quinta-feira, 18 de maio de 2017

O pecado de todos nós.


O pecado de todos nós.

                              Disseram-me uma vez que ser feliz não é pecado. A felicidade é desprezada por muita gente. É irritante ver alguém naturalmente lindo, rico, simpático, inteligente, culto, talentoso, apaixonado e, ainda por cima feliz! Estou citando isto porque quando conheci Diego pela primeira vez ele era quase tudo isto. Ele conseguiu dar alma ao Grupo Escoteiro Ventos do Norte. Trouxe o sorriso que faltava e todos ali o amavam. Um invejoso comentou que seu jeito, sua maneira de falar e andar, sua voz cheia de trejeitos poderia trazer resultados danosos ao movimento Escoteiro. Diego apareceu do nada e do nada se solidificou como pessoa importante na parte burocrática e em tempo algum alimentou seu sonho de um dia ser um Chefe Escoteiro ou de lobinho. Doutor Janílson o Diretor Técnico não sabia de onde ele veio. Não tinha filhos no Grupo e alguns o conheciam na cidade porque era gerente das Lojas Abil, famosa pelos seus vestidos feitos pelos maiores estilistas do mundo. Ali se encontrava um Gabriell Miuccia Prada, um Bonheur Chanel, um Christian Dior ou mesmo um John Galliano sem falar nas famosas bolsas Louis Vuitton.

                         Era bem quisto pela sociedade local e muitas madames o procuravam diretamente para ser atendidas por ele. Diogo tinha um grande amor. O Escotismo. Como surgiu ninguém soube. Era incansável na colaboração ao Grupo Escoteiro. Conseguiu com suas amizades vultosas colaborações financeiras para o Grupo. Nunca fez a promessa e com seus olhos brilhantes admirava quando alguém no cerimonial jurava a Deus e a Pátria Ele sonhava em fazer a promessa, mas sabia que no Grupo Escoteiro seus trejeitos eram considerados anormais havia muito preconceito por pessoas como ele. Ele respeitava a todos. Mas não era o que pensava Jonny Vampuso. Ele mesmo se perguntou varias vezes se estava certo eles terem no Grupo Escoteiro um sujeito que era conhecido como um homossexual ou um sapatão.

                               Uma das maiores alegrias de Diogo foi quando a Akelá Sophia o convidou para ajudar no acantonamento distrital. Ele nunca se sentiu tão feliz. Parecia estar em casa, ou melhor, no paraíso. Os lobinhos o adoravam e os chefes passaram a ter por ele um carinho todo especial. Quando retornaram pensou que o Doutor Janílson o Diretor Técnico o convidasse para ser um assistente. Mas nada aconteceu. Ele não sabia que seu algoz Jonny Vampuso já tinha feito sua cama não só com o Chefe do Grupo e com boa parte do Distrito e região. A gente sabe que pessoas preconceituosas, são reflexos de defeitos não revelados por eles mesmos. Não se sabia o porquê de um dia o chamarem no Escritório Regional. O Doutor Janílson se desculpou e não foi com ele. Diogo sentiu-se um cordeiro a mercê dos lobos.

                Eram quatro dirigentes. Sisudos. Cara feia. Nem um sorriso. Eram chefes Escoteiros zelando pelo bem da moral escoteira.  Fizeram mil perguntas e no final da reunião um querendo mostrar ser boa praça o convidou para um café. Falava baixinho, sobre o que pensavam dele, sobre os resultados maldosos que o escotismo poderia ter com sua presença, chegou até a citar Paulo Coelho que disse que quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. – Você meu amigo ele disse, sabe que não o aceitam em todos os lugares, sei que isto é cruel. Aceite meu conselho peça demissão e vá embora do Grupo Escoteiro. Vamos evitar rusgas e processos inúteis.

                                Diogo foi para casa com a alma ferida. Ele sabia o que não era o que pensavam e que a vida o obrigou a fingir o que não era. Chorou no ônibus, e a tristeza o invadiu por muito tempo. Pediu demissão de um cargo que não tinha e saiu do Grupo Escoteiro Ventos do Norte. Ficava aos sábados sonhando com seu passado Escoteiro que para dizer a verdade nunca existiu e nunca iria existir. Ele sabia que as nuvens das tristezas são como o vento. Quando elas desaparecem o dia fica mais lindo. Pensava em enfrentar os maledicentes, dizer que eles não eram os donos da verdade. Falava para si mesmo que nunca devia deixar de fazer algo de bom que seu coração pede. Se isto acontecer o tempo poderá passar e as oportunidades também.

                                  Quando naquela tarde Jonny Vampuso entrou na loja com sua noiva para comprar um vestido de noiva ele pensou em não atendê-lo. Afinal ele sabia que o dedo duro foi ele. Porque fizera isto? Ele nunca lhe tinha feito nenhum mal. Ele sabia que seu coração não podia odiar. O atendeu até melhor que muitos que ali estiveram. A noiva de Jonny Vampuso se encantou com Diogo. Na saída Jonny Vampuso num impulso de bom Escoteiro foi até ele e lhe pediu desculpas. Diogo pensou consigo se aceitaria seu pedido. Ainda tinha uma mágoa guardada em seu peito. Sabia que Jonny Vampuso errara e não lhe negaria o perdão. Pensou mesmo em não apertar sua mão. Mas quando viu que ele lhe dera a esquerda, aquela que dizem ser do coração ele aceitou. Quando Jonny Vampuso foi embora as lagrimas desceram novamente.

                               A vida escoteira de Diogo se encerrou ali. Naquele mesmo dia dois menores entraram para roubar e deram um tiro certeiro em Diogo. Morreu na hora. A sociedade em peso tristonha, mas não participativa não foram as suas exéquias. As Madames que ele sempre atendia com presteza e que sempre o trataram como um cão fiel também não foram lá. Ele sabia o que as madames queriam. Ele sempre elogiava dizendo: Eu posso reconhecer a senhora entre mil. Os seus passos têm a magia das grandes senhoras. A sua voz Madame é o sinal maior do meu momento feliz e às vezes Madame, vocês não precisam nem falar, eu sei o que querem!


                                 Eu fui ao enterro de Diogo. Simples. Nenhuma Madame presente. A sociedade não perdoa bajulação sem motivo. Escoteiros? Uns cinco lobos e a Akelá chorosa. Doutor Janílson apareceu para dizer olá e se foi. Jonny Vampuso também apareceu e ficou pouco tempo. Quando a terra sagrada o cobriu avistei uma senhora magrinha, vestida simplesmente, com um menino nos braços e em uma das mãos uma menina de uns oitos anos chorando. Não tendo mais ninguém lá elas se aproximaram da última morada de Diego. Fiquei curioso. Aproximei-me. – Vocês o conheciam? – A menina chorando e soluçando disse – Era meu pai! A Senhora me contou que era sua esposa. Ele fez um trato com ela quando casaram. Tenho meu amor que fingir o que não sou. Meu trabalho me obriga. A sociedade que eu atendo sente-se satisfeita com minha voz, meus trejeitos e sabe, um dia vamos embora daqui.

Que vida, pensei. O acusaram de ser o que não era. Mas de quem seria a culpa? Dele? Dos que viveram a sua volta? Ou dos preconceitos que norteiam uma sociedade que não aceita os direitos dos que se acham possuídos dele? Que os anjos estejam com você Diogo. Para sempre!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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