Onde anda você meu amor?
Faz tempo. Muito tempo. Hoje eu me lembrei dela. Quase cinco anos que a vi.
Juro que nunca a esqueci. Esteve sempre presente em minha mente e sempre
abraçada ao meu corpo. Não a busquei mais. Deixei-a por aí sem saber onde foi.
Afinal enquanto o tempo passa, vamos lutando com a vida conforme ela é e outras
lutas vão aparecendo em nossas vidas. Mas não dá para fugir da saudade.
Mesmo quando a noite chega, quando uma garoa fria cai no asfalto são as horas
que as tristezas resolviam aparecer.
São
tantas coisas arvoradas no pensamento que não separamos as prioridades. Sempre
foi assim. Mas ela não poderia ter ficando escondida num cantinho do meu
cérebro. Não podia. Era demais para mim. Machucava. Doía. Acho que errei. Quem
não soubesse do meu passado poderia me culpar. Se assim for, que o céu me
condene!
Culpa? Será que tenho? Afinal não estivemos sempre juntos por anos e anos? Não há
tratei condignamente? Ela não foi minha companheira inseparável? Quem sabe a
responsabilidade não é só minha pelo seu desaparecimento. Mas se for eu mereço
ser castigado. Quanta saudade... Não sei se mereço isto. Não a culpo, ela é o
que é. Não dá para mostrar outros erros se a gente não observa os seus. E o meu
erro não tem perdão. Deixei-a ao Deus dará! As consequências são minhas. Não
posso fugir. Tenho que encontra-la novamente.
Documentos, boné, sandálias e sai perguntando primeiro ao vento: - Onde ela foi
meu amigo vento? O vento me olhou com cara de mau e me desprezando não me deu
resposta. Parei e sentei na minha varanda e o orvalho começou a cair: –
Orvalho! Por favor, você sabe onde ela está? O orvalho sorriu e não disse nada.
Ele sempre foi assim, nos presenteia com sua gota ínfima na face e não se
incomoda se após vai cair ao chão.
Um
vagalume passou piscando e nem me deu bola. Sinal que não ia me dizer nada. Duas
borboletas douradas passearam nas flores da minha varanda, sorriram para mim e foram
embora. Que noite cruel. Fiquei pensando porque ela me abandonou e ninguém me
dizia nada. Vontade de chorar. A cigarra matreira pousou em uma planta e cantou
uma canção de amor. Ao terminar disse-me para não me preocupar. Não chore.
Aceite. Ela está com seu novo amor!
Celia minha esposa querida, só ela para me ajudar. Chamei-a e ela prestativa e
prestimosa, vendo meu desespero e sem me avisar saiu à procura daquela a quem
amava. Doce Celia. Sabia do meu amor por ela. Sua busca foi frutífera.
Finalmente a encontrou. Escondida no fundo do baú. Minha linda e adorada capa
negra que eu amava. Aquela que me deu calor nos acampamentos, nas lides nas
montanhas que escalei. Nos frios gelados das noites de inverno. Aquela que me
cobriu de nuances que nunca revelei para ninguém.
Quanto
tempo juntos! Peguei-a no colo. Beijei-a de leve e a abracei com carinho.
Lágrimas de alegria surgiram nos meus olhos. E naquela friagem de um entardecer
bolorento nem liguei para o vento que resolveu soprar forte para o norte. Joguei-a
aos ombros. Agora sim. Vivia a verdadeira felicidade. Enfim a busca terminou.
Não havia mais passado. Só o presente. Os dois amantes estavam unidos de novo e
agora para sempre!
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