Lendas Escoteiras.
Um Escoteiro tem uma só palavra...
Lito Galante olhou para sua
mãe. – Mãe, antes de o seu dia terminar eu estou de volta. Mercedes olhou para
ele pensativa. – Filho não falte, acho que será meu último dia das mães! Lito
Galante com sua pose de chefão resmungou: - Mãe não fale assim, vai viver
muitos e muitos anos. Mãe eu sou escoteiro, e o escoteiro tem uma só palavra! –
Lito havia combinado com Tadeu e Morato para uma jornada até o pico do Gavião.
Uma pedra em frente a sua cidade que encantava a todos. Muitos que gostavam de
Voo Livre eram frequentes. Grandes campeonatos ali se realizavam.
Lito Galante era um apaixonado
pelo esporte. Fora do Escotismo que praticava desde criança e agora adulto e
atuando como Chefe, ele amava esse esporte radical que utiliza as térmicas
(atividades térmica e do vento na camada limite atmosférica) para realizar seus
voos. Eles iriam de carro, pois uma estrada serpenteando a montanha os levava
até próximo ao cume. Tadeu também iria pular e Morato ficou encarregado de ir
busca-los em seu destino, uma cidade próxima há quarenta e seis quilômetros de
distancia.
Eles faziam isso a cada trinta
dias. Lito tinha bons monitores e as patrulhas antigas tinham condições de
realizarem suas tarefas independentes da chefia. No sábado anterior repassou
com eles em Corte de Honra tudo que seria feito. A Patrulha Águia já havia programado um
acampamento no Horto Florestal. João Colosso o administrador fora escoteiro e
nunca negou acampamento, pois sabia que os escoteiros fazem questão da
segurança e a preservação ambiente.
A Pica Pau e Morcego iam pela
manhã de sábado fazer um adestramento de medidas de distância altura e iriam montar
um croqui até Serra Queimada onde muitos escoteiros se perderam. Só a Quati
ficaria na sede. Eram a Patrulha de serviço do mês e queriam mudar o estilo das
mesas armários e o almoxarifado. Sempre atrás dos pontos que poderiam fazer
deles uma Patrulha padrão. Lito Galante orgulhava dos seus escoteiros. Tinha
plena confiança e nunca foi decepcionado. Partiu tranquilamente para o Monte do
Gavião.
Abraçou sua mãe chorosa e sem
perceber quase cancelou a ida deles. Sentia uma intuição estranha. Até o pico
tudo normal. Tadeu pulou, ele despediu de Morato e saltou. Ele amava aquilo. O
vento, a altura, a beleza da terra aos seus pés era demais. Sentiu que sua asa
delta fora danificada. Algum pássaro que não teve como desviar. Um vento forte
subindo o rio o pegou de jeito. O elevou nas alturas e só quatro horas depois
ele tentou um pouso forçado.
Lito Galante não sabia onde
estava. O pouso não foi perfeito. Ele viu que seu joelho havia se quebrado.
Improvisou uma tala com madeira seca e seu lenço. Doía demais. Meio dia. O sol
a pino. Ele em uma ravina de difícil acesso. Dificilmente Morato iria conseguir
encontrá-lo. Pensou na sua vida, pensou na promessa que fez sua mãe. No ano
anterior foi acampar e não ficou junto dela no seu dia. Ela chorou quando ele
chegou de madrugada. Ele chorou também.
Era sábado, quem sabe seria
achado antes do escurecer. Duas honras da tarde, três, quatro cinco e o sol se
pôs atrás de uma montanha desconhecida. Lito Galante sempre foi escoteiro.
Deveria estar preparado para este tipo de acidente. Não estava. Nunca acreditou
que o pior aconteceria com ele. Escureceu. Enrolou-se no tecido da asa delta
que de tão bem colocada foi difícil de cortar. Um frio enorme. Sem isqueiro sem
fósforos andar um sacrifício. Achou que ia morrer.
Não dormiu. Insetos que ele
achava conhecer o incomodavam. Ruídos no capim ruídos que ele não conhecia e um
rugido que o fez tremer. Afinal ele pensou escoteiros não deviam estar
preparados? Ele não estava. O sol apareceu no horizonte. Viu que eram seis da
manhã. Um ruído de um helicóptero o pôs alerta. Fez sinal pousaram perto.
Homens da equipe de salvamento o levaram até o hospital da cidade. Medicado
enfaixado e entalado (risos) recebeu alta.
Na porta de sua casa uma
multidão e sua tropa escoteira. Tinha amigos muitos. Carregaram-no até a sala
onde sua mãe o esperava. Olho no relógio, onde da noite. Levantou pulando em um
só pé foi até ela. Abraçou, beijou, com lágrimas escorrendo pediu perdão. Nunca
mais mãe, nunca mais. Palavra de Escoteiro. Sua mãe sorriu. Palavra é fácil de
dizer, mas nem sempre serão cumpridas. Pode haver um pormenor e com ele
aconteceu.
Quando foi dormir fez uma
prece agradecendo a Deus por tudo que aconteceu. Uma lição. A vida nos reserva
surpresa. Como dizia o Chefe Monfaz, nunca prometa nada, diga sempre que vai
fazer o melhor possível e procure fazer, mas não prometa! Afinal prometer é
ponto de honra dos escoteiros. Deixar de cumprir é faltar com a palavra e nós
nunca devemos faltar.
Nota
- A Lei
escoteira é um código de conduta, assumido ao se realizar a Promessa escoteira, onde se retêm as principais características do movimento escoteiro. Um escoteiro é verdadeiro. Um escoteiro é
leal. Um escoteiro é útil. Um escoteiro é amigável. Um escoteiro é alegre. Um
escoteiro é atencioso. Um escoteiro é econômico. Um escoteiro é corajoso. Um
escoteiro é respeitador. Um escoteiro é limpo de corpo e alma. E você? Tem
feito o melhor possível para ser um escoteiro?
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