terça-feira, 29 de maio de 2018

Um poema de boa noite... Nada mais...



Um poema de boa noite... Nada mais...

Despedida de Vital.

Lua cheia... Na choça a que se apega,
Morre Vital, velhinho, olhando o morro...
Por prece, escuta a arenga do cachorro,
Ganindo nas touceiras da macega.

Pobre amigo!... Agoniza sem socorro,
Chora lembrando o milho na moega...
Oitenta anos de lágrimas carrega
Na carcaça jogada ao chão sem forro.

Suando, enxerga um moço na soleira,
- “Eu sou leproso...” – avisa em voz rasteira,
mas diz o moço, envolto em luz dourada:

- “Vital, eu sou Jesus! Venha comigo!...”
E o velho sai das chagas de mendigo
Para um carro de estrelas da alvorada.
(Cornélio Pires).

- Daqui a pouco vou repousar. Saudades de uma barraca, saudades de uma sopa do meu cozinheiro Fumanchu. Saudades do Rael Pescador, saudades do Tãozinho, do Chico e Rildo. Saudades do Luizinho com seu violão, saudades da fogueira, de uma lua cheia saudades de ouvir histórias. Saudades de um café na brasa, saudades de canções saudades do zumbido da cigarra que a noite procurava à namorada. Saudades da minha gaita de fole que tão mal eu tocava.

- Melhor dizer até logo, até quarta até quinta ou até no ano que vem. Ele decide até quando, pois eu e você sabemos que na vida tudo passa, eu passei nas sombras do passado com imensa vontade de ficar. Durmam com Deus!
Boa noite.

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