Lendas
escoteiras.
O
Cisne Negro da asa partida.
Uma
história de lobinhos.
Beth Blue era uma amiga
especial. Vez ou outra batia na minha porta sem avisar. Conversávamos até altas
horas da noite. Eu a conheci como formadora sempre dedicando a sua alcateia e aqueles
que queriam aprender mais. Era Akelá em um grupo humilde, próximo ao Sítio
Santo Antônio. Na ultima vez que me visitou contou-me uma história que se não
fosse por ela não iria dar crédito. Prendia a todos nós com seus gestos, seu
timbre de voz que mudava de acordo com o desenrolar da história. Ela me
garantiu que era uma história verdadeira. Como duvidar de Beth Blue?
- Chefe, foi no ano passado. Um acantonamento
no sítio Caminho Azul de um pai de Lobo. Lindo, um lago artificial, um bosque
gramado, um campinho de futebol e um riacho pequeno de águas cristalinas. Os
lobinhos adoraram. A alcateia estava quase completa, metade lobos e metade lobas.
A maioria antiga e alguns prontos para o Cruzeiro do Sul. A casa tinha dois
quartos que não usamos, pois levamos barracas. Tempo firme sem previsão de
chuva os lobos adoraram. Chegamos cedo. Por volta de nove da manhã. Duas mães
estavam conosco para ajudar nas atividades e refeições. Eu estava com mais três
assistentes. Um Balú, uma Kaá e a Bagheera.
No segundo dia após o almoço
fomos fazer um jogo calmo para o horário. Seria composto de três bases. A
primeira base o Assistente escondia em cima de uma árvore um relógio que devia
ser visto de um só ângulo. Outra um Assistente com duas sacolas e a cada cinco
segundos tirava um objeto, o jogava para cima e a outra guardava na segunda
sacola. Seriam vinte objetos. A terceira um sisal amarrado entre duas árvores a
uma altura de três metros aproximadamente e quatro petecas.
Cada base uma Matilha
e vinte minutos de tempo. Na primeira base não bastava ver o relógio, tinham
quer ver o horário que só poderiam ver de um ponto. Não deviam dizer nada,
escrever a hora e voltar para o ponto de reunião esperando a segunda base. Na
segunda deviam observar por um minuto os objetos que eram jogados ao ar,
memorizar e ao termino anotar em uma caderneta. A terceira base cada um recebia
uma peteca e com uma palmada atravessar por cima do sisal. Se o lobo do outro
lado conseguisse devolver com outra palmada valia o dobro. A peteca se caísse ao
chão à prova teria de ser refeita. Todos deveriam participar.
Tudo corria tranquilamente,
os lobos se divertindo e o tempo passando. Se tudo corresse bem daria mais tempo
para o banho no riacho. Um remanso raso sem perigos. Foi então que Letícia, uma
lobinha de oito anos veio correndo avisar que viu um lindo Cisne Negro.
Interessante. Não sabia que ali existiam esses pássaros. Fui ver com ela. Era
enorme. Se abrisse as asas deveria ter quase um metro de envergadura. O cisne
tinha os olhos fixos para uma árvore. Não se importava conosco. Nem nos olhava.
Os lobos pararam o que faziam e vieram ver o Cisne Negro. O Balu tentou
descobrir o que havia na árvore. Era um ninho. Com dois filhotes. Deviam ser
filhos dela. Vi então que uma de suas asas estava caída. Ela não podia voar.
Para desespero do pássaro,
quando o Balu subiu na árvore e confirmou ela ficou desesperada. Eu não era e
nunca foi uma ornitóloga, mas gostava de ler sobre o tema. Desertei rapidamente
aos lobos enquanto o Balu procurava minhocas ou bichinhos no riacho para dar
aos filhotes. A Cisne só olhava para seus filhotes. – Continuei com minha
história. - Sabem lobinhos, Os Cisnes gostam de lagos, brejos e outras áreas de
água doce ou salgada. Vivem em bandos. Alimentam-se de plantas aquáticas. Parei
de contar. Norminha se aproximou do cisne. Passou a mão em sua cabeça. Ouvimos
um cantar diferente. Não identifiquei. Parecia que o Cisne chorava. Toda a
Alcatéia começou a chorar.
Levei
os lobos para a Casa Grande. Não sabia o que acontecia. Foi então que o Cisne
Negro começou a gralhara. Só a noite parou. No dia seguinte ainda estava lá em
pé olhando para a árvore. O Balu alimentava os filhotes duas vezes ao dia. No
dia do retorno, os lobos levantaram cedo. Correram até devia estar o cisne. Não
estava mais lá. Como? E a asa partida? E os filhotes? O Balu subiu na árvore e
encontrou o ninho vazio. O cisne e os filhotes haviam partido. A lobada começou
a chorar. Tentei mostrar que foi bom, que a mãe e os filhotes agora podiam voar
e foram para uma nova morada. Sabia que quando aproximava o inverno eles em
bandos descolocavam para regiões de clima mais ameno. Mas não adiantou. Os
lobos com olhos vermelhos chorando por não verem mais o Cisne Negro da Asa
partida.
Às quatro da tarde, já com a
tralha pronta, fomos para o cerimonia de bandeira. Os lobinhos formados em
círculo e em posição para o Grande Uivo. Quando eu ia fazer o sinal ouvimos um
barulho de asas. Olhamos para cima, centenas de cisnes negros voando em direção
ao infinito. Três deles desceram até nós, um grande e dois pequenos. Eram eles!
Voaram sobre nossas cabeças por alguns segundos e partiram. Todos calados. Um
grito explodiu na alcatéia. Uma alegria imensa. Todos gritaram alto – Bravô! Os
lobos sabiam que era o Cisne Negro e seus filhotes que vieram se despedir. Chefe,
essa história é contada até hoje na sede!
Beth Blue se calou. Olhei
para ela, Célia também. E? - Fim Chefe. Acabou e sorriu. Mudamos de assunto à
noite chegou. Um cafezinho e Beth Blue partiu. Fiquei ainda por longo tempo na
varanda. Seria uma história com ou sem H? Seria verdade? Sei não. E como se diz
por aí das histórias escoteiras contadas: - Feijão não é vaca, boi não é arroz.
E quem quiser que conte dois!
Nota – Uma história que alguns não vão
acreditar e outros quem sabe... Beth Blue não vejo há tempos. Pudera, nem
telefonar telefonei. Mas espero que tenham gostado da história. Simples, enredo
comum, mas se tivesse sido verdade seria maravilhoso! Meus convidados para ler
e se gostarem contarem ao seus lobinhos. Melhor Possível!
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