedrito ele sonhava
em escalar a montanha do Condor e ver de perto a Cruz de Ferro. Rosaldo o
monitor disse para ele um dia: - Olhe Juca as pessoas viajam longos percursos para admirar a altura das
montanhas, as imensas ondas dos mares, o longo percurso dos rios, o vasto
domínio do oceano e o movimento circular das estrelas. Mas a maioria passa por
tudo sem olhar para si mesmo tentando ver e entender o caminho que se perde no
tempo e as belezas do universo. Juca tinha eterna admiração por Rosaldo. O
achava um sábio. Ao lado dele não tinha medo de nada. Mas a montanha? Seria
demais um dia escalar.
Ele ia para a sede naquele dia
sorrindo. Ainda com a montanha na mente, pois se tornou uma vontade, uma
certeza que não poderia nunca deixar de escalar e conhecer a Cruz de Ferro da
Montanha do Condor. Até pensava que iria ver Jesus o Salvador sorrindo para a
escoteirada em um cometa que passasse soltando faíscas e deixasse seu ribombar
no ar. Cantava baixinho, como estivesse voando – No perfume das flores de
ameixa, o sol de súbito surge – Ah, ele o leva ao caminho da montanha! A
reunião foi demais. Os jogos marcaram, pois o Chefe Arariboia era único. Juca
já tinha seis meses de Tropa e promessado. Na reunião de patrulha teve uma
surpresa. Quase caiu do banquinho que construiu com muita dificuldade. – Patrulheiros
eu consegui! O Chefe nos autorizou a escalar a Montanha do Condor! – Impossível
e possivel ao mesmo tempo, Juca quase chorou de alegria. Contou para todo
mundo, agora sim seu sonho seria real. Ele iria contar tudo, queria ver os
sinos tocarem na Cruz de Ferro, queria trazer duas estrelas cadentes no bornal,
queria ver Jesus passar no Cometa espacial.
Chefe Arariboia levou a patrulha
até do outro lado do rio no seu Jeep amarelo. Era demais, cantantes a escoteirada
da Patrulha Corvo só sabia gritar: - Montanha chega de montanha russa, nos
aguarde, daqui a pouco estaremos subindo outra vez! – Outra vez? Não era a
primeira? Juca ria e nem se importava. Quando chegarem à trilha da Escarpa do
Corvo, o Chefe Arariboia disse: - Quando estiverem escalando a montanha,
coloquem em seu rumo uma estrela, assim esquecerão o cansaço e os problemas.
Ela será sempre sua estrela guia! Uma hora, o sol escaldante, a patrulha
caminhante precisava descansar. Um minuto e mais nove e vamos lá, a montanha
está a nos esperar falou Rosaldo. Quatro horas. – Está longe? Onde? Na curva da
subida do norte e do leste que não vejo? – Outra parada apenas para esticar as
canelas. Os cantis quase vazios. – Bebam menos! Dizia Rosaldo, a nascente está
na volta do Condor, e de lá já vamos ver o pico da Montanha do Condor.
Seis horas de jornada, sete e
nada. Juca nem aguentava mais. Pensava o que disse sua mãe: Amar é o esforço de
escalar a montanha. Só podemos apreciar a subida se ver que as pequenas grandes
coisas não são assim tão difícil de conquistar. Seu corpo queria desistir, mas sua mente
não deixava. Seus sentidos estavam alertas – A visão ajudava a ver a trilha da
subida, a audição deixou ouvir o som da cascata, o paladar pedia ajuda para
comer e o olfato trazia o doce perfume das flores no ar. – É ali! Gritou
Rosaldo, chegamos – Os olhos de Juca fizeram da chegada um sonho que ele não
acreditou que iria realizar. Parou em frente a Cruz de Ferro, era bonita
demais, grandona enorme quase chegava nas nuvens do céu. Ajoelho e rezou: Senhor
meu Deus, tens a gloria e o poder no céu e na terra. Eu contei cada minuto,
cada segundo por este dia. Aqui também é o teu reino para todo o sempre.
Obrigado Senhor por este dia e esta noite. Obrigado Senhor por proteger aos
meus amigos e fazer realizar este sonho que julgava impossível. Amém!
Ah! Os tempos de alegria,
de ver de sonhar de tocar nas estrelas na noite de lua cheia. De levar em
pensamento duas estrelas vermelhas brilhantes em noite de luar. Juca sorria e cantava: - A vida é um
processo... Ela é como subir na montanha! Mesmo que não esteja forte
fisicamente, a paisagem compensa a visão do que Deus fez nunca mais vou
esquecer! Os anos passaram. Juca cresceu, mas a lembrança da Cruz de Ferro
morava agora no fundo do seu coração. Ela era brilhante como um farol para
iluminar a escuridão. No alto da montanha do Condor ele fincou uma morada bem
no meio do seu coração. Muitos e muitos anos depois, Gentil olhava para seu pai
com os olhos arregalados, e sonhando com sua escalada na Montanha do Condor.
Juca sorria ao contar. Tantas coisas para lembrar. – Sabes meu filho, eu me rio
do que já vi, do que me assustou, mas venci! E daquilo onde sofrendo, eu
aprendi!
- A vida
pode ser comparada à conquista de uma montanha. Como a vida ela possui altos e
baixos. Para ser conquista, deve merecer detalhada observação a fim de que a
chegada ao topo se dê com sucesso. À medida que subimos, o panorama que se
descortina é maravilhoso. As paisagens desdobram a vista, o verde intenso das árvores,
as rochas pontiagudas desafiando o céu. E lá do alto percebemos que os nossos
problemas, aqueles difíceis, mas superados são do tamanho das casinhas que
avistamos. É aí que precisamos de um amigo para nos auxiliar. Podemos estar tão
cansados que nem conseguimos sair do lugar. Quem de nós não quer chegar ao alto
de sua própria montanha?
Nenhum comentário:
Postar um comentário