Lendas escoteiras.
O Escoteiro Mulçumano.
Abba Fayard nasceu em Zareh Sharan
uma pequena cidade do Afeganistão. Recitava a Shahada, pois ensinaram a ele que
não há outro Deus que não Alá e Maomé. Fazia as preces de manhã antes de ir
para a escola e as preces do meio dia. Ao retornar ao anoitecer as preces da
noite. Ia com sua família a mesquita toda sexta. Fazia as preces em língua
árabe, sobre um tapete e voltado para a Meca.
Seu pai e seu tio o ensinaram a
dar uma esmola legal. Eles sempre lhe davam uma moeda. Sua família fazia
frequentemente doações para favorecer o Islã, construir mesquitas, escolas
corânicas e beneficentes. O Ramadã, o jejum anual era cumprido à risca. Seu pai
exigente não perdoava. Sempre sonhou em fazer uma peregrinação a Meca e por ser
pequeno seu pai dizia que só quando crescesse.
Aprendeu que ser muçulmano é acreditar num só
Deus, incomparável, invisível, indivisível, poderoso, criador de tudo e de
todos, não tem filho nem pai, não tem parceiro no seu reino. Ele acreditava
piamente em tudo. Quando foram a Mesquita no sábado, ele foi ao banheiro do
lado de fora. Quando saiu a Mesquita explodiu e morreram todos os presentes.
Abba Fayard chorou a perda dos pais por anos.
Um amigo do seu pai contou que ele
tinha um tio morando no Brasil. Passaram um telegrama e seu tio veio buscá-lo.
Morava em Morro Vermelho uma pequena cidade no interior de São Paulo. Tudo era
estranho para ele. A língua portuguesa era difícil e demorou anos para
aprender. Não fez amigos, pois se achava um forasteiro entre eles. Não
reclamava de sua nova família. Seu tio era um homem bom e sua tia também.
Só no ano seguinte começou a
frequentar a escola. Quase não acompanhava. Com seus doze anos não tinha
amigos. Quase não iam a Mesquita. Seu tio era diferente do seu pai, mas se achava
um bom mulçumano e seguia a risca sua religião. Um dia seu tio o levou a um
desfile na cidade. Disse que era a data magna do país. O Sete de Setembro. Ele adorou
os meninos e meninas uniformizados de caqui e com um chapelão lindo. Não tirou
os olhos deles. Pediu ao tio para ir com eles marchando. Seu tio riu e balançou
a cabeça dizendo sim. – Não demore, eles são escoteiros.
Descobriu onde se reuniam e o que faziam.
Voltou outros sábados. Um dos escoteiros o convidou: - Quer ser Escoteiro? Abba
Fayard ficou vermelho porque nunca ninguém dirigiu a palavra a ele. Claro que
queria, mas sendo muçulmano ele não sabia se iriam aceitá-lo e se o seu tio ia
deixar. Dias depois contou para seu tio. Esperou a hora e o momento certo para
comentar. Ficou feliz quando seu tio disse: - Porque não? Iremos no sábado conversar
com o Chefe. Explicou ao Chefe que eram muçulmanos, tinham normas, horários e
dias certos para cumprirem suas obrigações com Alá. O Chefe concordou, mas
deveria antes conversar com os demais chefes.
Telefonaram para ele dizendo que foi
aceito. Abba Fayard ficou feliz. Seu tio foi junto para os transmites legais. Não
se esqueceu de dizer para ele seus horários e a prece às dezoito horas. – Em língua
árabe, ajoelhado e voltado para a Meca. Neste horário. As seis Abba pediu permissão
ao Monitor. A Patrulha parou para ver. Ele com uma bussola viu em qual direção
estava a Meca. Ajoelhou e começou a rezar. A Tropa surpresa. O Chefe chamou a
todos e explicou que Abba Fayard era muçulmano e sua religião tinha rituais que
nenhum deles poderia deixar sem fazer.
No sábado seguinte a patrulha
procurou Abba Fayard e pediu se podia rezar com ele. Ele só pediu que levassem a
sério, pois esse ato não era uma brincadeira.
– Um bom muçulmano acredita em todos os Profetas de Deus, desde Adão até
Muhammad incluindo Jesus. Acredita nas escrituras de Deus, nos seus anjos e que
haveria um juízo final para prestar contas das ações praticadas.
Na primeira vez foram oito escoteiros.
Na segunda quase toda a tropa. As preces eram simples e não levavam mais que dez
minutos. O Chefe da Tropa não se preocupou. Acreditava que seria bom todos
conhecerem outra religião. A participação tomou vulto quando os lobinhos
quiseram participar. O Pároco ficou sabendo. Foi lá e se horrorizou com o que
viu. Chamou o presidente e o Diretor e proibiu. Nas missas contou o que viu e
disse para aqueles pais dos escoteiros que eles não deviam participar.
O tio de Abba Fayard o aconselhou
a sair. A cidade inteira não entendia o que era ser muçulmano A maioria era católica.
Abba Fayard se sentiu fora do ninho. Chorou por muitos dias. Amava o escotismo,
não queria abandonar seus amigos, mas ele amava sua religião. No sábado avisou
o Chefe que não voltaria mais. A patrulha ficou revoltada. Um absurdo disseram.
Discutiram em Corte de Honra e no Conselho de Chefes. A maioria a favor de Abba
Fayard, mas se sentiram sem ação. O Diretor Técnico convocou extraordinariamente
uma Assembleia do Grupo. Dos oitenta e seis votantes setenta foram a favor da
sua permanência.
Uma comissão foi conversar com o
padre e ele irredutível. Procuraram o Bispo e ele disse que era problema do
padre. Em um domingo o Grupo Escoteiro quase completo saiu em passeata pelas
ruas da cidade. Cartazes com dizeres explicavam. – Abba Fayard tem direitos
dizia um – Abba Fayard é muçulmano e nosso irmão. A maioria dos católicos
ficaram contra o pároco.
O assunto foi parar nos jornais.
O Bispo preocupado Voltou atrás. Agora dizia que os muçulmanos eram bem vindos.
Num ato que ninguém esperava foi à mesquita rezar com eles. O Padre mudou. Abba
Fayard voltou ao grupo. Recebido com abraços por todos. O Prefeito querendo
mostrar caridade dou um local para a futura sede. Ninguém amigo de Abba Fayard
mudou de religião. Quem era católico continuou católico. Quem era evangélico
continuou evangélico.
Um menino, uma patrulha, uma
tropa e um Grupo Escoteiro mostrou que existe lugar para todos no escotismo. O
final da história? Realmente não sei. Não me contaram mais nada, mas será que existe
algum mais para contar? Eles sabiam que o escoteiro é amigo de todos e irmão
dos demais escoteiros. Uma lição de vida.
Nota – Uma pequena história.
Verdadeira? Cada um pode analisar sim ou não. Será que você leitor escoteiro
daria seu aval? Afinal somos ou não somos do mesmo sangue da mesma raça que
Baden-Powell nos deixou como herança? Somos ou não somos amigos de todos e
irmãos dos demais escoteiros? Você pode a palavra final.
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