Lendas
escoteiras.
Entre dois
amores.
Zé Rosa casou com Noêmia.
Zé Rosa tinha vinte anos. Noêmia 65 anos. Durante muitos anos ninguém entendeu
o motivo do casamento. Amor? Paixão? Dinheiro? Pelo que sabia Noêmia trabalhava
no Hospital Samaritano como faxineira. Poderia ter sido aposentada, mas não
quis. A tropa não perguntou. Os monitores se calaram. Zé Rosa não comentou com
seus escoteiros. Quando souberam foi um verdadeiro silêncio... Não bochicho...
Zé Rosa trabalhava duro
na sua bigorna. Um calor insuportável. Zé Rosa era Ferreiro. Uma profissão que
é um misto de artesão e artífice metalúrgico. Dizem que é uma profissão
milenar, serviu aos reis, rainhas, cavaleiros, agricultores e outros
profissionais nobres ou não. Aprendeu com seu pai, que aprendeu com seu avô que
aprendeu com seu bisavô... Com seu tataravô... Que nasceu na Alemanha em 1846
com o nome de Guilherme Eugênio Augusto Jorge, nunca foi um Ferreiro. Era um
nobre alemão e oficial no exército de Wurttemberg.
Seu filho Lothar
resolveu abandonar toda a vetusta família que odiava. Pegou um Barco pesqueiro
e cinco anos depois aportou em Santa Cruz da Cabrália onde morreu em 1904. Seu
filho mudou para São Paulo e se tornou não se sabe como um Ferreiro que ensinou
ao seu filho, que ensinou ao seu neto, que ensinou ao seu bisneto... No bairro
de São Gonçalo, bem afastado do centro da capital, Zé Rosa nasceu e ali viveu
toda sua vida. Seu pai ainda resguardava a nobreza o que não aconteceu com Zé
Rosa. Não conheceu sua mãe que tinha morrido quando ele nasceu.
Zé Rosa perdeu o pai
novo ainda, mas sobreviveu com a Ferraria que seu pai lhe deixou como herança.
Não ficou rico e nem pobre. Trabalhava de sol a sol e aos sábados e domingos
fazia questão de acampar com seus escoteiros. Falava pouco não era de muita
erudição e Jim Cortês o Monitor o salvava quando era necessário conversar com
os pais dos novatos... Quase não acontecia, não havia vagas disponíveis. A
tropa acostumou ao seu estilo e passou a ter nele um exemplo de vida.
Zé Rosa era um homem de
palavra, não tinha bigodes, mas tinha honra e caráter de sobra. Foi em um
acampamento quando todos foram dormir que Zé Rosa teve um sonho. Seu Avô lhe
disse para casar com Noêmia. Disse que ela sempre foi a patriarca da família e
nesta vida estava sozinha sem ninguém. Zé Rosa não entendeu o sonho, não
conhecia nenhuma Noêmia. Dois meses depois se inscreveu em um Curso Escoteiro.
Queria aprender melhor sobre nós e amarras e técnicas mateiras. No curso
conheceu Noêmia que fazia a faxina no campo escola durante os cursos.
Cabisbaixo não sabia o
que dizer e nem perguntou. Zé Rosa só foi saber que era sua predestinada quando
no final do curso fizeram a Cadeia da Fraternidade. Ao cantar a Canção da
Despedida, Noêmia convidada pelo diretor do curso lhe deu as mãos e ele sentiu dentro
de seu coração o aviso do seu Avô. Ela era sua predestinada. Mas havia um,
porém, ela tinha 63 anos quando se conheceram. Ele dezoito.
Ela lhe deu seu
endereço e ele fez o mesmo. Encontraram-se um mês depois na Avenida Rebouças em
frente ao Bar do Dentinho. Sentaram, tomaram refrigerantes e comeram azeitonas
pretas e verdes. Não falaram nada. Encontraram-se de novo uma semana depois
quando ela lhe fez uma visita durante a reunião escoteira do Sábado de Aleluia.
Ele não apresentou Noêmia à tropa e ela nem entendeu sua presença. Casaram-se
um mês depois.
Foi um verdadeiro disse
me disse, conversa de comadres e até os escoteiros da tropa de Zé Rosa ficaram
perplexo com tudo. Seus pais aconselharam a sair da tropa, mas ninguém aceitou.
Noêmia não foi mais a reunião dos escoteiros. As Corte de Honra eram feitas em
sua casa, mas ela se retirava para seu quarto. A tropa acostumou. Zé Rosa não
mudou seu estilo. Trabalhava de sol a sol e nos fins de semana ia acampar com
sua tropa.
Noêmia morreu quatro
anos depois e Zé Rosa nunca mais se casou. Em um acampamento no Vale dos Pombos
após todos irem dormir Zé Rosa ficou em volta do fogo e sentiu uma presença
estranha junto dele. Viu que era Noêmia com seu pai e seu avô. Ninguém falou
nada. Abraçaram-se, Zé Rosa beijou Noêmia que era uma linda moça de olhos
negros e cabeços longos soltos em cima dos ombros. Ficaram ali de mãos dada, e
olhava para seu pai e seu avô sem entender. Eles se foram e Zé Rosa ficou
sozinho em volta do fogo.
Zé Rosa morreu quarenta
anos depois. Jim Cortês que era seu Assistente fez um enterro decente, mas com
poucos presentes. Ninguém explicou ninguém soube o porquê, mas caiu na Praça
São Joaquim durante três dias uma chuvinha fria que chamava atenção de todos,
pois só caia em um só lugar próximo ao coreto. Dizem não posso afirmar que foi
nesta chuvinha que se reuniu toda a família de Zé Rosa, e o próprio Eugênio seu
Tataravô em pose de gala em um cavalo baio sorriu para a família levando no
dorso Noêmia que fora sua rainha quando assumiu com a Morte de Lions de Bragança
como o Rei Guilherme II de Wurttemberg!
Nota – Apenas uma
história meia sem nexo. Porque Zé Rosa casou com Noêmia? Se ela era mais velha
que ele que tipo de amor poderia surgir? Dizem alguns que Noêmia foi uma bela
princesa austríaca que amava o Rei Guilherme e que ele nunca se casou com ela.
Verdade ou não Zé Rosa continuou como Chefe escoteiro sem nunca mais se
casar... Até que...
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