Saudosas conversas ao pé do fogo.
Chefe! Eu queria tanto ir!
Nem sempre
temos a solução. Eu já tentei às vezes, mas me faltaram forças. Mesmo dedicando
meu tempo e quem sabe meu soldo não pôde atender a todos. Dizem que alguns
chefes melhores preparados que eu conseguem ajuda e levam todos. Faz tempo
muito tempo, estava acampados em um lindo local, nascentes, florestas, bambus e
um belo lago que fazia a beleza do lugar.
Costumava fazer em frente a minha barraca uma
fogueira, levava batatas bananas para que todos pudessem assar e se deliciar.
Era comuns aqueles encontros noturnos onde quase todos se dirigiam para lá. Não
era obrigatório. As risadas, os cantos os papos muitas vezes nos levavam até
altas horas da noite. Tinha sempre o café do bule, algumas vezes biscoito de
maisena.
O sono chegava e aos poucos um a um ia dormir. Ficou
Tornado. Pensativo vez ou outra me dando uma olhada. Ficou comigo em volta do
fogo até altas horas. A noite estava calma, vento fresco, nem frio nem calor.
As chamas da fogueira aos poucos iam terminando. A Patrulha de Tornado e as
demais dormiam. Sabia que ele queria conversar comigo. Ponderado família
humilde esperava a hora própria para começar.
- Chefe queria tanto ir ao Jamboree! Meu pai não
pode pagar. O que devo fazer? Resposta difícil. Ingrata. Não tinha a resposta
na mão. Conversamos, tentei mostrar que um dia ele seria alguém e iria em todos
os Jamborees do mundo. Contei causos de Baden-Powell e o que ele pensava. Não
sei se ele entendeu. Conrado foi dormir. Não reclamou, não chorou. Não sei se
me fiz entender.
Fiquei sozinho em volta do fogo. Eram tantos na
tropa que tinham o mesmo sonho de Conrado. Eles sabiam que não poderiam ir.
Pensei comigo que não podia fazer nada, era um assalariado. Sonhos impossíveis?
Não sei. A vida não é fácil para ninguém. Quem sabe era uma lição para eles
aprenderem que nada cai do céu. Que a vida é difícil e renhida para viver. Às
vezes penso que ser escoteiro não é fácil, mas tem muitas maneiras para sorrir
cantar e brincar. Um Jamboree não é tudo.
Fui dormir. Gosto de dormir na barraca. Naquele dia
não sonhei. Há muitos anos que não tenho um belo sonho. Hoje eles os meninos
daquele tempo se tornaram homens feitos. Pais de família. Filhos e brevemente
terão netos. O que fizeram daquele sonho de uma noite de luar, cantantes na
fogueira, sonhos que não se realizaram daqueles belos dias da infância
acampados em um lugar qualquer?
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