Lendas
Escoteiras.
Joel.
Tudo aconteceu muito
rapidamente. Pegou-me de surpresa e me assustou. Menino Escoteiro sem
experiência fui escolhido para o primeiro turno como sentinela. Deram-me um
apito e me ensinaram que só devia apitar em caso de perigo eminente! Qual seria
o perigo eminente? O monitor me deu seu bastão de patrulha, grande pesadão com
ponteira de aço. Deu-me também um facão e me disse que ficasse de prontidão.
Meu turno seria de uma hora. Depois iria acordar o cozinheiro. Éramos sete
escoteiros e eu o pata tenra aprendiz. Foram dormir e eu fiquei ali em pé,
frente ao fogo que não deixava apagar. Ao sul uma pequena mata, a leste a lagoa
cinzenta que podia aparecer a qualquer momento o monstro da Lagoa Negra. A
oeste uma trilha para o alto do morro do Cantador. Ao norte uma pequena
clareira onde resolvemos acampar.
Tentei me sentir um
intrépido soldado, vigilante na minha ronda velando pela segurança dos meus
amigos a quem devia dar minha própria vida se necessário. De atalaia eu vigiava
com olhos de alce, andando aqui e ali e voltando sempre para o clarão do fogo
que fazia questão de usar toda lenha que pudesse apanhar. Cantava para mim as
belas frases que me ensinaram quando entrei nos escoteiros: - Noviço tenha um
espirito aventureiro, faça tudo com coração, respire a natureza, durma ao som
das belezas do campo, e principalmente não esqueça sua responsabilidade do ato
de proteger aos que estão dormindo.
O sono chegava toda
hora. Meus olhos queriam fechar. Tomei um café um respingo de água do cantil
nos olhos, pois foi assim que o intendente me explicou para espantar o sono.
Chegou um momento que não aguentei mais. Quantas horas para chamar o próximo da
ronda? Comecei a dormir e sem perceber ouvi um barulho de alguém correndo morro
abaixo como se fosse um vagão desgovernado! – Olhei, esfreguei os olhos, nossa!
Estava tudo vermelho, parecia que o sol desceu a terra em nosso acampamento e
alguém alto, com chifres, soltando fogo na boca e gargalhando dizia para todo
mundo ouvir: - Estou chegando escoteirada. Desta vez ninguém vai escapar! Dei
um salto no ar. Armei-me com o bastão ponteira de aço. Olhei para a aparição
com a coragem de um herói Escoteiro.
Lembrei-me do apito, o
coloquei na boca e dei tantos quanto podia dar. Era o ponto, era o traço, se
era o S.O.S não sabia. Gritava, pedia socorro e logo vi muitos dos meus amigos
escoteiros de pé ao meu lado para me socorrer. – Que foi Joel? Que bicho te
mordeu? Quem está invadindo? Olhei para o norte, para o sul para o oeste e o
este. Uma brisa gostosa se espalhava no ar. Não havia nada... As estrelas no
céu brilhavam, os sapos coaxavam na lagoa não oferecendo perigo algum. Procurei
a coisa ruim e não encontrei. Olhei meu monitor e pensei: - Desta vez não
haverá perdão. Sem saber o que ia fazer, continuei a busca. A mata calada não
contou o que eu vi e testemunhei.
Todos foram dormir, meu
monitor passou o braço no meu ombro. Sorrindo como um pai ou um Chefe amigo me
disse calmamente: - A beleza de tudo está nos olhos de quem vê e sente. No
desejo da esperança sempre existe o sol e a luz. Não existe sombra para quem
acredita no bem. Meu amigo noviço, acampar é relaxar. Não se estresse com o
imprevisto. Eles sempre acontecem. Vai dormir, deixe que eu fico até o final da
sua ronda...
“Pergunte
ao seu passado o que o futuro te reserva, se for mau então faça o melhor no
presente.” “Você descobre que está na direção certa quando não enxerga
mais motivos para olhar para trás.” “O passado serve para evidenciar as
nossas falhas e dar-nos indicações para o progresso do futuro.” Sempre
Alerta!
Quem não passou por
isto? A ronda noturna no acampamento é uma aventura e tanto para um noviço. A
gente vê tantas coisas que parece que o mundo vai explodir. Mas experiência vai
chegando a gente se virando e sabendo bem o que fazer. Ronda? Você já fez muitas?
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