quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Chefe João Soldado o imortal.


Lendas Escoteiras.
Chefe João Soldado o imortal.

                 Carlito e Rosana dois pioneiros eram os responsáveis no transporte ida e volta do Chefe João Soldado até a sede neste sábado. O grupo fazia uma vez por mês uma reunião especial onde sempre comparecia boa parte dos antigos escoteiros e todos sabiam que ao terminar haveria um encontro social, com comes e bebes gentilmente levado por cada um dos participantes. Chefe João Soldado era especial. Quase todos conheciam sua história, sua saga no grupo. Nos aniversários que o grupo comemorava o chefe João Soldado era saudado como o pai de todos. Bem não foi ele quem começou o grupo, mas vivo até hoje era o único que participou desde sua fundação. Oitenta e três bem vividos escoteirando. A ideia foi do Padre Rocco e apoiada pelo Doutor Moscato Diretor do Colégio São Pedro que já tinha ouvido falar dos escoteiros. João Soldado tinha seis anos. Uma preocupação para seus pais, pois sempre escapulia e corria para o Tiro de Guerra, marchando e a soldadesca o adotou como mascote. Foi o segundo a se matricular na Alcatéia. Não parava de falar. Falava na escola, em casa, na mesa de refeições e até dormindo falava. Adotou o escotismo para sempre.

                      Com seis anos aprendeu o que era democracia. Foi escolhido com mais seis lobos, oito escoteiros, O Padre Rocco, o Doutor Moscato e Dona Tereza para fazerem a primeira reunião do grupo e escolherem o nome. Sem querer ele sorriu. Sentiu-se importante. Lembrou de que toda noite sua mãe lhe dava boa noite e dizia: - A estrela cadente me caiu ainda quente, na palma da minha mão! Sorria e dizia dorme com Deus. Repetiu o verso. Todos o olharam espantados. Quando contavam isto ninguém acreditava. Achavam que o 29º Grupo Escoteiro Estrela Cadente tinha outra história. João Soldado na primeira reunião de Alcatéia ainda se chamava João Francisco. Foi Mosqueteiro quem o chamou assim. Ficaram amigos para sempre até que aos setenta e nove Mosqueteiro morreu. Poderia escrever um livro de mil páginas da sua vida como escoteiro. Tinha histórias para contar. Nunca esqueceu o seu segundo acantonamento. Barracas armadas próximo ao Riacho da Raposa choveu, uma enchente enorme carregou tudo. Voltaram para casa chorando e pensando como iam ter um novo material de campo.

                    Akelá Tereza era única. – Vamos em frente ela disse, quando um lobo não encontra a si mesmo, não encontra nada! – Em menos de cinco meses tinham tudo de volta. Não chorou ao passar para Escoteiro. Diziam que na cidade dos homens eles diziam entre si: - Se cair levante se deslizar se segure, mas nunca pense em desistir. Quanto mais amarga for sua queda mais doce será sua vitória. Devorou livros, nada ficou sem ele conquistar. Distintivos, comendas enfim era um Escoteiro que não sabia o que era a palavra desistir. Foi um Sênior que sempre dizia: - Eu não sou nada e talvez tenha tudo. Fora isto eu tenho todos os sonhos do mundo. Não houve uma montanha, não houve uma planície ou um vale que ele não viajou com sua mochila que ele mesmo fez. No Clã era um camarada amigo e fraterno. Ficou pouco tempo, assumiu a Tropa Cauã. Era a segunda do Grupo. Seu sorriso era contagiante. Religioso fazia questão de dizer que Deus é tudo e que não existe escotismo sem ele.

                     O tempo passou. O amor ao seu grupo nunca terminou. Nunca se esquecia de dizer nas tropas, nas alcateias que era uma pessoa feliz. – Amo a vida, e dela sou aprendiz. – Tenho várias paixões e o escotismo é minha filosofia e minha inspiração. Mas não se esqueçam eu também possuo imperfeições. Se os caminhos que percorro não forem os que eu quero pelo menos luto por eles. A cada dia me procuro tornar melhor. Nunca assumiu a chefia do Grupo. Insígnia agradeceu convites de ser formador. Amava seu grupo, mas amava mais ainda o escotismo. Era sua filosofia de vida. Nunca pensou em se aposentar e quando se tornou o mais antigo do grupo, quando foi morar nas estrelas seu melhor amigo Mosqueteiro, resolveu diminuir as atividades. Acampava de vez em quando, uma ou duas vezes ao ano acantonava com os lobos. O Grupo Estrelas Cadente tinha vida própria. Ele nunca interferiu. Sorria e lembrava-se do poeta: - O meu ideal politico é a democracia. Torço para que todo homem seja respeitado como indivíduo e que ninguém seja reverenciado e idolatrado.

                       Naquele dia, o céu fazia um azul tão límpido, que parecia saudar a entrada do Chefe João Soldado na sede do grupo. Todos estavam a sua espera. Quem estava ali vibrava. Impossível ver tanta alegria. João Soldado sorria. Ele com seus 89 anos quase não falava. Gesticulava pouco, mas seu sorriso nunca desapareceu. Muitos que estavam há anos no grupo pensavam que a suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você, ou melhor, apesar daquilo que você é. Havia uma cadeira com braços para ele. Não caminhava mais, queria contar causos e não conseguia, mas estar ali junto a quem amava bastava para reviver uma vida cheia de felicidade. Dizem que a gente não precisa buscar a felicidade fora, ela está dentro de você. Se insistir em sair por ai é possivel que nunca vai encontrá-la. O Chefe do cerimonial educadamente olhou para todos, por último em João Soldado. Ambos sorriram. A ordem foi dada:

- Escoteiros firme! A bandeira em saudação! Todos em posição de sentido fazendo a saudação. João Soldado quis levantar, mas não conseguiu. O vento jorrava saudades em busca de novos horizontes. As bandeiras farfalhavam. – João Soldado sem ninguém ouvir falou para si mesmo: - Vento, ar que respiro ventania tempestade que vivo. Flores... Que me fazem respirar. - Firme descansar! O Chefe da cerimônia olhou para o Chefe João Soldado. Ele sorria seus olhos abertos, mas seus braços inertes. Rosa Linda uma Lobinha deu três passos à frente. Chorava. Cantou em forma de poesias o canto noturno do cisne, daqueles que deixam saudades; - Chefe João Soldado! O vento sussurra-me algo ao pé do ouvido. Chefe você é imortal. – Eu falo com esperança de um dia ser como você.  Eu sei que entendes as cantigas do vento, disseram que no Fogo de Conselho você os invocava com sabedoria. Mas Chefe, ah! Se eu pudesse falar a língua dos ventos teria a audácia de mandar-te um beijo um abraço um sempre alerta gostoso e nada mais.


João Soldado o Chefe imortal estava morto. Uma estrela Cadente apareceu no horizonte, brigando com aquele céu azul brilhou intensamente. Todos com seus bastões fizeram a saudação do adeus para aquele Chefe que viveu e morreu com o escotismo no coração. – Alguém baixinho falou: - Para viver não precisamos ser melhor que ninguém, nossas ações falam por si.  Do pó viemos ao pó voltaremos! 

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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