quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Contos de Fogo de Conselho. O natal do fantasma Simão o Caolho!


Contos de Fogo de Conselho.
O natal do fantasma Simão o Caolho!

“Se você errou se você errou, peça desculpas...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?”

              Manezinho estava de olhos arregalados. Nunca sentiu tanto medo na vida. Ele nunca deveria ter concordado com Zózimo seu amigo deste que nasceu. Poderiam ter esperado o dia seguinte e não após as dez da noite encontrar a patrulha que acampava no Riacho da Lontra. Eles amavam acampamentos e não perdiam um. Liberato o Monitor saiu as duas de sexta um dia após o natal. Eles não puderam ir, precisavam participar de uma cerimônia na igreja. Combinaram de chegar lá por volta da meia noite. O acampamento duraria até segunda, pois era feriado municipal.

              Os dois nasceram na mesma hora no Hospital da cidade. Eram vizinhos e sua mãe amicíssima da mãe dele. Ambas lutavam para sobreviver, perderam o marido para a capital. Disseram que iriam melhorar de vida e mandar uma carta para elas encontrarem com eles. Carta que nunca chegou. Passavam a maior parte do tempo juntos enquanto suas mães saiam para trabalhar. Eles se divertiam, faziam brincadeiras e quando entraram na pré-escola foi como se nova vida se formasse.

                 Um dia viram uns lobinhos brincando na praça, e um deles contou como eles deveriam fazer para entrar também. As mães sempre bondosas foram com eles ao Grupo Escoteiro. O tempo foi passando e Manezinho e Zózimo amando aquela nova vida Escoteira. Sempre juntos nos lobos como quando passaram para a tropa. Só aceitaram a passagem se ficassem na mesma patrulha. Fizeram juntos a jornada de primeira classe e receberam no Acampamento de verão.

               Para eles era escotismo na terra e Deus no céu. Suas mães tanto insistiram que eles fizeram o catecismo juntos e se tornaram coroinhas ajudando nas missas salvo quando iam fazer atividade Escoteira. Deixaram isto bem claro para o Padre Nonô. Agora estavam ali, só os dois na Estrada dos Afonsos. Uma pequena estrada de terra com cercas de arame farpado dos dois lados. Já haviam percorrido três quilômetros. Faltavam outros quatro. Lembraram-se da curva do Demônio. Deus meu! Eles iriam passar lá por volta da meia noite!

“Se você sente algo diga... É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar”?

                 Zózimo olhou para Manezinho. Seus olhos esbugalhados nada diferiam do seu amigo. Lembravam-se de como morreu na curva do Demônio o Simão o Caolho. Isto há menos de dois anos. Simão era um pobre coitado sempre a sorrir e a fazer continência para os Escoteiros. Nunca falou palavrões e nunca brigou com ninguém. Seu sorriso enfureceu Norberto, Tonico e Malaquias. Norberto tinha 19 anos um vagabundo, e filho do prefeito Ladislau. Tonico era filho de Dona Iracema advogada de todos os grandões da cidade. Malaquias era um coitado. Não era nada apenas um bajulador dos dois amigos.

               Foi na tarde de um domingo que se enfezaram com Simão o Caolho. O acusaram de se fazer bonito com Dolores convidando-a para um passeio. Não deu outra. O jogaram na picape e o levaram até a curva do Demônio onde o mataram a pauladas. O enterraram na cruz de outro que morreu do mesmo jeito. Um dia e ninguém sabe quem foi os três amanheceram em suas camas mortos com as mãos e as línguas cortadas.

                   Toda cidade conhecia a lenda da curva do Demônio. Nas noites de lua nova ninguém passava por lá. Se fosse era para encontrar com a figura fantasmagórica de Simão o Caolho. Eles olharam para o céu. – Diacho disse Manezinho, a lua era nova!  Deram as mãos pedindo a Deus que os protegessem naquele dia de natal. Não deu outra, lá na curva Simão o Caolho, parecendo um espantalho jogava pedras em três figuras horrendas presas no arame farpado da cerca divisória. Simão quando os viu parou. Os dois escoteiros tremiam feito varas verdes. – Deus do céu, protegei aos seus filhos deste demônio! Disse Tonico.

                  Simão olhou para eles – Chorava – Não entendem meu infortúnio? Eles me tiraram a vida! Não devem pagar pelo que fizeram? Os presos no arame eram horrendos. Todos eles sangrando, gritando para parar, pedindo perdão. Simão não parecia gostar do que fazia. Era uma alma atormentada e mesmo não querendo só fazia por vingar.

“Se alguém reclama de você, ouça... É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você”?

                  Não se apiedem deles! – Disse Simão. Eles tiraram minha vida! Eles tiraram tudo que eu tinha e o que eu poderia ter um dia. Não devem pagar? Simão não ria como os fantasmas faziam. Era um sorriso triste, não dava gargalhadas. Estava sofrendo e não sabia como evitar. Zózimo e Manezinho não sabiam o que dizer. Lembraram-se de sua lei e sua promessa, onde diziam para ajudar o próximo sem esperar nada. Uma obrigação de um Escoteiro. Ajoelharam – Olharam para Simão – Manezinho se lembrou de uma passagem na bíblia que ouviu na Missa do Domingo:

- “E aproximou-se de Jesus um leproso que, rogando-lhe e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se me queres bem pode limpar-me.” – E completou – Se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nos, e ajuda-nos. E Jesus disse-lhe? Se tu pode crer, tudo é possivel para os que crêem! Uma luz brilhante aconteceu. Manezinho e Zózimo ficaram estupefatos! – Uma criança sorria e olhou para Simão. – Com uma voz amiga disse – Simão, tudo na vida tem um começo e um fim. Sem o perdão você não vai conseguir ir para o céu! Ouviram um trovão e os três malfeitores se soltaram. Ajoelharam e chorando disseram – Perdoa Senhor!

                   A noite virou dia na curva do Demônio. Não mais havia vencidos e vencedores. A voz do menino continuou: - Ide, procurem ajuda na seara do Senhor! – E você Simão, sei que choras e se perdoou também será perdoado! – O céu voltou a ficar cheio de estrelas. Não havia mais ninguém ali. Simão e seus matadores se foram. Que eles fizessem por merecer. Manezinho e Zózimo partiram para seu acampamento. Sabiam que agora a curva do Demônio acabou.


                  Dizem que nunca mais a Curva do Demônio foi o inferno de Simão o Caolho. Ela ficou conhecida como a curva do Menino Jesus. Do alto da montanha viram o campo da patrulha. Iluminado, lá embaixo os patrulheiros em volta do fogo declamavam: -. Noite de Paz... Foi nesta noite que um menino que de luz vem trazendo a esperança desejada, mas nem sempre é por nós reconhecido!

Nota de rodapé: - “Se alguém te ama, ame-o... É difícil entregar-se? Mas quem disse que é fácil ser feliz? Nem tudo é fácil na vida... Mas, com certeza, nada é impossível”... Uma história simples, dois amigos escoteiros que levaram a palavra de Jesus a quem precisava parar de sofrer. Simão o Caolho? Ele teve enfim a paz que precisava ter! 

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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