Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Histórias que os escoteiros não contaram.
Tomé o cozinheiro.
Tomé
tinha 12 anos quando se inscreveu na Tropa Caiapó. Franzino, aparência ingênua,
sorriso calmo e olhos negros profundos tentando interagir, mas sempre de cabeça
baixa. Segurava na mão de seu pai quando este foi com ele inscrevê-lo no Grupo
Escoteiro. Falava pouco, parecia sempre estar sonhando. Quando foi apresentado
a Patrulha Corvo, sorriu como se estivesse sendo premiado com um sonho de
muitos anos. Sabia dizer sim senhor e quando o Monitor o chamava, ele dizia Sim
Senhor! Monitor! Livramento sorria com seu estilo ingênuo, mas como bom Monitor
tomou para si o preparar para as dificuldades da vida.
Três
meses depois Tomé disse a Livramento que estava preparado para a promessa. Era
seu sonho. Sonho de mostrar que a Lei seria por ele observada com rigor. Chefe
Adauto muitas vezes perguntou a Livramento como andava o escoteiro Tomé. Sorria
pela simplicidade com que seu Monitor lhe contava. Dizem que é difícil
descrever escoteiros e lobos quando fazem a promessa, principalmente se ficaram
sonhando por meses a espera desse dia. Tomé não sabia se sorria e ou se
chorava. Tremia em posição de sentido, mas fez questão de dizer a promessa por
inteiro sem repetir.
-
Livramento, eu quero tirar a segunda classe, disse Tomé uma semana depois de
sua promessa. Claro que Livramento o incentivou e disse para ele escolher três
especialidades para ser entregue junto com o distintivo. Não vamos aqui
descrever todo o contentamento de Tomé e nem de suas outras escolhas. Quando o
Chefe Adauto me contou sobre a prova de especialidade de Tomé, me veio à
memória quantas e quantas especialidades eu tirei e quantas foram motivas de
regozijo e satisfação. Outros pais ficaram encarregados das outras
especialidades, mas O Chefe Adauto se encarregou da de Cozinheiro.
-
Gente! Como Tomé se dedicou a essa especialidade. Foi Livramento quem disse
para ele sobre ela; - Tomé é uma Patrulha quem vai depender de você. Bem
alimentados sorrisos e se for mal insatisfações. Se a comida for ruim você só
ouvirá reclamações e o espírito de Patrulha vai para o brejo. Portanto aprenda
o mais que puder. Já pensou todos te elogiarem no primeiro dia? Ah! Tomé levou
a serio. Durante um mês ficou atrás de sua mãe e de sua avó para aprender. Dona
Eulália sua mãe sorria compreensiva, mas Dona Ivonete sua Avó não aguentava
mais a insistência de Tomé.
Chegou
o grande dia. Seria no acampamento nas Terras do Lontra, do Coronel Lira grande
amigo dos escoteiros. Sinfrônio a contra gosto entregou a ele a cozinha. Sabia
que era só para a prova, mas na tropa todos sabiam que tirar a especialidade de
cozinheiro não era para qualquer um. Tomé tremia no primeiro dia. Sem um bom
fogão suspenso usou algumas pedras para fazer uma trempe. Não iria fraquejar.
Chefe
Adauto narrou com lágrimas nos olhos o grande dia: - Chefe Vado, estávamos em
uma clareira da Mata do Quati e soube que Tomé se saiu bem no almoço e fui
convidado para tomar a prova de dele no jantar. Precisava estar lá Chefe, escurecia,
uma fumaça leve na mata dava um aspecto de nevoa seca junto com outra que vinha
do córrego das Pedras. Um espetáculo místico e fantástico, quando Tomé me deu
meu prato cheio de arroz, macarronada e peixe frito para eu comer e dar minha
nota na sua especialidade ele tremia.
-
Demais Chefe, demais... Seus olhos me olhavam profundamente, a testa enrugada, tremia
a Patrulha calada, todos esperando o momento final que não poderia ser outro:
Tomé foi o melhor jantar que comi até hoje em um acampamento eu disse! A
Patrulha saltou no ar gritando Anrê! Tomé me abraçou chorando e agradecendo. –
Chefe, têm salário melhor? Eu também me senti assim, contente vontade de gritar
Anrê, de dizer que tinha orgulho em estar ali com aqueles jovens que tanto
esperavam de mim...
Ah!
Histórias poderia dizer que são aquelas que os escoteiros não contaram são as
melhores. Ninguém esquece sua primeira refeição no campo, do primeiro banho, da
primeira pioneira e do primeiro fogo de conselho. Olhei para o Chefe Adauto e
dei a ele um aperto de mão, forte firme apertado, e fiquei em pé em posição de
sentido e disse: Ser escoteiro é um dos pontos mais maravilhosos que nós
adultos podemos alcançar se conseguirmos chegar à altura do jovem!
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