Lendas
Escoteiras.
As
seis badaladas da Ave Maria.
Padre Tomazo tinha pouco mais que vinte e
seis anos. Desde pequeno que sonhava em ser um religioso. Contava a todos que foi
a Virgem Maria quem um dia lhe apareceu em sonhos sorrindo e dizendo para ele
ser um homem de Deus. Seu pai um incrédulo não levou a sério os desejos do
menino. Sua mãe agradecia a Deus pela graça. Entrou para o seminário contra a
vontade de seu pai, mas com as graças da sua mãe. Era sua vocação, acreditava.
Devoto de São Francisco de Assis tinha por ele seu modelo de vida e seguidor do
evangelho de Jesus.
No seminário era admirado e diziam que ele
seria em breve um bispo e um cardeal. Don Carmelo o arcebispo da cidade quando
ele se formou o pós a prova. O mandou para a cidade de Cataclisma. Ele sorriu,
já tinha ouvido falar de lá. Terra de criminosos e ladrões. Quando chegou a
cidade e subiu as escadarias da igreja parou no primeiro degrau. Via na porta a
figura de Satanás. Ajoelhou rezou para a Virgem Maria e entro em sua igreja.
Vazia. Ninguém a esperá-lo.
Dois
anos depois havia dois mundos em Cataclisma, um formado por bandidos e ladrões,
outro pelos novos catequistas formados pelo Padre Tomazo. Sentia-se uma mudança
profunda nos rumos da cidade. O comércio aumentou e até mesmo turistas voltaram
a visitar para ver o que o Padre estava realizando. Belzebu um maldito ladrão
de estradas jurou o Padre Tomazo de morte. Seus comparsas tentaram dissuadi-lo,
mas não houve jeito. O Padre Tomazo sorria com sua nova criação. Um Grupo
Escoteiro em Cataclisma. Ele pouco entendia e contava com a colaboração de Nilo
Ventania que fora Escoteiro nos tempos idos.
A vida da cidade mudou muito com a chegada dos
escoteiros. A bandidada se sentia ameaçada e o Padre Tomazo orava por eles.
Acreditava que todos eram filhos de Deus. O primeiro acampamento do Grupo
Escoteiro São Francisco foi um sucesso. Padre Tomazo tirou uns dias de férias e
ficou com eles durante todo o tempo que lá permaneceram. Bebeu á agua da fonte
da filosofia escoteira e sabia que nunca mais deixaria de ser um ativista
Escoteiro.
Na igreja muitas das ordens que o
Padre organizou começaram a se sentir enciumados. Ele matinha seu otimismo e
desdobrava para estar presente. Eles, entretanto queriam mais. Reclamaram com o
Bispo Dom Carmelo. O próprio foi à cidade de Cataclisma para verificar o que
acontecia. Não gostou dos escoteiros. Achava que a meninada era promiscua, pois
junto estavam dezenas de meninas que se vestiam iguais a eles. Para desespero
de todos o Bispo ordenou ao Padre Tomazo que acabasse com o Grupo Escoteiro. Queria
vê-los fora de sua Igreja.
O
que fazer? - Ajoelhava-se no altar e de olhos fechados cantava baixinho o Te
Deum, exaltando a Deus. Pedia uma graça, um milagre para que o Bispo visse como
ele via aquela filosofia de uma organização sem igual. Cada badalada da Ave
Maria era uma prece, um pedido, quem sabe Deus na sua infinita sabedoria
poderia ajudar a dar a benção escoteira para o coração do Bispo? Sua prece foi
atendida.
Naquele
dia o bispo voltava para sua cidade e uma chuva torrencial caiu na estrada. O
carro do bispo um Velho Ford atolou na lama e nem ia para frente e nem prá
trás. O Bispo não sabia o que fazer. Tinha reunião, tinha missa tinha de
atender o cardeal que ia chegar. Eis que um olhar astuto, bonachão de um jovem
disse para ele de supetão: - Deixa com “nois” Padre, marque no seu tic tac 20
minutos e vai voar que nem avião.
O
Bispo espantado viu que eram seis escoteiros sendo duas mocinhas. Mochilas as
costas, chuva no costado e eles nem aí, cortaram paus, escoraram pedras e logo
o fordinho do Bispo de pôs a andar. Ele olhou os escoteiros, saiu do carro e
pisou no barro sujando a batina, mas fazendo questão de abraçar e agradecer a
cada um. Foi à conta. O mosquito filosófico Escoteiro penetrou em seu coração.
– Vai carona? Perguntou. “Gracias” padre. “Temos um caminho a percorrer, afinal
nosso herói deixou para nós uma frase que ninguém esquece: - O Escoteiro
caminha com suas próprias pernas”.
O
Bispo adorou os meninos. Se o escotismo era assim ele teria que apoiar. Passou
um telegrama para o Padre Tomazo. – “Mande bala, escoteiros aprovados. Conte cm
minha benção”. – Bom demais para ser verdade pensou o Padre Tomazo. Tem flores
espalhadas neste caminho. Os espinhos ficaram para trás. No sábado pela manhã, Belzebu
entrou com sua quadrilha de bandidos na cidade. – Digam ao Padre se ele
aparecer na minha frente lhe meto um balaço na cabeça. Na igreja Padre Tomazo
pensava em seu mestre: - Vamos confiar mais em Deus e obedecer às Suas
magnânimas leis.
Se
trabalharmos em favor do Bem, pensava esse Bem virá ao nosso encontro, esta é a
lei. Dito e feito. Um raio caiu na porta do banco. Belzebu ficou branco. Quase
rachou no meio. Montou em sua égua Sibiana e partiu correndo de Cataclisma.
Nunca mais voltou. Quando no final de novembro Padre Tomazo uniformizado
esbelto com seu chapelão e fez sua promessa à cidade inteira estava lá. Disse
pensando em Deus: Senhor fazei de mim um instrumento de vossa paz. Eu prometo
senhor fazer o melhor possível... E Padre Tomazo foi promessado. Os escoteiros
voltaram a sorrir.
Para
pregar a Paz, primeiro você deve ter a Paz dentro de você.
E
de novo Cataclisma ouviu as seis badaladas da Ave Maria!
Nota – “Ninguém é
suficientemente perfeito, que não possa aprender com o outro e, ninguém é
totalmente instruído de valores que não possa ensinar algo ao seu irmão”.
Palavras de São Francisco que nós escoteiros devemos trazer no coração. Bem
vindo à história de Cataclisma, ela não era tão ruim como parecia. Sempre
Alerta!
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