Na beira do
caminho tinha uma flor... Tinha uma flor na beira do caminho.
Plagiando
Carlos Drummond de Andrade.
Era um sol do meio dia.
Quente, fervendo o sangue do Escoteiro caminhante. Mal dava para olhar a frente
de tão quente... O chapéu de abas largas tentava segurar os raios solares. A
camisa ensopada. Ele pensou em tirar o lenço e a camisa. Ficar com a camiseta
que estava por baixo. Mas esqueceu desta vontade. Aprendeu a andar uniformizado
onde fosse. Não importa se tinha alguém a vê-lo ou não. Há horas esperava
encontrar uma arvore frondosa, a beira do caminho. Nada. A estrada era de terra
e quase não cabiam dois veículos passando um pelo outro. Ele sabia que ainda
tinha chão para percorrer. Não fora com sua patrulha pela manhã. Prova de
matemática. Um mais dois cinco mais oito e ele aprendeu a tabuada assim nas
jornadas da vida. Agora não. Não calculava a soma divisão ou a multiplicação.
Precisava parar para descansar, mas e a árvore frondosa que não aparecia?
Tirou seu cantil e bebeu dois goles.
Não mais. Ele não sabia quanto tempo tinha para encontrar um riacho. Ali era
impossível. Tudo estava seco, nem o verde do campo se via. O chão do caminho
era terra pura. Se chovesse valha-me Deus o barro que daria. Um, dois, quatro
seis quilômetros de pé no chão. Sua mochila pesava. Ele estava acostumado.
Bastava encontrar uma arvore frondosa, um cochilo e ele andaria outros seis se
necessário. E os pássaros? Ele não via nenhum. Naquele sol escaldante nem pássaro
se arriscaria a voar pelos céus. Ele passou por ela. Na beira do caminho. Nem
reparou. O sol não deixava. O chapéu quebrando a testa para esconder o calor e
a claridade escondia as belezas que não existiam na beira do caminho.
Andou alguns passos e
parou. Sua mente tinha gravado a flor na beira do caminho. Pensou o que seria e
a mente o obrigou a lembrar. Voltou-se calmamente e a viu... Linda, vermelha,
quase do tamanho de uma rosa. Mas não era uma rosa. Somente ela com sua planta
a segurar como se fosse cair com o peso. Não havia vento, ela não se mexia. Mas
era linda. A mais linda flor que ele tinha visto. Deu meia volta até a flor na
beira do caminho. Quem pensaria que na beira do caminho tinha uma flor? Ficou
de frente a ela. Viu que ela sorria e não se importava com os raios de sol que
não penetravam nas suas pétalas. Tirou sua mochila e se agachou em frente a
ela. Um perfume suave correu pelas suas narinas. Gostoso, delicioso. Agradável
de cheirar. Era um balsamo para manter o corpo firme, aquela fragrância jogava
todo seu perfume no Escoteiro que caminha no sol no caminho.
Ficou ali estático por
minutos que se transformaram em horas. Ela a flor na beira do caminho o
hipnotizava. Ele precisar seguir precisava chegar ao acampamento à tardinha.
Seus amigos da patrulha o esperavam. Então o sol se escondeu. Uma nuvem branca
com pássaros esvoaçantes chegaram. Um vento sul começou a soprar. A flor
balançou na sua planta, mas não caiu. O Escoteiro procurou um galho e o fincou
junto à flor. Do seu cantil aguou a linda flor da beira do caminho. Precisava
seguir adiante. O tempo não espera, e ele olhou a flor pela ultima vez. Grande,
Vermelha, quase do tamanho de uma rosa. O Escoteiro partiu olhando para trás.
Uma enorme tristeza o invadiu. A flor da beira do caminho balançou de um lado a
outro. Como se estivesse agradecendo o que o Escoteiro fez por ela.
Vai Escoteiro, vai para
o seu acampamento. Era só uma flor, uma flor vermelha linda a beira do caminho.
E ele viu que na beira do caminho tinha uma flor, tinha uma flor na beira do
caminho, tinha uma flor, no meio do caminho tinha uma flor...
Baseado no poema de
Carlos Drummond de Andrade – No meio do caminho tinha uma pedra.
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