Contos ao redor do fogo.
A Medalha de valor!
Valencio
sorria, precisava. Há dias que uma tremenda escuridão se interpôs entre ele e o
mundo que vivia. Cego? Não, havia uma réstia de luz para onde olhava. Agora
estava ali, no lugar certo, no lugar de onde nunca devia ter saído. Era o
Monitor da Leão e sempre honrou seu cargo. Quando o Chefe Javé o promoveu ele
jurou cumprir sua missão custasse o que custasse. Viu todo o grupo escoteiro
formado no pateo. Tinha outras patentes presentes. Lembrou-se de Montserrat o
Comissário do Distrito, até Nonato seu antigo Chefe formado com todos e em sua
volta uma luz brilhante. Mas ele já não tinha partido para se juntar com Deus?
Tremeu
quando cantaram o Hino Nacional. Sempre foi um patriota. Cantava com orgulho em
posição de sentido e com os dedos firmes na continência que sempre fez com
garbo. O Padre Otoniel foi até o centro da ferradura. Valencio notou que todos
choravam. Por quê? Chora-se também no cerimonial de bandeira? Ouviu uma forte
palma escoteira... Riu... Sempre uma pipoca no final. Rsss. Foi até sua
Patrulha, Liminha estava à frente segurando firme o Totem da Leão. Liminha era
seu Sub Monitor. Gostava dele, leal, amigo e sincero em suas palavras e ações.
Padre
Otoniel rezou um Pai Nosso acompanhado por todos. Também orei. Gostava de orar
afinal era o coroinha preferido pelo Padre Otoniel. Colocaram uma mesinha de
armar próximo ao mastro. Vi que ali estava à bandeira do Brasil após o
arreamento. Ora... Cheguei atrasado? Eu nunca chegava. Iria pedir desculpas ao
Chefe Otoniel. Uma caixinha pequena de madeira envolta em um feltro verde
guardava algum tesouro. Olhou para o Chefe Otoniel com uma sombra de dúvida.
Pensou em perguntar ao Chefe Nonato, mas ele estava distante.
O
Comissário Montserrat tomou a frente da cerimônia. O que seria? Ah Valencio! Quanta
coisa você perdeu nestes dias de escuridão. Surpresa! Pai Matias e mãe Tainá
estavam ali. Por quê? Eles quase não iam ao Grupo Escoteiro. O Comissário Montserrat
começou a discursar. Ele riu. O comissário gostava muito de fazer discurso. Uma
vez no desfile de Sete de Setembro ele pediu ao prefeito e ficou quase quarenta
minutos falando sobre escotismo. Rsss. Eita comissário danado. Notou que sua
mãe e seu pai estavam chorando. Ficou triste... Muito triste!
Falavam
sobre ele disso tinha certeza. Falaram que era um herói. Que seria lembrado por
toda vida como um exemplo de menino escoteiro. Que seu feito iria marcar o Grupo
Sol Nascente para sempre. Ele olhou de soslaio. A tropa chorava. Tito Lontra
foi até a frente e com os olhos rasos d’água contou sua história. Contou que só
não morreu porque eu o salvei. Ora só porque o tirei da ribanceira do Serrado
do onça? Não fiz mais que minha obrigação. Totonho chorava. Fui até ele
querendo abraçá-lo e não consegui. Disse para ele que não fiz mais que minha
obrigação!
Tiraram
da caixa uma medalha. Chefe Otoniel disse que era uma medalha de valor ouro e
que eu receberia pós mortem. Uai! Logo eu? Não fiz nada só puxei Tito Lontra
para não cair na ribanceira. Chamaram Papai e mamãe. Entregaram a eles a medalha
de Valor. Era minha? Impossível! Eu estava vivo ali no meio deles... Uma luz
brilhante apareceu no céu, um caminho se fez, alguém colocou a medalha no um peito,
olhei-a com respeito... Estava de uniforme, parti na estrada brilhante levado
pelas mãos do Chefe Nonato...
Nota
– Alguém um dia disse que não gostava de meus contos com temas espíritas. Disse
que era coisa do diabo. Risos. Porque esconder o que acredito? Gostem ou não
minhas publicações sempre terão alguma pitada espiritual. Deus está presente
onde houver amor, paz e boas obras.
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