Lendas
Escoteiras.
Labrador,
o cão solitário da Montanha da Lua.
(Conta-se
uma lenda que um Escoteiro se dirigia para um acampamento de sua patrulha,
quando passou por um círculo de pedras e foi silenciosamente ultrapassado por
uma matilha de cães negros espectrais acompanhados por um homem vermelho, com
pernas compridas e soltando fogo pelas narinas. O homem parou em frente ao
Escoteiro e a matilha fez um círculo em sua volta. – Aonde vais? Perguntou o
homem sinistro. Os cães latiram. – Acampar responde o Escoteiro. – Toma isto! E
o homem vermelho jogou em suas mãos uma trouxa. Sumiram depois em nuvens
escuras desaparecendo no escuro da noite. O Escoteiro ao chegar ao acampamento
teve uma grande surpresa. – Descobriu que enrolado na trouxa existia um esqueleto
de um cão negro já morto. Ele nunca mais viu um cão como aquele e mesmo
percorrendo o Caminho do Abade, onde eles aterrorizam os carneiros e os pôneis
selvagens viu que sumiram para sempre nas trilhas da Montanha da lua).
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Tino Marcus era monitor
da Albatroz. Eram seis amigos que juntos tinham o mesmo desejo e o mesmo ideal.
Viver na natureza enquanto pudessem. O Chefe Montanha autorizava sempre a
patrulha acampar na redondeza. Quando podia fazia uma visita e sabia que eram
responsáveis, unidos e dificilmente iria acontecer um acidente. A Albatroz
tinha história. Patrulha antiga, com mais de quarenta anos de fundação. Estava
agora na sua décima terceira geração. Tino Marcus sabia que podia contar com
Tavinho, Rodnei, Lucas, Bebeto, Vantuil o sub. Todos sabiam o que fazer como
fazer e não se apertavam em acampamentos, excursões ou bivaques como o do quase
inacabado percurso dos Montes dos Camarões. Ali tudo deu errado, mas entre
mortos e feridos escaparam todos. Era para terem saído às sete da manhã e por
que o Bebeto teve que ajudar sua mãe em um serviço na Cascata do Rio Vermelho
resolveram esperá-lo para que ele não fosse sozinho. Afinal escolheram acampar
na Montanha da lua, e duas léguas sozinho naqueles caminhos não era fácil.
Só às cinco da
tarde chegaram ao Sítio São Lourenço. O Senhor Samuel não estava, mas tinham
intimidade bastante para deixar as bicicletas no Galpão das máquinas. Sabiam
que ele iria sorrir quando visse e quem sabe iria a cavalo fazer uma visita a
eles. Escurecia e a noite caía como breu. Não se via quase nada a frente.
Resolveram montar barraca no Platô dos Bororós. Eles mesmo batizaram na
primeira vez que subiam a Montanha da lua. Havia diversos lugares lindos, mas
com a escuridão da noite o melhor era ficar por ali. Dava para armar até três
barracas de duas lonas e havia um pequeno aclive para montar a cozinha. Não
precisavam de mais. Seria duas noites de acampamento e o programa poderia ser
feito ali. A rotina não precisa ser contada. Afinal eram seis bons acampadores
mateiros. Foram dormir cedo por volta de dez da noite. Tino Marcus ainda ficou
com Vantuil até as onze. Quando foram dormir ouviram um uivo triste e gritante
de algum lobo que devia estar bem próximo deles. Se fosse um lobo saberiam como
agir. No acampamento de Serra das Araras fizeram amizade com um e na volta ele
desapareceu e nunca mais o encontraram.
Levantaram cedo, por
volta de cinco e meia. Tino Marcus avistou aquele que uivava a noite. Era um
cão enorme, negro, olhos vermelhos e quando respirava saia de suas narinas uma
espécie de fumava branca que é costume a gente ter quando o frio é grande. Ele
se assustou. Chamou os demais escoteiros com o dedo na boca para fazerem
silêncio. O Cão sentou em duas patas, não demostrou ser feroz e nem tomou
posição de ataque. Tavinho com seu sorriso contagiante foi até ele. Acariciou
seu dorso e sua cabeça, o cão não fez nenhum gesto. Nem abanou a cauda. Só
respirando e olhando fundo nos olhos de Tavinho. Passado os primeiros momentos
todos se aproximaram. Afinal o Escoteiro é bom para os animais e as plantas e
ali estava um belo exemplar de um da raça... Qual raça? Ninguém sabia. Não era
um Martim, não era um Dogue Alemão, não era um Pastor e nem um Mastim. Pelo sim
pelo não o chamaram de Labrador. O cão permanecia com eles todos os dias.
Brincava, pulava, caçava e fazia mil e uma estripulias próprias de um cão
selvagem.
Na noite de sábado fizeram um
fogo do conselho. Labrador ficou deitado prestando atenção a tudo que faziam. Perto
da fogueira viram quando suas orelhas levantaram. Um estalido de galhos secos
dizia que havia intrusos na mata. Ele sabia o que era. Só podia ser uma Pintada
das grandes. Todos o viram saltar para dentro da mata. Ouviram latidos e
rosnados. Ele voltou com sua pose de rei da selva. A onça havia partido. No
domingo pela manhã deram por sua falta. Até onze da manhã nada do Labrador.
Resolveu dar uma busca. Quem sabe se feriu na luta com a onça. Aventuraram por
boa parte da Montanha, desde o leste para o oeste, do sul para o norte.
Descobriram quase à tardinha uma caverna. Entraram devagar. Não viram labrador,
mas tudo ali dizia que era sua morada. Quando retornaram ouviram seu uivo
cantante e triste. Voltaram e nada. Partiram às sete da noite. Por dois meses
fizeram plano para voltar. Queriam saber o que ouve com Labrador.
Acamparam no mesmo Platô.
Esperam o dia inteiro e nada. Ficaram dois dias esperando. Antes de partir resolveram
subir a montanha e ver a caverna onde Labrador morava. Vazia nenhum sinal.
Voltaram para o Platô pegaram suas tralhas e partiram. Na descida um clarão
vermelho iluminou toda a montanha. Assustaram, subindo a trilha uma matilha de
cães vermelhos estava subindo. Na frente um homem enorme, todo vermelho com
fumaça em suas narinas seguia sem nada dizer. Saíram da trilha e observavam a
passagem daquela figura fantasmagórica e assustadora. Um cão saiu da fila,
parou e olhou os escoteiros. Tino Marcus gritou – Labrador é você? O cão
levantou as orelhas. O homem vermelho sem parar falou: - Belzebu volte para seu
lugar! Pandemônio nos espera. O cão
olhou para seu pai e para os escoteiros. Devagar voltou para a fila e partiram
sem olhar para trás! Uma coisa eu sei, Tino Marcus, Tavinho, Rodnei, Lucas,
Bebeto e Vantuil nunca mais acamparam na Montanha da Lua!
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