domingo, 5 de novembro de 2017

Conversa ao pé do fogo. Um sonho de liberdade.


Conversa ao pé do fogo.
Um sonho de liberdade.

        Jacob desde pequeno sonhava em ser Escoteiro. Sua cidade Ramallah na Palestina nunca teve um Grupo Escoteiro. Eles viviam em sobressalto devido às divergências entre países e Jacob não entendia o porquê eles não davam as mãos e viver em paz e como irmãos. Jacob nasceu em Flores da Cunha uma pequena cidade no interior de Pernambuco. Um dia seu pai juntou a família e partiu para a Palestina. Disse que lá era seu lugar. Seus avós lutaram até a morte para serem livres. – Livres? E quem é livre? Pensava Jacob. Ele mesmo tinha lido em um livro que a verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão. Jacob nos seus onze anos era um sonhador. Nunca imaginou viver em uma cidade onde o medo de morrer era uma constante. Medo? Mas qual palestino tinha medo? Eles sempre não diziam que dariam sua vida pela liberdade de sua terra?

      No inicio a curiosidade e o modo de vida chamou a atenção de Jacob. Viu sua mãe e sua irmã Natividad mudarem completamente. Agora viviam fechadas dentro de casa e quando saiam colocavam véus para ninguém poder reconhecê-las. Alguns meses depois se acostumou. A rapaziada andava com um fuzil no ombro e gritando palavras de morte ao usurpador. Jacob não entendia nada. Lembrava-se de sua terra onde nasceu, uma cidade cheia de paz e harmonia. Lembrava-se das histórias que seu pai contava e como ele ria quando viajava nos seus pensamentos vivendo as aventuras escoteiras de seu pai. Ele tinha sido Escoteiro. Contou que fora Monitor de patrulha, fizeram centenas de acampamentos, beberam água da fonte, nadaram contra a correnteza para pegar peixes grandes com a mão na época da piracema. Jacob com seus olhinhos miúdos ouvia com atenção historias contadas pelo seu pai.

      No seu pensamento ele sonhava quando chegasse a Ramallah ser um Escoteiro. Ele aprendeu com seu pai a lei e a promessa. Um dia seu pai lhe mostrou o uniforme e Jacob pediu humildemente ao seu pai para vesti-lo. Foi autorizado, mas só dentro de casa. Nunca na rua ou nos montes próximos. Ele tentava entender esta guerra sem fim. – Filho esta terra é nossa. A Terra Prometida sempre fora dos nossos antepassados. Havia mais de cinco milhões de judeus vivendo lá, e a chamavam a terra de Israel. Havia outros árabes que também se julgavam donos da terra, que chamavam Palestina. Seu pai sorria e completava: - Lutamos por nossa liberdade! – Temos direitos de reivindicar o que é nosso. Não se alcança quando nosso estado de consciência não luta pelos seus direitos. Um bom Palestino deve ser imune aos sofrimentos, do orgulho, do ciúme e da vaidade. 

         - Eleazar tinha dezenove anos. Ele era um soldado Israelense. Morava em um kibutz de nome Kfar Aza próximo a Faixa de Gaza. Eleazar era brasileiro. Nasceu em Terra Nova uma cidade ao norte da capital do estado do Paraná. Tinha uma vida tranquila e feliz. Pudera, Eleazar era sênior e sem ninguém saber amava Angelina. Angelina era Guia e todos queriam ser seu príncipe encantado. Eleazar tinha conquistado o Lis de Ouro e partia agora para o Escoteiro da Pátria. Eleazar sonhava em casar com Angelina e ter sua casinha pintada de branco com muitas flores. Teriam muitos filhos também. Sonhos de menino homem que ainda não tinha abandonado a puberdade. Um dia estava com ela de mãos dadas. Levou uma pancada nas costas. Era o senhor Mujahid o Pai dela. Um homem mau. Soube que foram embora da cidade. Voltaram a sua terra na Palestina.

       Quando Eleazar fez dezoito anos procurou o Consulado de Israel. Queria ir para lá e garantiu que seria um bom soldado. Sempre foi um Escoteiro. Conhecia as técnicas de travessias, da camuflagem, de campismo e sempre fora obediente e disciplinado. Dois meses depois Eleazar foi embora para Israel. Sua mãe nunca aceitou e seu pai calado não disse nada. Eleazar sonhava em encontrar Angelina. Iria atrás dela onde quer que fosse. Seu amor era grande demais para esquecer. Iria dizer ao senhor Mujahid que não tinha ódio. Ele era um Escoteiro, puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações. Seis meses depois nenhuma noticia de Angelina. Ele ia disfarçado de cidade em cidade na Palestina e nada. No Kibutz era bem considerado e todos o achavam um bom soldado.

       Um dia Eleazar vestiu seu uniforme Escoteiro. Gostava de vestir. Sentia-se bem com ele e sempre ia para os montes próximos e lá recordava de sua juventude, de seus sonhos do seu amor que se foi como o vento para nunca mais voltar. Ele gostava de deitar em baixo de uma Oliveira e ver as estrelas brilhando no céu. Seu instinto lhe mostrou que alguém se aproximava. Olhou com atenção. Era um menino de uniforme escoteiro. Assustou, pois ali não havia Grupos de Escoteiros. Ele não sabia que era Jacob, o filho de um palestino que desobedecendo às ordens do pai subiu na montanha com uma pequena bandeira do Brasil que ele achou nas coisas do pai. Cada um viu o outro por um prisma. Um achando que encontrou um irmão Escoteiro e outro desconfiado do adulto uniformizado com um fuzil engatilhado.

           Aharon era um bom piloto.  Serviu na Força Aérea Brasileira por muitos anos. Deixou Guaratinguetá e foi para São José dos Campos como piloto de testes dos novos caças encomendados pela FAB. Gostava do que fazia e muito mais do Grupo Escoteiro Flores Vermelhas onde ajudava na Alcateia. Um dia um Major da força Aérea da Palestina disse que precisavam de bons pilotos para treinar a nova esquadrilha de caças que compraram. Seria por cinco anos e o salário era muito bom. Não titubeou e partiu. Sentia muitas saudades de sua terra e de seu grupo Escoteiro. Em uma inspeção de rotina na fronteira ele estava em um Super Tucano EMB-314 da Embraer ele avistou o impossível. Dois Escoteiros se abraçando no Monte Ararat. Quem seria? Um era um Escoteiro e o outro devia ser um Chefe. Fez um voo rasante para dar as boas vindas e dar o seu sempre alerta. Uma bateria de mísseis israelenses viu a aproximação do Tucano em baixa altitude e abriu fogo.


             O Super Tucano explodiu e atingiu os dois Escoteiros que se confraternizavam naquele monte onde Noé aportou sua Arca. A história termina aqui. Sonhos escoteiros que nunca se realizaram. No céu uma nuvem azul e branca levou três Escoteiros cujos destinos já estavam programados para ficarem juntos pela eternidade. Um dia quem sabe teremos liberdade suficiente para podermos decidir nosso destino conforme nossos sonhos. Todos ansiamos desde muito cedo na vida por mais liberdade. A liberdade é, para nós, essencialmente relacionada à realização de nossos desejos. Queremos fazer tudo, experimentar tudo, sem sermos tolhidos em nossos anseios de descoberta do mundo por quem quer que seja. - Escotismo, um sonho de liberdade!

Nota de rodapé: - Três escoteiros unidos pelo mesmo ideal. Um fim trágico, mas programado no livro da vida no céu. Um era menino, outro um soldado brasileiro em Israel e outro Escoteiro e Piloto de caça na Palestina. A realidade costuma pregar peças em contos sem mistério e sem final feliz. São meus convidados, um Sonho de Liberdade ainda poderá ser real quando o escotismo colocar a paz e amor no coração de todo ser humano. Sempre Alerta!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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